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sexta-feira, 14 de junho de 2013

CONFRONTO NA CONSOLAÇÃO MARCOU PROTESTO,VEJA VÍDEOS E LEIA RELATOS.

Repórteres do G1 contam como PM barrou caminho de manifestantes.

Nesta quinta, SP viveu 4º dia de protestos contra aumento de passagens.

Do G1, em São Paulo
um confronto no início da subida da Rua da Consolação. Manifestantes deixaram a área do Theatro Municipal, passaram pela Praça da República e seguiam pela Rua da Consolação, quando, às 19h10, foram barrados por policiais na Consolação, perto da esquina com a Rua Maria Antônia (veja mapa ao final da reportagem).
Os manifestantes tentavam ir em direção à Avenida Paulista, palco dos três protestos anteriores após o aumento das tarifas de ônibus, trem e metrô, de R$ 3 para R$ 3,20, no início do mês.
A polícia argumentou que havia um acordo para a passeata não ir para a Paulista. Enquanto policiais que participavam do bloqueio conversavam com os manifestantes, outros policiais chegaram e reprimiram a manifestação, segundo relatos do jornalista Elio Gaspari (leia em "O Globo") e de três jornalistas do G1 que estavam no local.
(O G1 acompanhou em tempo real a manifestação, em fotos e vídeos: veja aqui.)
Abaixo, veja vídeos e leia os relatos dos jornalistas do G1:
Glauco Araújo
Fui atingido por algo durante a manifestação, mas estou bem. O vídeo ao lado mostra o momento em que fui atingido. Pareceu muito ruim no momento, mas agora está tudo ok.
O jornalista Glauco Araújo (Foto: G1)O jornalista Glauco Araújo, na redação do G1,
após cobrir a manifestação
A sensação de respirar e parecer não estar respirando foi aterrorizante na noite desta quinta-feira. A manifestação seguiu tranquila entre dois cartões postais da cidade de São Paulo, o Theatro Municipal e o Edifício Copan.
Um grupo de manifestantes negociava com oficiais da Polícia Militar o trajeto a ser feito a partir dali. Discutiam se o grupo poderia deixar de ir até a Avenida Paulista para seguir pela Rua Rego Freitas e retornar para a Praça da República. O diálogo durou cerca de 20 minutos até um grupo de policiais da Tropa de Choque desembarcar de uma viatura, entrar em formação, ouvir alguns comandos e seguir em disparada pela lateral da manifestação ao grito de guerra "Vamu pra massa".
Os policiais seguiram correndo pela Rua Consolação até a Rua Maria Antônia, onde decidiram disparar tiros de borracha, bombas de efeito moral e de pimenta. Eu, que acompanhava o diálogo entre manifestantes e outros policiais militares mais calmos, na Rua Amaral Gurgel, resolvi seguir a Tropa de Choque.
A reação dos manifestantes foi imediata. Alguns chutaram lixeiras de plástico e começaram a jogar contra os policiais, logo em seguida optaram por garrafas de cerveja e pedras portuguesas tiradas de calçadas da região. A coisa parecia que não era verdade, porque parecia estar calma, sob controle de ambas as partes. Engano meu. A partir daí a situação ficou caótica.
Os policiais apontaram suas armas para pedestres, moradores, jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas e também para os manifestantes. Parecia existir uma sede em disparar as armas não letais. O som ensurdecedor das bombas alertou os outros policiais mais distantes.

