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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

BOLSA FAMÍLIA SUSTENTA SERTANEJOS.

ESTIAGEM
fonte:dr/cbm
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Sem preparo para conviver com as adversidades do clima semiárido, muitos sertanejos contam, apenas, com o auxílio dos programas sociais do governo para sobreviver
FOTO: ANTONIO CARLOS ALVES
Canindé/Caridade/Itatira/Paramoti A primeira grande seca do século XXI assusta até os mais antigos. Quem vivenciou as estiagens de 1953 e 1983, como Maria Gorete da Silva, de Carrapato, no município de Paramoti; Antônio Gonzaga de Medeiros, de Caridade; e Filomeno Barbosa, do Assentamento Santa Terezinha, em Itatira, acreditam que a seca dos últimos três anos pode acelerar o processo de êxodo rural, que voltou a se intensificar. Sem condições de conviver com o clima árido, os sertanejos contam, apenas, com o auxílio do programa Bolsa Família para sobreviver.
Segundo dados do Censo Demográfico 2010, entre 1970 e 2010, mais de 57 mil pessoas deixaram a zona rural. Nos quatro municípios percorridos pela reportagem do Diário do Nordeste, entre os dias 3 e 8 de dezembro, é evidente o abandono da região.
Sustento
Em Agreste Caridade, até 1970, a população rural era superior a 4 mil habitantes. Em 2010, os que moravam na zona rural não somavam 2.400 pessoas. Na mesma situação, o sítio Mulungu, na divisa de Paramoti com Pentencoste, já chegou a ser bem habitado, mas hoje está praticamente deserto.

"Tem umas quatro famílias, no máximo, morando por aqui. Ninguém aguenta essa sequidão", diz Maria do Socorro, filha de Filomeno Barbosa. Além da aposentadoria do pai, o que sustenta a casa é o pagamento da Bolsa Família: "O meu pai é que diz que vai morrer aqui".
A seca que ela considera "tirana" assusta, mas não esmorece seu Filomeno. Ele conta que já viu muitos irem embora, desistirem. "Se eu estivesse morando na rua, já estava paralítico", diz.
Abandono
Em Caridade, Antônio Gonzaga de Medeiros, 64, nasceu no campo, mas não teve como continuar no campo. Em junho do ano passado, resolveu se transferir da zona rural para a cidade. "Trabalhava na roça e morava numa casinha lá, mas estava fraco e o dono dispensou", conta o agricultor. Os fazendeiros da região, segundo ele, não contratam mais.
Na região de Carrapato, em Paramoti, Maria Gorete da Silva Dantas também sustenta a família com os R$ 160,00 que recebe da Bolsa Família. "Esse dinheiro, é o que salva meus filhos", afirma a agricultora. "A gente atravessa o mês e ainda fica por aqui, porque na cidade tudo é mais caro", acrescenta. Ela tem quatro filhos. O marido não está trabalhando. A sorte é que a família ainda tem uns 80 quilos de feijão branco, do plantio de 2011.
Seu Francisco Serafim, outro morador de Carrapato, chega já no fim da entrevista e vai logo dizendo "aqui só a sede das fazendas, e está tudo acabado". No passado, a cidade era área bem povoada.
Desemprego
Em Canindé, 13.815 famílias recebem ajuda instituída no Governo Federal. Por mês, o Bolsa Família destina ao município R$ 2.265.100.
Em Salão II, a família de dona Mirian da Rocha, 66, se divide, desde dezembro de 2011, entre o campo e a cidade. "A gente tem uma filha doente. Não dá mais pra morar no campo", conta. Com R$ 1.200,00 de duas aposentadorias, a dela e a do marido, sustenta a família.
Os dois filhos homens que ainda vivem sob sua 'proteção' não trabalham. "É com esse dinheiro que sustento essa gente toda e os animais", relata dona Mirian, sem queixas. Das oito mulheres, três que estavam na casa da cidade recebem o Bolsa Família e aguardam a entrega de uma casa própria, em um dos conjuntos populares que deverá ser construídos pelo governo federal no Município.
Um dos filhos de dona Miriam, o caçula, Abraão Tancredo, 24, explica que não há oferta de trabalho na região. A esperança, segundo ele, é a abertura de uma mineração de urânio, que deve gerar emprego na cidade de Santa Quitéria.
Antônio Carlos Alves
Colaborador

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