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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O JOVEM DE R$ 2,9 MIL POR MÊS.


Cada adolescente interno em centros educacionais custa R$ 2,9 mil por mês ao Estado. O montante é suficiente para sustentar nove famílias beneficiadas pelo Bolsa Família
O rangido da grade de ferro, seguido do estalo seco do cadeado, descarta enganos e crava o lembrete: não importa se centro educacional ou penitenciária, se dormitório ou cela, o sol que todos os dias nasce quadrado aos 17.508 presos comuns no Ceará é o mesmo que amanhece para 973 adolescentes infratores internos em centros educacionais.













As diferenças entre os dois cenários, entretanto, são superiores às semelhanças. A começar pelo custo de cada preso comum e jovem infrator para o Estado. Por mês, o Ceará gasta até R$ 1,5 mil com um prisioneiro, segundo dados da Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus). Um adolescente em conflito com a lei, interno de um centro educacional, custa o dobro: R$ 2,9 mil. O valor equivale a mais de quatro salários mínimos, seria suficiente para beneficiar pelo menos nove famílias pelo Bolsa Família e sustenta, hoje, dois milhões de domicílios cearenses (IBGE, 2010).

Se fosse possível suprir toda a demanda de um só jovem com esse valor, não existiriam situações como a de um adolescente do Interior do Estado, interno do Centro Educacional Patativa do Assaré (Cepa), no bairro Ancuri: “Sinto muita falta da minha família. Aqui, o chato é ter que lavar os banheiros. Se a gente não limpa, não tem quem limpe”. Apreendido aos 15 anos por matar outro jovem com um tiro no peito, o garoto serpenteia entre centros educacionais há um ano e dez meses. Hoje, aos 17, trabalha na fábrica de metal mecânica da Cepa. Ele divide com outros dois jovens um dos 40 dormitórios do lugar. Com capacidade para 60 adolescentes de 17 anos, o Cepa assiste hoje 160.

O POVO conversou com o rapaz e a mãe no horário de visita da família. “Ninguém entende por que ele fez isso. Desde os seis anos, trabalhava com o pai na feira. No dia (do assassinato), eu tinha ido para uma reunião da escola e o pai estava trabalhando. Quando cheguei em casa, a vizinha me contou”, disse a mãe, chorando. Segundo ela, certa vez, a vítima havia batido no rosto do filho, mas o conselho dado a ele foi: “Deixe isso para lá”. A vontade de vingança, porém, superou a súplica da mãe.

O sentimento de raiva (des)norteou também outros dois rapazes, apreendidos por homicídio e internos do Centro Educacional Cardeal Aloísio Lorscheider (Cecal), no Planalto Ayrton Senna, que atende jovens entre 18 e 21 anos. Um deles executou a vítima com dois disparos. “Ele ficava me ameaçando, dizia que ia me matar”, justificou. O outro adolescente, que já está no sexto centro educacional, matou a vítima a machadadas. “O cara destelhou a minha casa e pegou R$ 150 da minha mãe. Era meu vizinho”. Os dois comandam a rádio Geração Livre, implantada há quase dois anos na Cecal. “O microfone é uma ferramenta ótima de persuadir que o crime não compensa”, explica o professor de arte e ofício da unidade, Aírton Lopes.
 
Prevenção
Não apenas o microfone, mas outras práticas artísticas como a dança, o cinema e a música, além dos esportes, são utilizadas - fora dos centros de cumprimento de medidas socioeducativas - como formas de prevenção à criminalidade em Fortaleza (veja quadro ao lado).

É o caso do Centro Educacional da Juventude Padre João Piamarta, que atende três mil crianças e adolescente entre 6 e 18 anos. Cada jovem interno custa R$ 349, valor oito vezes inferior ao que o Estado gasta com adolescentes em conflito com a lei. “A gente previne para que o jovem não chegue lá”, explica a assistente social do Piamarta, Emília Vasconcelos
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