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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

PAPEL DA MÍDIA NA POLÍTICA É ALVO DE CRÍTICAS APÓS ATENTADOS CONTRA DEMOCRACIA.

Por Redação - do Rio de Janeiro e São Paulo

A manifestação que "lacrou" a Rede Globo transcorreu pacificamente
Há mais de um ano, manifestantes já protestavam contra a ação da mídia conservadora e em defesa da democracia brasileira
No amanhecer desta segunda-feira, com o resultado das urnas já consolidado, a sociedade brasileira estará diante da realidade construída no processo democrático, com o Congresso mais conservador dos últimos 40 anos, fruto da sementeira de ódio que apodreceu na mídiaconservadora. Ainda na tentativa de curar os ferimentos causados por uma das campanhas mais selvagens dos últimos embates eleitorais, caberá à sociedade civil questionar – de uma vez por todas – o papel dos veículos de comunicação ligados ao capital internacional, no horizonte político brasileiro e, segundo jornalistas experimentados reproduzem em suas colunas, nesta sexta-feira, encontrar uma forma de reparar os danos causados à democracia pela série de atentados cometidos.
O último deles, com autoria reivindicada pela revista semanal de ultradireita Veja, para o ex-diretor da publicação Paulo Moreira Leite, em seu blog, “expressa uma tradição vergonhosa pela finalidade política, antidemocrática pela substância”. Trata-se de um texto sobre supostas declarações do doleiro Alberto Yousseff, negadas por seus advogados, à revista situada na marginal do Tietê, no qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a atual presidenta da República, Dilma Rousseff, candidata à reeleição, teriam ciência da roubalheira cometida por uma quadrilha alojada na estatal Petrobras.

