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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

ONDE HOUVER ÓDIO QUE EU LEVE O AMOR.

Pastoral carcerária. O julgamento cede à compaixão, princípio humanitário que toca as profundezas do ser e conjuga o amor


Tão difícil quanto definir o amor é conjugá-lo. Porque amar implica colocar o amor em prática e em provação inúmeras vezes. Amar é uma exigência da vida, é uma doação sem ressalvas, é o perdão realizado. Ultrapassa preconceitos e vai além do entendimento. Esta narrativa sobre amar é elaborada por três mulheres que conjugam o amor onde confinaram o ódio.

Irmã Gabriela Pinna, 68, e irmã Maria Antônia Pereira Silva, 33, da Congregação das Irmãs da Redenção, e Regina Pereira, 53, integram a Pastoral Carcerária do Ceará. “É uma Pastoral desafiadora e, por todos os desafios, é um amor que não tem tamanho”, extrai Regina.

Elas atravessam “a Cidade, colocando gasolina do próprio bolso” até os presídios feminino e masculino, em Itaitinga (Região Metropolitana de Fortaleza). Este ano, iniciaram um diálogo com os presos pelos caminhos de uma justiça restaurativa das relações e da Escola de Perdão e Reconciliação (criada, na década de 1970, por um padre colombiano que se fez mediador com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Elas escutam quem matou. E, se ouvissem o “instinto ancestral”, contrapõe irmã Gabriela, seria “olho por olho. Ao mesmo tempo, quando vejo que 80% das pessoas que cometem crimes sofreram a violência desde a infância, isso me deixa confusa”.

O julgamento cede à compaixão, “princípio humanitário que está dentro de mim e me faz solidário com o outro que tem uma história de dor... Nasce a maneira de ver o outro, em mim mesmo, com outro olhar”, equilibra irmã Gabriela.

“Todos somos violentos. Se não usamos uma arma, somos violentos nas palavras que usamos, na maneira de castigar. A violência está dentro de nós”, desfia. “Somos mais iguais do que pensamos. Nosso normal é pensar que somos tão diferentes”, une irmã Antônia. Elas não defendem “o bandido”, ponderam, “são pessoas adultas que cometeram crimes e têm que se dar conta”. Tentam salvar o humano. Ao tocar “o profundo do ser”, divisam, o amor também vem à tona. “Não é levar o amor, ele está lá. Na verdade, é tirar a poeira, escavar. Fomos amontoados de violência, temos nossas diversas histórias de sofrimento”, garimpa irmã Antônia.

No amontoado do que se vive, elas vão (e conduzem) até onde poucos se dispõem a ir: ao perdão. “É mudança dentro de si. O perdão é um processo longo... É algo que exige a minha participação e a minha decisão de começar a percorrer este caminho”, traça irmã Gabriela. Com quase 20 anos de caminhadas pelos cárceres humanos, ela se apoia no entendimento necessário para seguir firme: “O amor, pra mim, é uma decisão. É algo que nasce de dentro, do profundo do ser que decide amar. Qualquer que seja a situação”.
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O POVO.

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