Na sua infinita sabedoria o Magnífico Soberano do Universo determinara que o ouro e todas as pedras de apreciável valor e beleza fossem soterradas a profundidades variadas; e apenas em alguns locais elas poderiam aflorar à superfície.
Pretendia, desta forma, controlar a cobiça dos homens, que assim haveriam de empreender grandes esforços na busca da satisfação de suas ambições. Portanto, na mesma proporção do esforço empregado eles desenvolveriam a vontade e a cooperação entre si, o que incentivaria a formação do espírito de equipe e promoveria o aprimoramento ininterrupto da inteligência.
Cuidava o Grande Senhor de favorecer o lento embora gradual desenvolvimento da raça humana, pois, através do trabalho as forças de inteligência se elevariam; através da colaboração entre os seres humanos as forças da moral seriam exercitadas intensamente, apressando o processo de associação e o aperfeiçoamento da civilização.
Fixados esses objetivos, aquele Soberano chamou sua filha Ágata e nomeou-a Deusa dos Minerais, pedindo-lhe que acompanhasse todo o processo de elaboração das pedras preciosas e semipreciosas, estabelecendo as respectivas quantidades, as colorações e as variações.
Explicou-lhe detalhadamente o seu plano e os objetivos que desejava alcançar; e pediu-lhe que viesse pessoalmente para, em meio à Natureza, determinar os locais onde as pedras seriam escondidas, bem como os vestígios que seriam deixados para atrair a atenção dos homens e encorajá-los na busca.
Sem que Ágata tivesse percebido, a sacerdotisa Messina ouvira todos os planos do Soberano transmitidos à filha. Messina adorava incentivar a cobiça entre os homens e não poupava esforços para atingir seus objetivos, não se importando com as eventuais conseqüências de seus atos. E assim decidida, ela deslocou-se imediatamente para a superfície planetária e, disfarçada de mulher camponesa, passou a morar numa localidade de humanos que se embrenhavam nas florestas, abrindo caminhos e construindo moradas provisórias para se abrigarem enquanto se dedicavam à agricultura.
A deusa Ágata, que aceitara alegremente a tarefa de que o pai lhe incumbira, fez um amplo planejamento do trabalho a ser executado, pois tencionava desempenhar de maneira plenamente satisfatória a missão que assumira.
No esboço previamente elaborado ela decidira dividir o trabalho em sete áreas que seriam desenvolvidas simultaneamente. Para tanto, convocou sete princesas amigas suas, para assessorá-la na delicada operação.
Lisonjeadas pelo inusitado convite da deusa dos Minerais as sete princesas se apresentaram rapidamente, prontas para assumir as funções que lhes fossem respectivamente designadas.
Vieram da superfície planetária, onde cada uma executava um trabalho, portanto já estavam habituadas a acompanhar e incentivar a exaustiva rotina diária dos seres humanos. No primeiro encontro a deusa dos Minerais explicou às princesas todo o plano de trabalho que o Soberano, seu pai, lhe confiara; e transmitiu-lhes os detalhes que já estabelecera visando alcançar a perfeita realização do objetivo.
Contando com o apoio e a aprovação unânime das princesas, a deusa Ágata expôs as prerrogativas de que cada uma delas estaria incumbida, ficando sob seus cuidados a coordenação e a responsabilidade geral.
1. A princesa Alina, Portadora dos Raios Solares, responsável pelo nascer e o pôr-do-sol ficará encarregada do Ouro;
2. A princesa Evânia, Guardiã da Serra Resplandecente cuidará da Prata;
3. A princesa Erínia, Protetora das Águas Cristalinas responderá pelos Diamantes;
4. Melia, a Princesa dos Bosques Floridos, terá a seu cargo os trabalhos com as Esmeraldas e Topázios, pedras preciosas criadas pela deusa Ágata, inspirada na beleza exuberante de uma montanha que vira em sonhos.
5. A princesa Miriane, Guardiã das Matas Frondosas, responderá pelas variedades de Berilo, principalmente pelas águas-marinhas que, pela sua cor azulada, eram as preferidas do Soberano;
6. A princesa Elidia, Guardiã do Fogo Sagrado das Entranhas da Terra assumirá os trabalhos com Rubis e Safiras, pedras preciosas; e com as Turmalinas, pedras semipreciosas que a todos encantam pelas suas cores (verde, azul, negro ou rosa), mas que não serão produzidas em grandes quantidades;
7. Para a princesa Valdênia, Guardiã dos Campos de Cerrado tocou a responsabilidade pelas muitas pedras que são encontradas em quantidades variadas, em locais esparsos e que são muito cobiçadas, como: Granadas, Opalas, Andaluzitas, Cianitas, Brasilianitas, Euclásios, Espodumênios, Crisoberilos, Citrinos, Aventurinas, Labradoritas e outras que eventualmente se formassem no subsolo ou fossem criadas ao longo dos trabalhos.
Definidas todas as responsabilidades a Deusa Ágata e as sete princesas se mudaram para um belíssimo palácio idealizado pelo Magnífico Soberano e construído no Bosque dos Sussurros Poéticos, entre a Cachoeira das Águas Risonhas e a Colina da Suave Brisa Vespertina. O local ficou sendo ao mesmo tempo, morada e base de operações.
Imediatamente à chegada tiveram início os trabalhos de elaboração das pedras e o processo de distribuição das espécies e quantidades, conforme o projeto elaborado. Com a superfície planetária totalmente recoberta por florestas, rios e montanhas as divinas emissárias concentraram seus trabalhos principalmente nos leitos dos rios e sopé de montanhas, disfarçando bem os locais com sinais que só elas sabiam identificar.
Não precisaram se preocupar em avisar aos seres humanos das várias regiões, pois a sacerdotisa Messina, astuciosamente, já tinha apanhado uma boa quantidade de pepitas de ouro e mostrado aos habitantes do povoado onde residia disfarçada. A notícia se espalhou rapidamente, contaminando os homens e assanhando a cobiça geral.
Convencidos da abundância de ouro e, provavelmente, de outras pedras valiosas, os homens das várias povoações começaram a abandonar suas ocupações e, ávidos por riquezas, partiam com suas famílias em busca da localização das minas, orientando-se pelas informações que a sacerdotisa lhes transmitia, sempre com muita clareza.
E não havia como errar. Ela abria trilhas e picadas a golpes de facão e construía toscas cabanas de varas e folhas, sempre próximas dos locais a serem explorados. O resto ficava por conta da ambição natural do Ser Humano.
Ela justificava sua atitude acreditando que o trabalho das princesas e da deusa Ágata estava sendo bem executado; e o objetivo de Magnífico Soberano estava sendo alcançado, pois os humanos partiam em grupos numerosos e enfrentavam jornadas exaustivas na ânsia de encontrar as tão sonhadas riquezas. Passavam a morar nos locais de trabalho com suas esposas e filhos e, por vários meses e até por anos, dedicavam-se à estafante luta diária numa incontrolável ansiedade.