Logo a quantidade de policiais varrendo das ruas os manifestantes e suas faixas e cartazes ficou impressionante. Policiais de todos os batalhões, companhias e grupamentos apareceram. Eu fiquei praticamente no meio do fogo cruzado. Uma bomba de efeito moral explodiu bem perto dos meus pés, me afastei e procurei abrigo na calçada. Não adiantou muito, pois o efeito da bomba de pimenta já tinha começado a fazer efeito. Fiquei atordoado, zonzo, sem conseguir respirar ou pedir ajuda. Foi quanto fui atingido por algo na cintura.
O primeiro medo foi o de ser bala de borracha, logo em seguida, pensei que poderia ter sido atingido por estilhaço de bomba ou pedrada. Como estava desnorteado, só percebi que um fotógrafo –que não conheço, mas gostaria de registrar aqui meu profundo agradecimento– me puxou pela mochila e me ajudou a me abrigar bem na frente de um chaveiro.
Sentei no chão gemendo de dor ainda sem entender o que tinha me atingido. Felizmente não foi nada grave, mas o efeito psicológico diante do cenário de guerra e o som interminável de bombas é muito forte. Mesmo eu já tendo feito inúmeras coberturas conflituosas, tiroteios e rebeliões em 18 anos de profissão. Até mesmo o gás de pimenta que respirei desta vez parecia imensamente mais forte do que o que já respirei em outras coberturas. Enquanto não conseguia respirar e ainda sentia a dor do impacto na barriga só pensei em três coisas. A primeira foi conseguir continuar a registrar o que estava acontecendo para o G1. A outra foi o meu casamento no civil, que será no próximo sábado, 15. Para terminar, pensei na minha sobrinha, que completou 14 anos nesta quinta-feira e eu ainda não tinha conseguido parabenizá-la. Fiz isso assim que a Rua Consolação voltou a fluir.
Ana Carolina Moreno
O quarto ato contra o aumento da tarifa do transporte público ganhou um novo grito de ordem: "Não à violência" foi das frases mais ouvidas. Ela se juntou aos mais célebres refrões que convidavam a população a aderir ao protesto, chamavam a tarifa de R$ 3,20 de assalto e reiteravam a força da união do povo. Funcionários públicos, ex-militantes do movimento estudantil, pais de família, adolescentes que fazem cursinho particular ou popular, militantes de praticamente todos os partidos de esquerda, inclusive os que compõem o governo municipal, trabalhadores da região central que decidiram ver o ato de perto pela primeira vez. Todos eles condenavam o "quebra-quebra" de manifestantes, mas também a repressão da polícia, que eles consideravam excessiva.
Entre o Theatro Municipal e a Rua da Consolação, o clima era de satisfação geral pelo andamento do grupo. Até então, a única notícia sobre a polícia eu recebia pelo telefone: colegas da redação alertavam que jornalistas estavam sendo revistados. Quem era pego com vinagre, líquido que mitiga os efeitos nocivos do gás lacrimogêneo, acabava preso. Logo me livrei da pequena garrafa com o líquido que tinha comigo.
A manifestação seguiu tranquila até a Rua Maria Antonia, onde estava o primeiro bloqueio policial. Com um veículo e alguns policiais no sentido Centro, a PM indicava que não permitiria que o ato avançasse nos dois sentidos. Por isso, um grupo de manifestantes criou um cordão para dirigir todos ao sentido Paulista.
Enquanto isso acontecia, o comandante da operação se reuniu com o presidente municipal do PSOL, Maurício Costa, em frente a um posto de gasolina, na esquina das duas ruas. Na frente de dezenas de jornalistas, eu entre eles, os dois discutiram o itinerário do protesto e ressaltavam, de ambos os lados, o caráter pacifico da manifestação. O comandante, que ouviu a proposta do PSOL, mas pediu para ouvir um dos membros do movimento que convoca os atos, chegou a afirmar que o grupo estava "de parabéns". Eram cerca de 19h10.
A confusão que dispersaria o protesto começou momentos depois da fala do policial que chefiava a operação. Em seguida, um homem à minha esquerda chamou a atenção de todos para uma briga havia começado do lado oposto da Rua da Consolação. Era impossível ver o que exatamente ocorria, mas segundos depois todos nós ouvimos o barulho de que a paz havia acabado: era a primeira bomba de gás lacrimogêneo.
Entre arrumar um espaço seguro para registrar os fatos e colocar a minha máscara de proteção, acabei encurralada entre as muitas dezenas de pessoas em um posto de gasolina. Tentávamos chegar à Maria Antônia para fugir do gás, que rapidamente se espalhava pelos olhos e garganta. Quem tinha vinagre ajudou a molhar máscaras, lenços e mangas de casacos. Um carro estacionado no posto impedia o avanço da multidão, e por pouco não houve pisoteamentos.
Decidida a achar outra rota de fuga, tentei mudar de rumo, mas um garoto me impediu. “Tem uma bomba logo ali, vai estourar, vamos.” Com dificuldade, fomos, sem olhar para trás, mas tremendo sempre que ouvíamos o barulho alto e grave da bomba de gás, ou os mais frequentes e curtos sons que indicavam uma bala de borracha atirada em nossa direção.
A partir daí, o ato se transformou em uma caça de policiais a manifestantes pelas ruas da Bela Vista, Consolação, Higienópolis e Pacaembu pelas quatro horas seguintes. Enquanto a maioria tentava escapar dos efeitos do gás, alguns tentavam resistir com barricadas de lixo incendiado e pedras.
Tahiane Stochero
Quando a PM bloqueou o acesso dos manifestantes à Consolação, eu estava próximo à rua Maria Antônia junto com os últimos integrantes. Comecei a ver dezenas de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo vindo em minha direção e as pessoas correndo desesperadas, gritando “corre, corre” para os dois lados do Viaduto Costa e Silva, o Minhocão.
A Tropa de Choque encurralou os últimos manifestantes naquele local e eu fiquei entre eles. As bombas de gás lacrimogêneo em grande quantidade assustaram. Eu corri e me juntei e um grupo de garotas que estava junto a uma parede. Chorei muito e não conseguia respirar de tanto gás. Sim, achei que ia desmaiar e morrer ali. A PM abusou do gás, muita gente passou mal. O que me salvou foi o vinagre, que uma colega recomendou.
A PM avançou e não sabia mais o que fazer. Fiquei encurralada e não sabia para onde correr. Me juntei a outras duas garotas e esperei a PM passar, bloqueando os dois lados da via.
Só então, no meio dos dois bloqueios policiais, cerca de 20 minutos depois do início das bombas de gás, consegui respirar melhor. Perguntei para um deles: "Para onde eu posso ir para ficar em segurança?". O PM respondeu: "Em segurança? Não devia ter vindo".
Mapa protestos SP 0h (Foto: Arte/G1)

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