O novo presidente do Ferroviário clama a torcedores, conselheiros, patrocinadores e até a Deus por um único desejo: devolver o Tubarão da Barra à elite do futebol cearense
O vereador Carlos Mesquita assumiu a diretoria do Ferroviário com o desafio de reerguer o clube da Barra do Ceará. "Eu espero que Deus me ajude", diz
A situação crítica do Ferroviário deixou o excêntrico vereador Carlos Mesquita (PMDB), 59, ainda mais inquieto. Ao ver o clube de coração - e que dirigiu no fim da década de 1990 - abandonado por toda a diretoria executiva há três meses, resolveu criar o movimento “Salvem o Ferrim”. Juntou ex-presidentes, conselheiros arcaicos e torcidas organizadas. Tentou ajudar o clube a encontrar um novo presidente. Ninguém aceitou. Então, com seu linguajar boleiro/palanqueiro, disse “eu vou”. Agora concilia as atividades na Câmara de Fortaleza com o processo de reerguida do clube coral.
O POVO.dom – Como tirar o time do fundo do poço?
Carlos Mesquita – Acreditando que Deus torce por este Ferroviário. Eu vi uma vez a imagem de São Paulo com a camisa do São Paulo e achei muito bacana aquilo. Então queria que Deus vestisse essa camisa do Ferroviário e viesse nos ajudar. Porque a situação é muito difícil. Nós temos cinco penhoras do campo, quase 150 ações trabalhistas, há 12 anos que não declaramos o Imposto de Renda. É uma situação que estou tentando esquecer para não acabar com esse entusiasmo de fazer um grande time para arrecadar dinheiro e cobrir essa outra parte, que não é muito bacana.
OP.dom – Quem é o torcedor que se importa com o clube hoje?
Carlos Mesquita – Veja bem. A minha família toda é Ferroviário, desde o meu bisavó. Fico muito feliz quando eu ando na rua e aqueles velhinhos, pessoas com mais de 70 anos, principalmente moradores do Álvaro Weyne, Carlito Pamplona, que moram no entorno da antiga Rffsa, que são aposentados, me pedem: “Mesquita, salva o Ferrão. O Ferrão é minha última alegria. Eu já tô com 70 anos e nem pro estádio eu vou mais, mas fico no radinho torcendo pelo Ferroviário porque fui um dos fundadores do Mata Passo e do Jurubeba (dois times que deram origem ao Ferroviário)”. Isso me comove muito. E talvez tenha sido esse apelo desses torcedores antigos e amigos que me fez voltar. E eu voltei com força total. Espero, então, que a torcida não me decepcione. Se ela fizer a parte dela, eu faço a minha e vou devolver o Ferroviário ao futebol cearense como a terceira força do nosso Estado.
OP.dom – De campeão a rebaixado, o que houve com o Ferrão?
Carlos Mesquita – O Ferroviário tinha o patrocínio da Rffsa, que nos dava R$ 200 mil em média. E nós tínhamos grandes conselheiros, grandes empresários, que nos ajudavam. O Ferroviário juntava fácil R$ 300 mil para fazer uma equipe. Por isso ele competia com Ceará e com Fortaleza. Quando a Rffsa acabou, acabou-se o dinheiro desse patrocínio e também o dinheiro dos empresários, porque só o deles não dava. O time ficou à mercê de contar com o apoio de uns 20 conselheiros para se manter. Quando estes se afastaram mais um pouco, ficou inviável levar o clube sozinho. Por isso que ficou sem presidente, e eu tentei, por três meses, arranjar um. Não arranjei. Resolvi ir para o sacrifício. Eu sei que para mim é muito difícil, pois, no próximo ano, tenho uma campanha eleitoral. Vou ter que me dividir: ou me reeleger, ou levar o Ferroviário pra Primeira Divisão. Vai ser um dilema muito grande. Mas eu espero que Deus me ajude, a gente consiga as duas coisas.
OP.dom – De onde virá o dinheiro?
