Em entrevista à revista Veja, o técnico da seleção brasileira disse: 'Extirpei o tumor e estou aparentemente bem'
Rio - Um dos maiores nomes do vôlei brasileiro, o treinador da seleção brasileira e do Rexona-AdeS, Bernardinho revelou em entrevista à revista "Veja"que durante o Mundial de vôlei na Polônia, entre agosto e setembro deste anos, descobriu e retirou um tumor maligno no rim direito após realizar um exame de rotina.
"Cheguei do Mundial na Polônia e num exame de rotina descobri um tumor no rim direito. Nele havia células malignas. Extirpei o tumor e estou aparentemente bem. A cirurgia completou três meses. Fico ruminando essa história, porque há um ano e dez meses não tinha problema de saúde. Mas a irresponsabilidade vai te maltratando e maltratando. O médico do Hospital Sírio-Libanês que me atendeu disse assim: "O que tirei do seu corpo é uma metáfora do que deve ser extraído do país". A sensação que tenho hoje é essa mesmo: tudo o que está acontecendo com o vôlei é uma pequena célula doente de um organismo. Pode haver mais - comentou o técnico, fazendo uma alusão ao momento que vive o voleibol nacional", revelou o treinardo, fazendo uma alusão ao atual momento do vôlei nacional.
Um relatório divulgado pela Controladoria-Geral da União (CGU) revelou o desvio de, ao menos, R$ 30 milhões do dinheiro de patrocínio durante a gestão do presidente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), Ary Graça, entre 2010 e 2013. No comando da entidade desde 1997, ele renunciou ao cargo quando os primeiros fatos foram revelados. Após o escândalo vir à tona, o Banco do Brasil cancelou o contrato de patrocínio, renovado sem interrupções desde 1991. Os jogadores reagiram com protestos. Alguns deles entraram em quadra com nariz vermelho de palhaço e faixa de luto nos braços durante a Superliga. Outros se manifestaram pelas redes sociais.
"O vôlei é um esporte lindo. Dediquei boa parte da minha vida a uma causa e, com base em todas essas evidências de corrupção, posso dizer que algumas pessoas se beneficiaram de um trabalho honesto. É um grupo, não foi apenas o Ary Graça. Mas em 2012, quando soube que ele estava pleiteando a candidatura à presidência da Federação Internacional, fui ao seu gabinete pela primeira vez e disse: "Doutor Ary, o senhor hoje dirige a maior confederação esportiva do país fora o futebol. Quebre esse sistema de poder, profissionalize esse sistema". Ele dirigia uma "empresa" com 100 milhões de reais anuais de faturamento e tinha muito que fazer ainda no esporte brasileiro. Ele não me deu ouvidos", disse Bernardinho, complementando que apenas em outubro de 2013 soube de um problema ocorrido em Volta Redonda, quando a equipe da cidade havia sido impedida de disputar a Superliga por conta de uma norma que previa que, caso um time estivesse inadimplente, não poderia participar da competição.
"Ao que consta, houve uma chantagem por parte dos dirigentes do Volta Redonda. Se fosse vetada a participação deles na competição, tornariam público uma operação irregular realizada junto com os dirigentes da CBV. Pensei: "Não é possível que vão ceder a uma chantagem dessa natureza". Voltei a Saquarema, a sede da confederação, e comuniquei a minha insatisfação: "Eu sei disto aqui e, se vocês não consertarem, amanhã sou demissionário e vou dizer por que estou saindo". Aquilo me fez muito mal, apesar de garantirem que estavam cancelando os contratos sob suspeita. Não sabia se iria ao Japão para disputar a Copa dos Campeões. Acabei viajando, mas visivelmente triste, incomodado. Não queria representar aquelas pessoas", disse.
Bernardinho pensa ainda que Ary Graça não deve seguir ocupando o posto de presidente da Federação Internacional de Vôlei (FIVB) caso as denúncias sejam comprovadas. Ele disse que não está surpreso com o escândalo na CBV. O técnico lamentou que o vôlei tenha virado "um balcão de negócios" e que já teve vontade de abandonar tudo, mas seguiu adiante pelos atletas. O comandante ainda falou sobre a possibilidade de chefiar o Ministério do Esporte caso o candidato Aécio Neves tivesse vencido as eleições presidenciais contra Dilma Rousseff foi, de fato, cogitada. Ele disse apenas que "participar de uma equipe" em prol do esporte e da educação é algo que o atrai.
Apesar do bom momento vivido dentro de quadra, Bernardinho receia que os fatores externos possam atraaplhar a preparação dos atletas para as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro: "Esse é meu maior medo. Fizemos uma reunião no Comitê Olímpico Brasileiro (COB) com muitos treinadores, de diversas equipes, sobre como blindar nossos atletas de questões externas. É uma perda de foco. Nós temos uma missão extremamente difícil, que é conquistar a medalha olímpica dentro de casa. Pelo equilíbrio de forças que existe no âmbito mundial, já seria difícil. Com elementos que possibilitam ansiedade, a tarefa se torna hercúlea", concluiu.
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