Geraldino Saravá marcou 98 gols no Castelão, a maioria deles com a camisa do Fortaleza. Ex-artilheiro sonha pelo menos entrar no novo campo
Chovia muito no Castelão, as poças d'água impediam o futebol mais bonito daqueles que tentavam praticar algo em campo, e o Fortaleza tinha a obrigação de vencer o Ceará para sonhar com o título estadual de 1974. Nada de gol até os 44 minutos do segundo tempo. Foi aos 44 e meio que Geraldino Saravá previu a parada da bola, na saída do goleiro Hélio, após o toque providencial de Lucinho.
- Ela veio com muita força e eu acreditei. Pensei que ia amortecer na água. Ela parou e eu vim com tudo. Do jeito que eu vinha correndo, chutei e fiz o gol - relata o ex-atacante tricolor.
Foi apenas um, dos 98 gols marcados no Plácido Aderalto Castelo, o majestoso Castelão, por Geraldino Saravá, o maior goleador do estádio cearense. O ex-jogador, natural de Ipaumirim, na divisa com a Paraíba, nunca esquece a sensação de fazê-lo tremer.
- É uma emoção muito grande, muito lindo. E naquele tempo, nós não sabíamos a moral que a gente tinha, a gente só queria era jogar. A sensação era muito boa e a gente chorava de alegria - lembra.
Aquela vitória sobre o Ceará, em 1974, foi a segunda, de três necessárias para o Leão levar o título, já que o Vovô havia vencido nos dois primeiros turnos. Não deu outra. Na primeira vitória por 4 a 0, Saravá cravou 3. Na última, não teve gol dele, mas teve nova vitória, agora por 3 a 1. Era o bicampeonato cearense do Fortaleza.
Acredita que foram cerca de 60 gols marcados no Castelão só com a camisa tricolor que defendeu por 7 anos, sempre com os passes precisos de Lucinho e Amilton Melo. O restante veio pelos outros clubes cearenses, como Ceará, Ferroviário, Tiradentes, Guarany de Sobral e Icasa.
- Era camisa 9 ou 11. Homem-gol. Eu tinha uma estatura boa, 1,75m, muita velocidade e coragem. Dominava muito bem a bola pra chutar no gol. Não tinha habilidade pra passar por um, dois, mas era raçudo, não tinha medo de zagueiro. Quanto mais ele me batia, mais eu batia nele - orgulha-se, com bom humor.
Artilharia de 1978 e falta de talento para pênaltis
Sem medo de estar errado, Geraldino garante que, se soubesse cobrar pênaltis, ultrapassaria 120 gols no Castelão. E a falta de habilidade para as penalidades, pontua, impediu que ele fosse o artilheiro de todos os estaduais disputados - menos o de 1978. Naquele ano, marcou 28 vezes pelo Fortaleza. Nunca fez gol de pênalti. Nunca. Nem no Castelão nem em canto algum. Não fazia questão de bater, simplesmente por não saber bater, apesar de chutar bem com os dois pés. Igual ao Roberto Carlos, ele ressalta.
- Quem tem que bater é quem sabe - explica.
Não tinha habilidade pra passar por um, dois, mas era raçudo, não tinha medo de zagueiro. Quanto mais ele me batia, mais eu batia nele"
Geraldino Saravá
Os pênaltis não fizeram falta. Morador de Juazeiro do Norte, na Região do Cariri cearense, Geraldino vive bem com a mulher, Maria Gorete, e acompanhando o sucesso dos cinco filhos já formados em faculdades particulares. Ainda conta com o aluguel de duas casas que comprou, após ser vendido para o Fortaleza, pelo equivalente a R$ 1 milhão nos dias de hoje.
- Fui o jogador mais caro do ano, no futebol cearense - ressalta.
Depois de também jogar por Ceará, Ferroviário, Tiradentes, Campinense e Sampaio Correa, os cinco anos de Icasa ainda lhe rendem fama na cidade juazeirense, onde ficou marcado como maior artilheiro do Romeirão, com 72 gols.
- Eu marcava principalmente contra o rival, Guarani de Juazeiro, no Campeonato Juazeirense. Teve um 1 a 0 que eu fiz o gol do meio do campo e fomos campeões, em 1971 - gaba-se.
A memória boa mantém muitos jogos vivos na lembrança, inclusive os que acompanhou da arquibancada do Castelão, após pendurar as chuteiras, em 1983, no Icasa - onde havia começado, antes de ir para o Guarany de Sobral, em 1972. O passado, entretanto, começa a guardar espaços para o que está por vir. Geraldino já foi conhecer a Arena Castelão, que se prepara para receber Copa das Confederações e Copa do Mundo.
- Está lindo demais, ficando coisa de primeiro mundo. Aquele museu é uma coisa inédita, gostei demais. Pode vir Copa do Mundo, Libertadores, tudo...
Mas a alegria maior aparece quando o repórter pergunta: 'o senhor tem vontade de entrar naquele campo, agora?'
- Ora não! Nem que fosse só para entrar mesmo... Tenho muita saudade! - sonha o eterno artilheiro.
Tão grande quanto a vontade de entrar em campo é o desejo de ver o novo Castelão brilhar para as próximas gerações. Depois de fazer grandes massas chorarem de felicidade com tantas decisões, Geraldino Saravá esbanja saúde suficiente para sonhar mais alto e torcer pelas equipes que defendeu.
- Eu queria que as nossas equipes viessem pelo menos decidir um Campeonato Brasileiro no Castelão. E na Série A, comigo na tribuna de honra assistindo - finaliza.fonte:fortaleza-ce/via g1/camocim belo mar blo
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