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quinta-feira, 27 de março de 2014

MUNDO CAIPIRA NO FILME TAPETE VERMELHO.


Com o filme Tapete Vermelho, o professor de história pode debater com seus alunos as características do mundo caipira brasileiro e suas diferenças com a Modernidade.

Quinzinho (Matheus Nachtergaele) em cena do filme Tapete Vermelho* 
Quinzinho (Matheus Nachtergaele) em cena do filme Tapete Vermelho*
O filme Tapete Vermelho (2005), de Luiz Alberto M. Pereira, pode ser utilizado pelo professor de história para ilustrar as mudanças ocorridas em parte da sociedade brasileira no século XX. A temática do moderno e do arcaico, bem como do rural e do urbano, encontra no filme uma representação bem-humorada através das aventuras do personagem Quinzinho (Matheus Nachtergaele) em busca de um cinema que ainda passe um filme de Mazzaropi para que seu filho possa conhecê-lo.
O mundo caipira foi retratado no cinema brasileiro principalmente pelo ator/diretor/produtor Amácio Mazzaropi (1912-1981) durante as décadas intermediárias do século XX. Através de seu personagem Jeca Tatu, inspirado na criação literária utilizada por Monteiro Lobato para retratar pejorativamente o caipira paulista, Mazzaropi levou ao cinema o modo de vida dessa figura social, o caipira, alcançando enorme sucesso com seus 36 filmes.

Em Tapete Vermelho, Quinzinho, ao pretender levar o filho ao cinema e apresentar seu grande ídolo, proporciona uma viagem que parte do mundo rural, do mundo caipira, ao mundo urbano, demonstrando os contrastes entre os dois espaços. O filme, nesse sentido, serve como ponto de partida para o debate sobre as características do Brasil rural, que, apesar do avanço da modernidade, ainda existe, e também sobre o Brasil urbano.
Características como as formas de trabalho na roça, os hábitos cotidianos, como a pesca, a cultura popular representada na curandeira, a religião, a música e a dança ao som da viola caipira são alguns dos elementos do espaço rural que o filme mostra. Lendas folclóricas também aparecem na produção. Esses elementos compõem a identidade do caipira, e a busca de Quinzinho pelo filme é uma forma de o personagem ver essa mesma identidade retratada pela indústria cultural de massa.
Ao tentar encontrar um cinema onde possa ver novamente Mazzaropi e apresentá-lo ao seu filho, Quinzinho viaja por várias cidades, cada vez maiores, mas sem cinemas. Tal situação retrata o fato da perda de salas de cinema nas pequenas cidades, sendo que algumas passaram a abrigar templos religiosos, o que demonstra uma das mudanças na indústria da cultura de massa no Brasil, onde o cinema passou a perder espaço para a televisão.
A chegada à cidade demonstra também o estranhamento do caipira com a modernidade urbana através do contato, por exemplo, com o restaurante self-service ou com a loja de eletrodomésticos. As pilhérias dos moradores da cidade com os personagens do filme ou mesmo a tentativa de enganá-los demonstram também o preconceito em relação aos habitantes do campo.
Questões como a luta pela terra por parte do Movimento Sem-Terra (MST) e a repressão policial e de jagunços são mostradas no filme, possibilitando ainda o debate sobre as alterações econômicas e sociais da agricultura atual, principalmente a existência do latifúndio e a luta pela reforma agrária.
O encontro de Quinzinho com um cinema e a recusa inicial do proprietário da sala em projetar o filme Jeca Tatu, de Mazzaropi, leva o personagem a realizar um protesto que acaba sendo mostrado em rede de televisão. O papel da mídia e da transformação dos eventos cotidianos em espetáculo podem ser abordados com essa passagem, evidenciando como ela possibilita a realização do objetivo inicial do personagem, mas também representa um ganho ao dono do cinema, que soube aproveitar comercialmente a oportunidade surgida.
Com essa apresentação rápida, é possível perceber as potencialidades do filme para o debate sobre cultura nacional e as relações entre moderno e arcaico no Brasil, presente na dicotomia entre mundo urbano e o mundo caipira.
Crédito da Imagem: Pandora Filmes

Por Me. Tales Pinto

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