Carlos Mesquita – Olha, eu não sou “morredor” de jeito nenhum. Não sou peru para morrer de véspera. Então eu não espero por ninguém. Já disse até a meus diretores: “Se tiver alguma coisa para vocês fazerem e eu notar que está demorando, eu mesmo vou lá e faço”. Sou assim. Há três semanas, casei com o Ferroviário. Vinte e quatro horas estou aqui buscando amigos para buscar patrocínio. Já temos a Guaramix que está vindo, que patrocina Botafogo, Bahia e Vitória. Temos também a Auto Escola Júnior, o Prohospital e a Handara, que renovou. Vamos partir com esses quatro e esperar que outros venham.
OP.dom – O que vai dar certo agora que não deu certo antes?
Carlos Mesquita –Vai dar certo porque eu sou um cara conciliador, agregador. Eu estou trazendo todo mundo para perto. Já consegui unir as duas torcidas organizadas, botei elas juntas. Elas se comprometeram a nos ajudar. Trouxe também aqueles conselheiros, cardeais mais antigos, que estavam afastados, mas sem jogar fora aqueles que já estavam aqui. Hoje o Ferroviário é uma família, onde todos estão conscientes da situação do clube. Se não cuidarmos, ele vai se acabar mesmo. Então, as nossas forças todas estarão dirigidas para, no próximo ano, nós subirmos. Espero contar com você torcedor, você empresário, você amigo, porque o Ferroviário é um patrimônio do nosso futebol. E ele ainda tem muito a dar. Não pode ser excluído da maneira como estava sendo. E o meu lema já diz tudo: “Novo Ferrão: eu acredito”.
OP.dom – Como o Ferroviário pode voltar a ser rival respeitado?
Carlos Mesquita – Na (Taça) Fares Lopes, agora, você vai ver um Ferroviário para disputar com Ceará e Fortaleza o título. O Icasa já era, está atrás da gente. Nós temos hoje um time que vai disputar. E o que é mais importante de tudo isso? Talvez deva ser uma característica minha, talvez por isso eu já seja vereador há sete anos. Eu gosto de acolher, gosto de abraçar. Então os meus jogadores são como filhos e netos. Amigos demais. O meu treinador, o meu massagista, o meu roupeiro, esses que são os “meus”, que eu abraço, que eu admiro, que eu agradeço todo dia, para quem eu peço a Deus bênção. E aos meus jogadores também, porque muitos jogadores que estão hoje no Ferroviário poderiam estar em lugares melhores. Mas eles entenderam que aqui vão ser respeitados e adorados.
OP.dom - Você não teme suspeitas por ser vereador e assumir um clube?
Carlos Mesquita – Eu sou vereador desde 1992. Fui presidente do Ferroviário em 1998 e 1999. Portanto, já tinha dois mandatos de vereador. Nunca vim ao clube buscar nada. Já me chamaram várias vezes para assumir o Ferroviário e eu não quis, achava que não era a hora. E agora também eu não queria. Todos me apontavam, mas eu dizia “não, quero buscar um”. Passei três meses fazendo reuniões lá no Cantinho do Portuga e aqui no Ferroviário para encontrar alguém. Fui buscar esses nomes que apontam que poderiam ser presidente do Ferroviário. Nenhum quis. Porque assumir o Ferroviário do jeito que ele está hoje é preciso ter muita coragem. Ou muito amor. Eu não sei se estou assumindo por ter muita coragem ou por muito amor ao clube. Mas, se você veio ao Ferroviário há algum tempo e veio hoje, vai ver que o ambiente hoje é alegre. Nós aumentamos os nossos jogadores de escolinha, que estão voltando ao Ferroviário. Jogadores estão se oferecendo para vir pra cá. Já estão reformando todo o estádio, mandando pintar, recuperar alojamentos dos profissionais e do pessoal do amador. O campo está sendo reformado. Nós não temos água para aguar o campo, mas estamos providenciando um carro-pipa e já estamos refazendo o tanque e as bombas. Recebemos a visita da Polícia Militar para fazer uma revisão aqui no Ferroviário, para que nós possamos, juntamente com o laudo da Vigilância Sanitária, que já temos, o laudo dos Bombeiros que nós temos, e o laudo de engenharia, entregar na Federação e dizer: “Pronto, Mauro (Carmélio, presidente da Federação Cearense de Futebol), pode colocar jogo lá no Ferroviário”. E nós vamos conseguir. Isso significa o quê? Que nós estamos trabalhando. O meu sinônimo é trabalho, e com trabalho nós vamos vencer.Fonte:O Povo online
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