Lindsey Galloway
Desde a criação do Parque Yellowstone, nos Estados Unidos, em 1872, muitas das reservas naturais do mundo conseguiram salvar grandes territórios do desenvolvimento urbano.
Mas passar alguns dias percorrendo trilhas dentro de um parque nacional é bem diferente de morar perto de um.
A BBC Travel conversou com pessoas que vivem nas cidades mais próximas de cinco dos mais incríveis parques nacionais do mundo, segundo ranking da US News and World Report e da CNN.
Elas contam como é ter uma natureza exuberante em seu quintal.
Sedona e o Parque Nacional Grand Canyon, Estados Unidos
Os habitantes da pequena cidade de Sedona, no Arizona, localizada a cerca de 160 quilômetros do Grand Canyon, costumam dizer: "Deus criou o Grand Canyon, mas Ele mora em Sedona".
Sedona fica perto de outras seis reservas naturais estaduais e vários monumentos nacionais, o que faz dela "um grande polo para ecoturistas e amantes da natureza", segundo a presidente da Câmara de Comércio local, Jennifer Wesselhoff, que veio da Suíça há 15 anos.
A cidade também atrai visitantes interessados em assuntos de espiritualidade e misticismo.
"A região é famosa por seus redemoinhos, que são poderosos centros de energia cinética com um efeito profundo sobre as pessoas", afirma Wesselhoff. "Os moradores canalizam essa energia caminhando, andando de bicicleta, fazendo passeios de jipe ou apenas absorvendo as boas vibrações. As pessoas aqui são bem felizes."
O bairro de Uptown, que se espalha ao longo da estrada SR89, atrai os locais com seus charmosos bangalôs e uma variedade de restaurantes.
Para aproveitar o ar livre sem ter que pegar a estrada, os moradores costumam ir aos parques urbanos do oeste da cidade.
O estilo relaxado da cidade contrasta, porém, com seus preços. O custo de vida ali é 40% maior do que na capital do Arizona, Phoenix, e 15% maior do que na vizinha Flagstaff.
Arusha e o Parque Nacional Serengeti, Tanzânia
Apesar de os safáris em Serengeti serem o principal chamariz para quem visita Arusha, os moradores dessa cidade de médio porte se orgulham de também estarem perto da vida selvagem e da topografia única da reserva natural de Ngorongoro.
"Mas Arusha tem muito mais do que turismo", garante o britânico Jason Barry, que vive na cidade há quatro anos, onde trabalha em um lodge. "As ruas principais e secundárias estão cheias de ateliês, estúdios de artesãos, fabricantes de móveis e escritores. Caminhando por 200 metros, é possível encontrar alguém para consertar seu carro, costurar um terno para você ou até fazer o seu caixão", brinca.
Os habitantes locais são tranquilos e simpáticos. "Mas a cidade tem uma pegada de faroeste americano", admite Kent Redding, fundador da Africa Adventure Consultants, que se instalou ali há três anos, vindo dos Estados Unidos. Crimes violentos são raros, mas os moradores se preocupam com ondas de pequenos furtos.
A maioria dos estrangeiros vive fora do centro, e a expectativa é de que quase 40 mil novas casas sejam construídas nos próximos cinco anos.
"Isso vai trazer uma nova estrada, alguns shopping centers e serviços para agradar essa nova classe média", avisa Barry.
Cuzco e Machu Picchu, Peru
Machu Picchu é mais conhecida por suas maravilhas arquitetônicas do que por suas belezas naturais. Mas a região foi designada um santuário histórico pelo governo peruano e entrou para a lista de parques do ranking internacional por causa das florestas tropicais que tomam o lado oriental dos Andes.
Cuzco, localizada a 75 quilômetros de Machu Picchu, é uma base natural para as hordas inesgotáveis de visitantes.
"Assim como Nova York, Cuzco nunca dorme", define a americana Anna Dorfman, que morou quase um ano na cidade peruana e escreve suas aventuras no blog Adventures of Anna Abroad. "O fluxo constante de turistas faz a cidade ter uma vida noturna bem agitada."
Entre seus programas favoritos estavam jantar em alguma das várias pollerías(restaurantes de galeto), sair para beber no bar Mythology e dançar salsa até o amanhecer no Mama África.
