Comunidades e pequenos produtores querem incentivar o ciclo produtivo da carnaubeira
Jaguaruana. A terra da rede de dormir é também a terra da memória da carnaubeira. Há pouco mais de um ano e meio, a chamada "Árvore da Vida" ganhou um espaço de valorização. O Memorial da Carnaúba carrega os traços do costume do povo jaguaribano e, aos poucos, vem revitalizando sua cadeia produtiva. A iniciativa deu esperança às comunidades que vivem da árvore símbolo do Estado do Ceará.
A carnaúba é chamada de árvore da vida pela sua infinidade de funções ao homem fotos: ellen freitas
O pensar sobre o projeto surgiu da necessidade de se preservar, revitalizar e incentivar as comunidades de pequenos produtores a manter o ciclo produtivo da carnaubeira no município, que já tem fama pela produção da rede de dormir. Foi então que surgiu a Associação Cultural dos Artesãos, Artistas e Produtores Rurais de Jaguaruana (Acaap), que reuniu e organizou esses pequenos produtores. Gente que beneficiava a cera, que fazia artesanato da palha e do talo da carnaubeira, enxergou uma nova possibilidade com a associação.
Localizado no Centro da cidade, o galpão, que era utilizado no processo de armazenamento e transporte da cera no auge de sua produção, por volta dos anos 60, foi o local escolhido para a fundação do Memorial da Carnaúba, sede da Acaap, em maio de 2011. Tem à frente o pesquisador e ambientalista, Afro Negrão, e a ex-secretária de Cultura do município, Daisy Rocha. O espaço era destinado para capacitação dos produtores e centro de informações sobre o projeto. Aos poucos, com o apoio dos moradores, o local foi ganhando forma de museu, para retratar e valorizar o modo de vida da população rural.
Importância
"O Memorial foi fundado para destacarmos a importância que a carnaúba tem para a região e para todo o Estado do Ceará e para que revitalizemos essa cultura", explica Afro.
Hoje, as comunidades rurais de Sítio Velho, Jurema, Figueiredo, Tabuleiro, Alto e João Duarte ainda desenvolvem o trabalho centenário de extração da palha da carnaubeira. De forma arcaica é produzida a cera, que é vendida para atravessadores, diminuindo o lucro do produtor. Da palha, os chapéus, bolsas e esteiras são vendidos para turistas. Do talo, que antes não tinha utilidade, as comunidades transformam em móveis.
Encontros
A Accap realiza encontros e cursos com os produtores e artesãos. Os minicursos abordam temas como controle da praga conhecida como Unha do Diabo, que ataca a carnaúba; sustentabilidade; reflorestamento e extração. Também tratam da produção do artesanato da palha e do talo. São ministrados nas comunidades associadas ao projeto. "Também realizamos cursos e seminários sobre preservação ambiental e sustentabilidade nas escolas, levando a questão para além da associação", afirma Daisy.
Por meio da Secretaria do trabalho e Desenvolvimento Social do estado (STDS) e do Centro de Artesanato do Ceará (Ceart), os artesãos aprenderam a fazer móveis, tendo como base o mosaico feito do talo da carnaúba. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) deu novos tratamentos à palha, sofisticando e valorizando os produtos finais, assim como a utilização do bordado à mão nessas peças. O Sebrae-Tec disponibilizou todo apoio técnico para organização e gestão das associações que lidam com o cultivo da carnaúba.
A Associação conta com o apoio de instituições de pesquisa que apresentam novas tecnologias para a produção. "Por meio do Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec), em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (DAS), é desenvolvida uma pesquisa sobre a implantação de um secador solar, que diminui o tempo de secagem da palha e aumenta o aproveitamento do pó, em 100%", comemora Daisy. A Universidade Federal do Ceará (UFC) também é parceira em pesquisas sobre o controle de praga.
Projeto ganha reconhecimento
Jaguaruana. O Projeto ganhou reconhecimento internacional como o primeiro museu do mundo dedicado à árvore. De acordo com Daisy Rocha, a Associação é visitada por pesquisadores que querem conhecer ou aprofundar os estudos sobre a carnaubeira e suas inúmeras utilidades no dia a dia.
Recentemente, o Memorial da Carnaúba foi classificado como ponto de cultura. Fica localizado no Centro da cidade de Jaguaruana
"Neste ano, recebemos a visita de italianos que estão realizando estudos sobre a utilização do fruto para a produção de biodiesel. As amostras que eles levaram apresentaram resultados positivos", afirma.
Diagnóstico
De acordo com a articuladora, é preciso que o Estado conheça, em números, a realidade da cultura da carnaúba no Ceará. Para isso, o primeiro passo será realizar um diagnóstico da carnaúba, que dará dados específicos sobre a produção.
Além disso, dentre as prioridades da Associação para o ano de 2013, está a criação da Cooperativa do Vale do Jaguaribe. O objetivo é trabalhar para o beneficiamento da árvore e a implantação do secador solar na produção, por meio de financiamentos. Também serão instalados cinco memoriais em cidades de outras regiões e na Capital cearense. Recentemente, o Memorial da Carnaúba foi classificado como ponto de cultura.
Utilização
A cera da carnaúba é utilizada adicionalmente em doces, polimentos, vernizes, produtos de cosméticos e muitos outros. A palha pode ser utilizada para fins agrícolas e artesanais. O talo também pode ser usado no artesanato. Recentemente, pesquisadores italianos estão obtendo resultados positivos na utilização do fruto para produção de biodiesel. Por esses motivos, diante do aproveitamento da planta, chamada-se "Árvore da vida".
Mais informações: Memorial da Carnaúba - Av. Cel. Antônio José de Freitas, 1216, Centro. Agendamento para visitação escolar. Telefone: (88) 9282.5566 / 9970.2509.fonte:DN online/camocim belo mar blo
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