Sala onde criança de 10 anos atirou contra professora permanece fechada
Fernando Gazzaneo,
Daia Oliver/R7
Estudantes
em frente à Escola Estadual Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do
Sul, no ABC, no retonor às aulas na semana passada
Todo começo de ano é assim. Um cartaz
na entrada da escola Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul, no
ABC, dá as boas-vindas aos alunos. No turno da manhã, os pequenos têm o
sono estampado na cara e a saudade das férias dura até o intervalo,
quando a turma se reencontra. Os pais gabam-se do estudo público de
qualidade oferecido e relembram que uma vaga na escola é
concorridíssima. Talvez, por isso, a história do aluno de 10 anos que
atirou contra a professora e depois se matou, em setembro de 2011,
pareça ter sido esquecida para quem não voltar um olhar mais atento à
situação.
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É só entrar em uma conversa um pouco mais demorada com alguns pais para
descobrir que, na primeira semana de aula no colégio, eles e seus filhos
pareciam vivenciar um esforço coletivo de esquecimento da tragédia.
Nadir Fernandes é mãe de dois alunos e ainda cuida de um sobrinho. Ela
conta que os jovens decidiram permanecer no colégio por escolha própria.
Mas, como era de esperar, o crime os deixou assustados e cheios de
perguntas.
- Sinceramente? Hoje, a impressão é de que nada aconteceu. De uma
maneira geral, eles reagiram bem. A gente conversou bastante. Eles
vinham me perguntar o que teria motivado o crime e eu me esforçava para
responder e não deixá-los aflitos.
Sala fechada
A sala de aula onde o menino atirou contra a professora
continua fechada, informou uma funcionária da escola que pediu para não
ser identificada. Os alunos que estudavam lá foram transferidos para o
lado oposto do complexo. A escada onde a criança se escondeu e atirou
contra a própria cabeça, também foi evitada por um tempo.
Nadir conta ter perguntado como a filha se sentia ao passar novamente
por esses locais. A resposta da garota, segundo ela, foi “a mais natural
possível”.
- Eu perguntava a toda hora como estava o clima no Alcina. E ela me
dizia que passava todos os dias pelo local onde o garoto se matou e não
se abalava mais com a memória. Eu gosto muito do Alcina e meus filhos
também. Mas acho que a direção do colégio deveria instalar um detector
de metais na porta de entrada para evitar que esse tipo de coisa
aconteça de novo.
O estudante Davi Fernando Cosme Cardoso estava no sétimo ano quando
ocorreu a tragédia. A mãe dele, Maria Aparecida Cosme Cardoso, conta que
mesmo assustado e desconfiado ele decidiu terminar o ano no Alcina. O
caso foi entendido pela família como a “gota d’água” para que o jovem
“desandasse” nos estudos e repetisse o ano.
- O meu filho estudou no colégio por quatro anos. Mas ele já estava meio
desanimado de continuar lá porque sofria bulling dos alunos. A morte do
garoto foi só mais um motivo para mudá-lo de escola. Eu também acredito
que a tragédia seja um dos motivos para a piora no desempenho dele.
Já Vitor Tortelli estuda no Alcina Dantas Feijão desde a primeira série e
decidiu permanecer na escola por ter uma boa relação com professores,
que o acompanham desde o início. Ele conta, no entanto, que as cenas da
tragédia na escola costumam vir à tona quando circula próximo do local
onde o garoto se matou.
-
As coisas ficaram normais depois de tudo. Eu toco trompete com o irmão
do garoto e ele pareceu superar bem essa história. Mas, às vezes, eu
passo pelo local onde tudo aconteceu e isso me deixa um pouco chateado.
Para a mãe de Vitor, a melhor coisa que a escola fez foi estabelecer um
recesso de uma semana após a tragédia. Os sete dias “neutralizaram o
clima pesado”.
- Adolescente tem memória fraca, ela brinca, e o apoio do colégio
pedagógico contribuiu para que os alunos conseguissem voltar a
frequentar as aulas sem problemas.
Para a aluna Mariana Silveira, a tristeza provocada pela morte do garoto
de 10 anos atingiu em cheio os adolescentes do ensino médio. Entre os
amigos do segundo ano, ela conta, ficou o sentimento de um “velório
coletivo”.
Professora
A professora Roliseide Queiroz de Oliveira, baleada pelo aluno
de dez anos, foi afastada do colégio e não deve mais voltar ao Alcina. A
reportagem não conseguiu entrar em contato com ela até a publicação
desta reportagem. A mãe da docente, Joselita Queiroz, contou que a filha
está bem, mas precisa fazer fisioterapia todos os dias para se
recuperar da fratura no joelho. O R7 também não conseguiu contato com os
pais do garoto que se matou.
Para a Secretaria de Educação de São Caetano do Sul, o caso está
encerrado e todos os funcionários do colégio estão proibidos de falar
sobre o crime nas dependências do Alcina. Segundo a pasta, pais
proibiram que a direção conversasse com jornalistas.fonte R7/camocim belo mar blog