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quarta-feira, 3 de junho de 2015

MORRE A 1ª- PACIENTE DIAGNOSTICADA COM SUPERBACTÉRIA EM TAGUATINGA BRASÍLIA-DF.


Morte não tem relação com presença de micro-organismo, diz secretaria.
Três já haviam morrido; outros quatro pacientes continuam isolados no HRT.

Do G1 DF
Fachada do Hospital Regional de Taguatinga (Foto: Raquel Morais/G1)Fachada do Hospital Regional de Taguatinga
(Foto: Raquel Morais/G1)
A Secretaria de Saúde do Distrito Federalinformou que a primeira paciente diagnosticado com a superbactéria enterococo no Hospital Regional de Taguatinga morreu no fim da tarde desta terça-feira (2). Segundo a pasta, a morte não pode ser relacionada ao micro-organismo e a causa só será esclarecida após necrópsia, que depende de autorização da família.

De acordo com a secretaria, a paciente tinha 79 anos e sofria de insuficiência respiratória grave. A Saúde disse que a mulher deveria ser encaminhada à UTI nesta terça.

A morte foi confirmada às 18h, pouco mais de quatro horas depois que o GDF reabriu o pronto-socorro do HRT para atendimento. Duas alas da emergência haviam sido fechadas na última quinta-feira (28), depois que exames constataram a presença da superbactéria enterococo em pacientes.
A direção do hospital informou que o processo de descontaminação do local foi finalizado pela manhã e que os profissionais receberam orientações da equipe de Controle de Infecção Hospitalar. A unidade foi reaberta às 13h30.
Nesta segunda (1º), o governo havia informado que outros quatro pacientes continuavam em isolamento no HRT e colonizados por bactérias multirresistentes do tipo enterococo. O estágio de "colonização" significa que os micro-organismos estão no corpo, mas não no sangue, e por isso não causam sintomas.

Segundo a secretaria, três dos quatro pacientes estão com quadro estável e reagem bem ao tratamento. O outro caso é de uma mulher de 91 anos, que apresentou um edema agudo no pulmão nesta segunda e precisou ser entubada. A Saúde diz que o quadro é grave, mas estável.

