Desde 1961, quando pela primeira vez entrou nos estúdios da CBS para gravar o histórico LP “Louco Por Você”, a carreira de Roberto Carlos foi uma sucessão de conquistas, conseguida com muito trabalho e principalmente com muita vontade de vencer. Desde o inicio, imitando João Gilberto e Elvis Presley, interpretando versões, percorrendo corredores das rádios, indo a shows longínquos de ônibus, trem etc, cantando muitas vezes de graça em circos, em caravanas de artistas novos, Roberto pode ser apontado como um autêntico exemplo para o artista que agora se inicia na carreira: ele passou por todos os caminhos, disputou com tenacidade mas com muita fé o seu lugarzinho ao sol, assimilou e apreendeu o máximo daquela fase inicial de incertezas, mas indispensável à formação musical de qualquer grande artista. De acordo com vários companheiros da época, Roberto sabia o que estava fazendo, confiava muito em si próprio, com personalidade, e principalmente com um magnetismo pessoal já marcante, suportou aquele período incerto com paciência e com a certeza interior de que “iria acontecer um dia”. O sucesso veio definitivamente com a versão de “Splish Splash” feita por Erasmo Carlos — começava naquele momento também uma parceria famosa, agora com mais de trezentas músicas de bagagem. A bola de neve continuou aumentando: vieram “Parei na Contramão” e “Calhambeque”, marcando o êxito definitivo e o primeiro troféu Roquette Pinto, como cantor revelação do ano. Depois veio a TV Record e o programa Jovem-Guarda, com Roberto comandando o espetáculo — nascia ali o maior movimento de música jovem autêntico já nascido no Brasil: Roberto mudou a maneira de vestir, de pentear o cabelo, de falar da juventude daquela época: Roberto aí já era uma imagem nacional, um símbolo imitado, um foco de influência positiva, sadia; adorado, imitado, por toda uma geração. “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno” foi um marco importante na carreira de Roberto — o cantor jovem atingia com a força dos seus versos a todas as faixas: do pobre ao mais sofisticado, todos até hoje cantam aquela que foi realmente transformada em hino de toda uma geração. “Quero que vá tudo pro inferno” consagrou RC definitivamente, naquele ano ele recebia o Troféu Disco de Ouro, prêmio máximo do mundo do disco rio país. Em 65, 66 e 67 ganha o Troféu Roquette Pinto, participa do mesmo ano em Cannes do Festival de música daquela cidade — recebe então o Troféu Midem, o primeiro troféu internacional de sua carreira. Em 68 conquista a Europa ao ganhar o primeiro prêmio do Festival de San Remo, interpretando “Canzone Par Te” de Sergio Endrigo, representando o Brasil (foi a primeira vez na história daquele festival que um artista estrangeiro ganhava o primeiro prêmio). Começaram então os filmes, mais viagens ao exterior, as primeiras gravações em espanhol, a conquista do difícil mercado latino-americano (na Argentina é considerado como o maior vendedor de discos, sobrepujando com larga diferença os ídolos locais): cantando em castelhano ou em italiano, a comunicação é sempre a mesma: total, vibrante, dentro de um estilo personalissimo! Nos três shows do Canecâo (com casa lotada diariamente), Roberto começou a mostrar que pode igualmente cantar em inglês com a mesma força interpretativa: canções dos áureos tempos do rock and roll, até a difícil “McArthur’s Park” são facilmente assimiladas e transmitidas por esse talento incomparável — recentemente no Madison Square Garden para uma platéia de milhares de latino- americanos e novaiorquinos, Roberto sentiu de perto todo o calor da sua enorme popularidade: aplaudido de pé, ovacionado já, merecidamente como um dos grandes fenômenos da comunicação dos nossos dias. Já são quinze anos de carreira, mais de uma dezena de elepês editados: em italiano, castelhano e naturalmente em português; é uma bagagem musical de quase uma centena de compactos duplos e simples espalhados pelo mundo — da inocência do “Brucutu”, da juventude do “Calhambeque”... das letras mais fortes e intimistas, como a genial “Detalhes” e “As Flores Do Jardim De Nossa Casa”, Roberto consegue dentro da sua eterna humildade, ser o cantor de todas as camadas, de atingir fundo com o lirismo da sua voz a moços e velhos: um talento completo! |