O Barrio de San Blas tem uma comunidade mais artística, mas é mais caro do que demais. "Quem quiser ficar em algum lugar mais barato tem que estar disposto a subir várias escadarias a partir do centro", conta Dorfman.
A mistura de arquitetura inca e modernização é uma das mais interessantes qualidades de Cuzco, e é mais evidente nas igrejas que circundam a Plaza de Armas. "Metade da praça ainda exibe as sólidas paredes incas, enquanto a outra traz a influência da colonização espanhola", descreve a blogueira.
Banff e seu parque nacional, Canadá
Diferentemente das outras cidades nesta lista, Banff fica dentro dos limites do Parque Nacional que leva seu nome, e seus habitantes podem morar dentro do parque – se tiverem um bom motivo para isso.
"Você só pode ter uma casa aqui se também trabalhar aqui", explica Sarah Brooking, diretora da agência de turismo Tauck. "Essa exigência evita a explosão imobiliária de acomodações para férias e fins de semana."
Como resultado, muitos dos moradores locais, incluindo Brooking, vivem na cidade de Canmore, do lado de fora do parque e a 26 quilômetros de Banff.
Tanto em Banff como em Canmore, a vasta quantidade de vida selvagem nos arredores torna a natureza parte da rotina. "Aqui estamos mais preocupados em sermos atacados por onças-pardas ou ursos quando estamos voltando para casa de bicicleta ou de esqui do que em sofrermos algum assalto ou outro crime", conta Brooking.
Apesar de ter menos de 5 quilômetros quadrados de área, Banff é surpreendentemente cosmopolita. "Todo dia eu escuto pelo menos cinco idiomas sendo falados", afirma a moradora Julia LoVecchio, diretora de marketing da CHM Summer Adventures. "Pode não ser tão impressionante em uma grande capital, mas aqui no meio das Rochosas canadenses, é algo quase surreal."
Por causa do turismo, a cidade tem inúmeros cafés, bares e restaurantes para todos os bolsos. Já a acomodação é restrita – e, por isso, cara.
O preço, no entanto, compensa. "Todos os dias eu acordo de frente para essa paisagem incrível, que muda a cada estação. Moramos em um lugar para onde a maioria das pessoas vêm apenas uma vez na vida. Isso é um privilégio", diz Brooking.
Aberdeen e o Parque Nacional de Cairngorms, Escócia
A apenas 55 quilômetros do maior parque nacional da Grã-Bretanha, Aberdeen não é apenas a porta de entrada para as Highlands (Terras Altas) escocesas, mas também a terceira maior cidade deste país.
Isso dá ao local uma invejável mistura de refúgios naturais e facilidades urbanas.
"Você praticamente pode dirigir 10 minutos em qualquer direção que chegará a algum lugar com trilhas, florestas e paisagens maravilhosas", diz Lauren Babcock, americana que morou por um ano em Aberdeen e escreveu sobre a experiência no blog From Hot Dog to Haggis. "Todo mundo ali gosta de acampar, pedalar, fazer canoagem, fazer escaladas e correr ultramaratonas."
Aberdeen recentemente foi incluída entre as três cidades mais felizes da Grã-Bretanha, tendo os moradores mais satisfeitos em toda a Escócia. Muitos atribuem isso à bem-sucedida indústria petroleira local, que mantém o índice de desemprego baixo. Mas estar à beira do Mar do Norte e a apenas 55 quilômetros do parque nacional também ajuda.
As empresas do setor petroleiro e duas grandes universidades atraem um grande número de moradores estrangeiros. A cidade tem uma reputação de ser pouco simpática com visitantes ingleses, mas a verdade é que até estes acreditam que esse comportamento é uma raridade.
Enquanto a maioria das pessoas mora nos subúrbios e se desloca para trabalhar no centro, cada vez mais habitantes estão decidindo se instalar nos edifícios de granito do século 19 que tomam o centro da cidade e dão a ela seu apelido de "Cidade de Granito".
Já a parte leste de Aberdeen, com seu porto, atrai moradores por sua proximidade com as praias.
Leia a versão original desta reportagem em inglês no site BBC Travel.
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