fonte:BBC Brasil/CBM
Em apenas uma noite, a de 2 para 3 de dezembro de 1984, um vazamento em um tanque de armazenamento subterrâneo de uma fábrica de pesticidas na Índia lançou ao ar 40 toneladas do gás isocianato de metila e causou o mais grave acidente industrial da história.
Em questão de poucas horas, uma nuvem letal dispersou-se sobre a densamente povoada cidade de Bhopal, com 900 mil habitantes, matando mais de 8 mil pessoas.
Y.P. Gokhale, diretor da fábrica, a americana Union Carbide, disse na época que o gás tinha escapado quando uma válvula no tanque quebrou, sob pressão.
Meio milhão de pessoas foram expostas ao gás. As doenças crônicas geradas pelo contato com a substância deixaram um assombroso legado para gerações futuras.
Mas como o desastre se desenrolou na noite fatal de 3 de dezembro de 1984? Veja abaixo a sequência dos trágicos acontecimentos daquela noite.
Meia-Noite
A cidade de Bhopal estava dormindo. Era como qualquer outra noite para os moradores que viviam no aglomerado de casas ao longo da fronteira da fábrica da Union Carbide.
A fábrica foi construída em 1969 para a produção de agrotóxicos que contêm um produto químico altamente perigoso - o isocianato de metila.
As favelas construídas junto à fábrica abrigavam muita gente. Milhares de pessoas viviam nas proximidades da antiga cidade de Bhopal.
Cerca de 1h
Alguns moradores próximos à fábrica foram os primeiros a notar um cheiro nocivo - e seus olhos começaram a arder.
Alguns disseram que "parecia que alguém estava queimando um monte de pimenta''.
O cheiro ficou ainda pior e mais forte. As pessoas logo começaram a se queixar de falta de ar e a vomitar.
Caos e pânico eclodiram na cidade e áreas vizinhas. Dezenas de milhares de pessoas tentaram escapar.
"As pessoas começaram a cair no chão, espumando pela boca. Muitos não podiam abrir os olhos", contou à BBC a moradora Hasira Bi.
''Acordei por volta da meia-noite. As pessoas estavam na rua vestindo o que usavam para dormir, algumas apenas em suas roupas de baixo."
Multidões de pessoas aterrorizadas começaram a fugir e inalaram mais gás.
"O gás venenoso era mais pesado que o ar, por isso, quando vazou, estabeleceu-se em uma nuvem densa que moveu-se silenciosamente pelos bairros pobres ao redor da fábrica", disse Swaraj Puri, chefe da polícia de Bhopal na época, em entrevista à BBC em 2009, recordando a noite fatídica.
02h30
A sirene da usina soou. "Gás está vazando da usina", gritavam pessoas nas ruas de Bophal.
"Nós estávamos tendo asfixia e os nossos olhos queimavam, mal podíamos ver a estrada em meio à neblina, as sirenes eram estridentes, não se sabia qual o caminho a ser seguido. Todo mundo estava muito confuso", disse à BBC Ahmed Khan, morador de Bhopal, pouco após o desastre em 1984.
"As mães não sabiam que filhos tinham morrido, crianças não sabiam que mães tinham morrido e homens não sabiam que tinham perdido suas famílias."
O correspondente da BBC Mark Tulley relata que o "hospital principal da cidade estava irremediavelmente superlotado, com pacientes que não paravam de chegar".
"Milhares de gatos mortos, cães, vacas e aves estavam espalhados pelas ruas e os necrotérios da cidade foram enchendo rapidamente".
04h00
Swaraj Puri, ex-chefe de polícia de Bhopal, disse à BBC que, ao amanhecer, "coube a mim e aos meus homens começar a recolher os corpos. Havia mortos em quase todos os lugares".
"Minha reação foi 'Oh meu Deus! O que é isso? O que aconteceu?' Nós ficamos chocados, não sabíamos como reagir."
O número de mortos continuou subindo rápido. Em 72 horas, mais de 8 mil pessoas tinham morrido. Outros milhares morreram nos meses seguintes.
O governo declarou que 5.295 morreram no desastre, mas ativistas falam em mais de 20 mil vítimas fatais.
Ambientalistas dizem que a toxina vazada ainda contamina o solo e as águas subterrâneas. Mas o governo do Estado nega, insistindo que o abastecimento de água ao redor da planta é seguro.
Ativistas e grupos de apoio às vítimas alegaram mais de 150 mil sofreram sequelas e contraíram doenças como câncer, cegueira, danos no fígado e nos rins após a contaminação.
Eles têm publicado relatos que mostram que Bhopal tem uma incomum - e alta - incidência de crianças com problemas congênitos e deficiência de crescimento, assim como tipos de câncer e outras doenças crônicas.
O local da antiga fábrica de pesticidas está agora abandonado. O governo do Estado de Madhya Pradesh assumiu o controle sobre a instalação em 1998.
Nenhum funcionário de primeiro nível da Union Carbide foi julgado sobre o que aconteceu em Bhopal.
O ex-presidente da Union Carbide Warren Anderson foi preso pela polícia indiana durante uma visita à fábrica após o desastre, mas mais tarde foi libertado sob fiança e prontamente deixou o país.
Ele foi oficialmente classificado como "fugitivo", mas o governo indiano jamais seriamente pressionou por sua extradição dos Estados Unidos. Anderson morreu em setembro passado.
Como representante legal dos sobreviventes, o governo indiano pediu por US$ 3,3 bilhões (R$ 8,4 bilhões) em compensação, mas em um acordo na Justiça, a empresa concordou em pagar US$ 470 milhões, o que os ativistas consideram totalmente inadequado.https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2556864432713944326#editor/target=post;postID=3337926626492730798
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