Queijarias têm aproveitado melhor o leite fabricado nas bacias do Interior
FOTO: MELQUÍADES JÚNIIOR
Fortaleza. Mais de 90% do queijo artesanal comercializado no Estado não têm registro de inspeção sanitária. São mais de 500 queijarias funcionando apenas no Estado, enquanto os registros para mercado não ultrapassam o número de 50.
Neste ano, já foram apreendidos 2,5 toneladas de queijos, e destinados à incineração, número que não para de crescer, apesar dos esforços para a regulamentação dos estabelecimentos no Interior do Estado.
O presidente da Adagri, Augusto Júnior, disse que o crescimento da produções de queijos artesanais é um forte desafio para a ação do órgão, que, além de seus quadros, conta com o apoio das Polícias Rodoviárias Estadual (PRE) e Federal (PRF). Segundo ele, a ação não poderia ter 100% de eficiência, diante da prática que ocorre numa grande extensão territorial.
Isso se dá porque, além do âmbito no comércio estadual, em que os produtos de origem animal devem apresentar registro junto ao Serviço de Inspeção Estadual (SIE), a vigilância também verifica os selos do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) e Serviço de Inspeção Federal (SIF), quando o comércio extrapola os limites ou divisas, respectivamente, das áreas de vigilância sanitária.
Controle
Atualmente, há apenas 50 estabelecimentos regulares perante o Estado, enquanto que o número dos que entraram com pedido para processo de legalização chega a apenas 60.
Por sua vez, o Estado não tem controle do número daquelas que buscam comercializar o produto dentro das normas legais.
De acordo com o último relatório de resultados das ações desenvolvidas pelo Sebrae no setor de laticínios do Baixo e Médio Jaguaribe, divulgado em setembro do ano passado, nesta região há cerca de 250 estabelecimentos produtores de queijo, representando metade da produção de todo Estado, onde a estimativa é de que hajam 500 estabelecimentos. A região, segundo o relatório, é a segunda maior bacia leiteira, mas é a primeira em referência na produção de queijo e derivados. Só na região são processados cerca de 125 mil litros de leite por dia, representando cerca de 90% de toda a produção de leite.
A fiscalização intensificada vem ocorrendo por conta da expansão das queijarias. Afinal, o mercado do queijo apresenta preços bem mais favoráveis para os produtores de leite.
Com a seca que ocorre no Estado, o custo do produto "in natura" dobrou de R$ 0,45 para R$ 0,90, ocasionando um restrição na compra pela indústria de beneficiamento e, com isso, havendo uma disparidade em relação à oferta. O produto ficou mais valorizado para ser mais utilizado pelas queijarias, clandestinas ou não. Apesar das condições favoráveis para o negócio, os proprietários das queijarias são relutantes com relação à regulamentação. As explicações mais frequentes são o rigor da legislação e o longo processo burocrático.
Mudanças
O diretor técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará, Walmir Severo, diz que o órgão está sensível em apoiar os produtores, não apenas no sentido da regulamentação como na melhoria da qualidade. Como observa, o mercado mudou significativamente. Ao contrário do queijo de cor amarela, gorduroso e muito comum no passado, a tendência atual é pelo de cor branca e mais leve.
Segundo a articuladora regional de Sebrae, na região do Jaguaribe, Wandrey Pires, a demora no processo, o excesso de burocracia e os altos custos são os principais entraves para que os produtores se modernizem. "Não é barato modernizar as pequenas queijeiras porque é preciso muito capital para construir uma completa estrutura, com todos os padrões exigidos. Além disso, há poucos fiscais para acompanhar o processo, sendo que há processos que estão há mais de um ano aguardando a inspeção", conta.