Fernando Duarte
Os comunicados do Comitê Olímpico Internacional (COI) já não mais sinalizam pânico. Mas a um ano da Cerimônia de Abertura, o Rio ainda tem um longo caminho a percorrer na realização dos Jogos Olímpicos de 2016.
O próprio presidente da Autoridade Pública Olímpica (APO, órgão que organiza as obras), Marcelo Pedroso, admitiu, há duas semanas, durante os Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, que apenas cerca de 55% das obras para o evento estão concluídas.
Mas apesar de o COI estar mais tranquilo, o nível de preparação carioca certamente causa mais preocupação aos dirigentes do que no último ciclo olímpico.
Em julho de 2011, a última sede dos Jogos de 2012, Londres, tinha concluído 88% das obras, recebendo elogios do então líder do movimento olímpico, o belga Jacques Rogge.
Rio x Atenas
A situação do Rio, no entanto, ainda parece também distante do caso oposto. Atenas, a sede olímpica de 2004, causou grande tensão para os dirigentes do COI. Os atrasos foram tão dramáticos que, a apenas um mês do início dos Jogos, o Estádio Olímpico ainda passava por obras. O projeto grego entrou para a história como o maior exemplo negativo de organização.
Mas no ano passado, o Rio ameaçava desbancar a capital grega, quando atrasos nas obras forçaram o COI a criar uma força-tarefa para acelerar os trabalhos e motivaram uma polêmica declaração de um dos vice-presidentes da entidade, o australiano John Coates.
"É a pior preparação que já presenciei em 40 anos de experiência no esporte. A situação é crítica. Mais grave do que em Atenas", disse Coates, em abril do ano de 2014.
Desde então, a cidade conseguiu fazer progressos suficientes para que o tom mudasse. Durante uma reunião do COI em Kuala Lumpur na semana passada, o presidente da entidade, Thomas Bach, disse que o Rio "está se preparando bem", mas também alertou contra mais atrasos.
"Não há um simples segundo a perder. É bastante possível que na cerimônia de abertura nós tenhamos a chance de apertar a mão dos últimos operários terminando as obras, mas acho que todos nós ficaremos encantados com a hospitalidade e o entusiasmo dos brasileiros. Estamos confiantes que o Comitê Organizador entende os desafios que restam e que precisa trabalhar diariamente (para superá-los)", completou Bach.
Para o presidente da Autoridade Pública Olímpica, Marcelo Pedroso, o cumprimento - mesmo que entredentes - do COI é um endosso de que o Rio vive um momento positivo.
"Os projetos olímpicos de Rio e Londres são diferentes e os desafios de cada cidades são diferentes. Nós certamente não chegaremos a uma situação parecida com a de Atenas em termos de atrasos. É natural que um projeto desse porte passe por problemas".
Rio x Londres
Uma análise do projeto carioca e londrino, porém mostra diferenças significativas na preparação de algumas das chamadas "joias da coroa". O Centro Olímpico de Esportes Aquáticos, na Barra da Tijuca, onde serão realizadas as competições de natação e polo aquático, tem conclusão prevista apenas para o primeiro trimestre do ano que vem.
A instalação em Londres já estava praticamente concluída um ano antes dos Jogos de 2012 - e, na cerimônia de celebração de um ano, a piscina foi até usada em atividades promocionais.
O Estádio Olímpico João Havelange, que sediará as competições de atletismo e futebol, só deverá ficar pronto no segundo trimestre do ano que vem: inaugurado em junho de 2007, a arena teve que passar por reformas emergenciais em 2013, por causa de problemas estruturais na cobertura.
O equivalente em Londres estava concluído em março de 2011, ainda que a pista de atletismo só tenha sido instalada em outubro.
O Parque Olímpico de Londres estava praticamente concluído um ano antes dos Jogos, restando apenas o plantio de jardins e o erguimento das arenas temporárias - também estavam erguidas as instalações de mídia, em especial o Centro de Transmissões Internacionais (IBC), em inglês.
O parque já estava aberto para visitação pública em abril de 2012, dois meses antes da Cerimônia de Abertura.
No Rio, o Parque Olímpico tem apenas uma única estrutura em estado avançado de conclusão - a Arena Olímpica -, e ainda assim porque a instalação foi construída para os Jogos Pan-Americanos de 2007 e passa por adaptações.
E uma das sedes de competição, o Campo Olímpico de Golfe, tem uma competição teste marcada para novembro deste ano mas é praticamente certo de que ainda estará em obras nessa época.
'Desperdício'
Mas a diferença crucial entre as duas cidades está nas chamadas obras de mobilidade. Londres, além de se beneficiar de uma melhor estrutura de transportes, transformou Stratford, a região que concentrou as principais atividades dos Jogos de 2012, numa das áreas mais conectadas do país em termos de transporte público - e durante os jogos contou até com um serviço expresso ligando o centro de Londres ao bairro no leste da cidade.
No Rio, um recente levantamento (abril) mostrou que 89% das obras de mobilidade seguem em andamento. A mais importante delas, a Linha 4 do metrô, ligando a Zona Sul do Rio à Barra da Tijuca, só será aberta ao público em junho de 2016.
Mas o prefeito do Rio, Eduardo Paes, diz não haver "justiça" numa comparação entre as preparações londrinas e cariocas.
"Ninguém aqui está dizendo que o Rio será um lugar perfeito, mas não dá para vir aqui e comparar (a cidade) com Londres. É preciso comparar o Rio com o Rio. A cidade que foi escolhida para sediar as Olimpíadas há sete anos e a cidade que estaremos apresentando no ano que vem. E ela a será uma cidade muito mais integrada", afirmou o prefeito à BBC.
Paes argumenta que o ritmo das obras ajuda a evitar custos extras. "Eu tenho até tentado atrasar a entrega de algumas obras porque, quando você termina a construção, você precisar pagar a manutenção. Mas o COI está vendo que as coisas seguem no ritmo. Acho um desperdício de dinheiro entregar o estádio um ano antes do prazo".
O prefeito e outras autoridades brasileiras já chamaram também a atenção para a diferença de custos: os Jogos do Rio têm orçamento de R$ 38,2 bilhões, menos que os mais de R$ 50 bilhões gastos em Londres (considerada a atual cotação do real para a libra).
"Só o Estádio Olímpico de Londres custou mais que o Parque Olímpico inteiro do Rio", acrescenta Paes.
Atenas também gastou o que em números de hoje superaria a casa de R$ 50 bilhões.
O Rio também enfrenta atrasos na reforma do Aeroporto Internacional Tom Jobim; a concessionária que opera o aeroporto corre contra o tempo para cumprir o prazo de entregar um conjunto de melhorias até abril do ano que vem.
Mesmo a atrasada Atenas concluiu a tempo suas mais importantes obras de mobilidade urbana, como o novo aeroporto para a Atenas e um novo sistema de metrô, além de novas estradas e melhorias na infraestrutura de telecomunicações.
Água suja
A principal crítica enfrentada pelo Rio agora é pela falha em despoluir a Baía de Guanabara, palco das competições de vela, uma das grandes promessas da campanha para sediar os jogos.
A cidade prometeu um programa ambicioso de limpeza de 80% das águas, mas o governo do Estado já admitiu que a meta não será cumprida. A poluição também preocupa os atletas que terão de navegar nas águas da baía.
Medidas paliativas, como o uso de redes de proteção e barcos coletores, foram postas em prática, mas sua eficácia será testada pelo evento de vela preparatório entre 15 e 22 de agosto.
Na semana passada, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu nota pedindo ao COI que faça testes mais extensivos nas águas da baía como forma de analisar riscos de doenças para competidores.
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