“Numa tradição que confirma a hipocrisia das conversas de palanque sobre alternância de poder, os escândalos eleitorais costumam ocorrer no país sempre que uma candidatura identificada com os interesses da maioria dos brasileiros ameaça ganhar uma eleição. Não tivemos ‘balas de prata’ – nome que procura dar ares românticos a manobras que são apenas sujas e vergonhosas – para impedir as duas eleições de Fernando Henrique Cardoso nem a vitória de Fernando Collor. Mas tivemos tentativas de golpes midiáticos na denúncia de uma ex-namorada de Lula em 1989; no terror financeiro contra Lula em 2002; na divulgação ilegal de imagens de reais e dólares clandestinos dos aloprados; e numa denúncia na véspera da votação, em 2010, para tentar comprometer Dilma Rousseff com dossiês sobre adversários do governo”, lembra o jornalista.
Neste ano, com a candidata Dilma Rousseff à frente nas pesquisas eleitorais, a revista de tendências fascistas chega às bancas, antecipadamente, com uma acusação de última hora contra a presidenta e contra Lula, que comentou com o jornalista:
– Veja é a maior fábrica de mentiras do mundo. Assim como a Disney produz diversão para as crianças, a Veja produz mentiras. Os brinquedos da Disney querem produzir sonhos. As mentiras da Veja querem produzir ódio.
“Para você ter uma ideia do nível da barbaridade, basta saber que, logo no início, admite-se que só muito mais tarde, através de uma investigação completa, que ninguém sabe quando irá ocorrer, se irá ocorrer, nem quando irá terminar, ‘se poderá ter certeza jurídica de que as pessoas acusadas são culpadas’. Não é só. Também se admite que Yousseff “não apresentou provas do que disse”, segue Moreira Leite. “Não se ouviu o outro lado com a atenção devida, nem se considerou os argumentos contrários com o cuidado indispensável numa investigação isenta. O que se quer é corromper a eleição, através de um escândalo sob encomenda, uma farsa óbvia e mal ensaiada. Insinua o que não pode dizer, fala o que não pode demonstrar, afirma o que não conferiu nem pode comprovar”.
Ainda segundo o autor, apenas “o mais descarado interesse pelos serviços políticos-eleitorais que poderia prestar na campanha presidencial permitiu a recuperação de um personagem como Alberto Yousseff. Recapitulando: há uma década ele traiu um acordo de delação premiada numa investigação sobre crimes financeiros, e jamais poderia ter sido levado a sério em qualquer repartição policial, muito menos numa redação de jornalistas, antes que cada uma de suas frases, cada parágrafo, cada palavra, fosse submetida a um trabalho demorado de investigação. Até lá, deveria ser colocada sob suspeita. Mas não. Um depoimento feito há 48 horas, contestado pelo advogado, por um cidadão que não é conhecido por falar a verdade, virou capa de revista. Que piada”.
“Essas distorções oportunistas cobram um preço alto para a soberania popular. Não há almoço grátis — também na política (…). A imprensa erra e fabrica erros sem risco algum, o que só estimula uma postura arrogância e desprezo pelos direitos do eleitor. Imagine você que hoje, quando a própria revista admite que publicou uma denúncia que não pode provar, é possível encontrar colunistas que já falam em impeachment de Dilma. Está na cara que eles já perderam a esperança de eleger Aécio”, acrescentou.
Este comportamento da mídia, segundo o jornalista, “prepara o caminho de sua destruição na forma que existe hoje. Como se não bastassem os números vergonhosos do Manchetômetro, que demonstram uma postura parcial e tendenciosa, o golpe da semana só fará aumentar o número de cidadãos e de instituições convencidos de que a sobrevivência da democracia brasileira depende, entre outras coisas, que se cumpra a legislação que regula o funcionamento da mídia. Está claro que este será um debate urgente a partir de 2015″.
Pilantra
O coordenador nacional do Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé, jornalista Altamiro Borges, também lembra, em seu blog, que “Alberto Youssef, que está preso desde março – há mais de seis meses, portanto – chega a quatro dias da eleição, para o seu milésimo interrogatório na Polícia Federal – que parece, aliás, uma instituição dirigida pela Editora Abril – e, sem mais nem porque, faz-se-lhe uma pergunta extremamente precisa: qual era o ‘nível de comprometimento de autoridades no esquema de corrupção na Petrobras’. E o doleiro, ‘um bandido profissional’ como o define o juiz Sérgio Moro – diz, sem mais circunstâncias: ‘O Planalto sabia de tudo’.
– Quem no Planalto? – pergunta o delegado e ele:
– Lula e Dilma!
“Que primor! Que pérola de jornalismo, que espetáculo de responsabilidade! Nem o advogado do doleiro, íntimo dos tucanos, confirma a história e diz que ninguém de sua equipe ouviu Youssef dizer isso. O curioso é que Fábio Barbosa, presidente da empresa que edita a Veja esteve sentado na cadeira de Conselheiro de Administração da Petrobrás durante quase todo o tempo (2003 e 2011) em que Paulo Roberto Costa foi diretor e apresentou-lhe contas, e não sabia de nada. Um pilantra de quinta categoria, várias vezes condenado – e agora, ao que parece, destinado a ser absolvido de tudo, inclusive da lavagem de dinheiro de drogas, como foi, esta semana – diz, está dito”, acrescentou Braga.
“E o nosso ministro Dias Tóffoli, pobre alma simplória, vai promovendo reuniões para os candidatos não se atacarem na campanha… E se, por acaso, o TSE condena a Veja a dar direito de resposta a quem a acusa, acorre, pressuroso, o Ministro Gilmar Mendes para derrubar a decisão e dizer: não, não, viva a liberdade de imprensa… Vivemos num país onde a mídia pratica, impune, banditismo, não jornalismo. E isso, infelizmente, ao contrário da brincadeira com a capa da Veja, não é piada”, pontua.
Ódio da direita
Com as últimas pesquisas Datafolha e Ibope mostrando o avanço de Dilma Rousseff na reta final, o desespero ataca os simpatizantes da candidatura de direita. Dilma abriu uma vantagem entre 6 e 8 pontos: 54% x 46% (Ibope) ou 53% x 47% (Datafolha). Para o jornalista Rodrigo Vianna, em seu blog, “a perspectiva da derrota deixa o aparato conservador ainda mais ouriçado. O ódio não brotou da terra. Foi insuflado por colunistas insanos, comentaristas gagos, ex-cineastas e ex-roqueiros apopléticos, blogueiros dementes, revistas da marginal e marginais de revista. Todos eles sob o comando da Globo“.
“Pelas redes sociais, surgem (dos núcleos duros do tucanato) propostas de impeachment de Dilma. Nessa reta final, os conservadores (apopléticos com o avanço de Dilma) promoveram um baile de bruxas na avenida Faria Lima, esparramando ódio pelas sarjetas do luxuoso shopping Iguatemi em São Paulo”, acrescenta.
Ainda segundo Vianna, “embalado nessa onda, em São Paulo e no sul surge um lamentável discurso contra ‘pobres’, ‘favelados’, ‘nordestinos’ – toda essa ‘raça’ que ‘gosta de votar no PT’. A soma do ódio com a arrogância elitista desemboca agora num ensaio golpista. A oposição brasileira prepara um discurso muito parecido ao discurso da oposição venezuelana: ‘acabou’, ‘fora’, ‘não aguentamos mais’. Não é um discurso de quem pretenda conviver dentro da ordem democrática. Mas de quem flerta com o golpe e a desestabilização. Essa elite perversa tentou envergonhar o Brasil na Copa. Perdeu! Tentou incendiar o Brasil nas eleições. Vai perder!”, prevê.
Segundo o jornalista, porém, “é preciso estabelecer pontes e diálogo. Nem todo eleitor de Aécio é preconceituoso. Ouso dizer que a maioria não é. Mas o núcleo duro do tucanato e da oposição aposta no ódio. (…) A onda conservadora será derrotada nas urnas. Precisamos agora derrotá-la também na sociedade”, conclui.
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