"A partir do momento em que você se interna em um ambiente hospitalar, e quanto mais idoso, mais imunossuprimido, mais histórico de cirurgia e quimioterapia, em 48 horas você pode estar já colonizado por uma flora diferente", disse a coordenadora de infectologia da Secretaria de Saúde, Maria de Lourdes Lopes, na ocasião.
Segundo ela, as bactérias multirresistentes, conhecidas popularmente como superbactérias, se tornaram uma realidade da saúde pública e privada nas últimas décadas, mas não há motivo para pânico.
"Não estamos vivendo um surto. Quando estivermos, vamos tomar as ações necessárias. A existência de superbactérias é uma endemia, uma rotina. Hoje, temos que tratar esses pacientes com associação de duas, três, até quatro drogas. Estamos retirando drogas antigas da gaveta, drogas que a gente não usava mais, para tratar essas infecções", declarou.
Não estamos vivendo um surto. Quando estivermos, vamos tomar as ações necessárias. A existência de superbactérias é uma endemia, uma rotina. Hoje, temos que tratar esses pacientes com associação de duas, três, até quatro drogas. Estamos retirando drogas antigas da gaveta, drogas que a gente não usava mais, para tratar essas infecções"
Maria de Lourdes Lopes,
coordenadora de infectologia do GDF
Rede pública
Leitos de uma enfermaria no Hospital Regional do Guará seguem fechados após o isolamento de três pacientes com a superbactéria Acinetobacter baumannii, na sexta (29). De acordo com a secretaria, dois dos três casos eram de colonização e um dos pacientes já tinha recebido alta nesta segunda.
Nas outras unidades de saúde, a secretaria afirma que casos são tratados de modo "pontual", com o isolamento dos pacientes infectados e administração de antibióticos. Não há alas fechadas ou restrições de atendimento nos hospitais, postos de saúde e UPAs da rede.
Vítimas
Três pacientes idosas que estavam em isolamento na unidade morreram entre a noite de domingo (31) e a manhã desta segunda. Segundo a secretaria, duas delas estavam colonizadas pelo enterococo resistente, e a terceira, pela bactéria KPC. A pasta diz que não é possível estabelecer as infecções como a causa principal das mortes.
Anteriormente, a pasta havia informado que uma das vítimas era do sexo masculino. Informações atualizadas nesta segunda apontam que a primeira morte foi de uma mulher de 79 anos, internada com fratura grave no fêmur e infectada com KPC.
A segunda vítima, de 70 anos, tinha um quadro de sete patologias incluindo insuficiência renal aguda, hipertensão e cardiopatias. A terceira, de 80 anos, tinha doenças pulmonares, hipertensão, baixa de potássio e era ex-fumante. Ambas estavam colonizadas pelo enterococo.
'Problema mundial'
Segundo Maria de Lourdes, as bactérias de resistência múltipla se tornaram um problema mundial e disseminado. A especialista afirma que o uso constante de antibióticos está selecionando os micro-organismos mais resistentes, que aproveitam a queda na imunidade dos pacientes para atacar.
"A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que a resistência bacteriana é o principal problema mundial de saúde pública. Com essas resistências sucessivas, estamos ficando sem possibilidade de tratar as infecções. Não é uma questão para os nossos netos, e sim, algo que estamos vivendo hoje", diz.
Superbactéria KPC (Foto: G1)Superbactéria KPC (Foto: G1)
A médica diz que cada micro-organismo multirresistente tem um comportamento diferente e que geralmente o contágio não é feito por via respiratória. Para haver contaminação, é preciso haver toque na pessoa infectada ou em itens usados por ela. Ao contrário dos vírus, que são frágeis em ambiente externo, essas bactérias conseguem sobreviver por muito tempo em superfícies mal higienizadas.
"Essas bactérias como a KPC têm capacidade elevada de sobrevivência. Podem ficar em uma grade de cama, em um prontuário por semanas, até meses", diz. Maria de Lourdes cita como 'bactérias da moda' os micro-organismos multirresistentes dos gêneros Klebsiella (como a KPC), Acinetobacter e Pseudomonas, os enterococos e o Staphilococcus aureus.
Isolamento
A bactéria enterococo resistente à vancomicina foi descoberta no HRT na última quinta-feira (28) e levou à interdição das alas vermelha e amarela do pronto-socorro, reservadas aos pacientes de maior gravidade. Os 25 pacientes que estavam internados nestes leitos ficaram em isolamento e passaram por exames. Anteriormente, a secretaria havia informado que eram 15 pacientes.
Excluídos os quatro colonizados e os quatro que não resistiram à doença, os 17 restantes seguem no tratamento das "doenças anteriores" e podem receber alta normalmente nos próximos dias. Os profissionais de saúde que tiveram contato com esses pacientes também não apresentaram sintomas e estão usando todos os equipamentos de proteção e higiene, segundo a pasta.
Resistência
“Superbactéria” é um termo que vale não só para um organismo, mas para bactérias que desenvolvem resistência a grande parte dos antibióticos. Enzimas passam a ser produzidas pelas bactérias devido a mutações genéticas ao longo do tempo, que tornam grupos de bactérias comuns como a Klebsiella e a Escherichia, resistentes a muitos medicamentos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que a resistência bacteriana é o principal problema mundial de saúde pública. Com essas resistências sucessivas, estamos ficando sem possibilidade de tratar as infecções. Não é uma questão para os nossos netos, e sim, algo que estamos vivendo hoje""
Maria de Lourdes Lopes,
coordenadora de infectologia do GDF
Outro mecanismo para desenvolvimento de superbactérias é a transmissão por plasmídeos – fragmentos do DNA que podem ser passados de bactéria a bactéria, mesmo entre espécies diferentes. Uma Klebsiella pode passar a uma Pseudomonas, e esta pode passar a uma terceira. Se o gene estiver incorporado no plasmídeo, ele pode passar de uma bactéria a outra sem a necessidade de reprodução.
No território nacional circulam outras bactérias multirresistentes, como a SPM-1 (São Paulo metalo-beta-lactamase). Entre os remédios ineficazes estão as carbapenemas, uma das principais opções no combate aos organismos unicelulares. Remédios como as polimixinas e tigeciclinas ainda são eficientes contra esses organismos, mas são usados somente em casos de emergência, como infecções hospitalares.
KPC
Em outubro do ano passado, a Secretaria de Saúde isolou a UTI neonatal do Hospital Materno Infantil depois que exames feitos em três bebês apontaram a presença da superbactéria KPC. De acordo com a pasta, o diagnóstico não significava que eles desenvolveriam infecção, mas a medida havia sido adotada para evitar uma eventual propagação do micro-organismo.
Em 2010, casos notificados de pessoas infectadas pela KPC levaram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a instituir normas de combate à bactéria. Entre as medidas anunciadas estava a instalação de dispensadores de álcool em gel em todos os ambientes de atendimento nos hospitais e clínicas públicas e particulares.
Em 2009, de 1º de janeiro até o dia 15 de outubro, 18 pacientes morreram por conta da KPC no DF. No mesmo período, foram registradas 183 pessoas portadoras da bactéria, das quais 46 tiveram infecção. A Secretaria de Saúde não informou o número total de casos desde então.
A KPC já foi identificada em Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Goiás e Santa Catarina. Ela faz parte da flora intestinal das pessoas e pode ser transmitida por meio do contato. As complicações costumam ocorrer somente em casos de pacientes com baixa imunidade, como os que estão com câncer em estágio avançado ou passaram por transplantes.

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