Dois homens em uma moto incendiaram um ônibus lotado em uma área
residencial de Itajaí (100 km de Florianópolis), na manhã desta
quinta-feira (15). Para evitar que as chamas atingissem a casa da
família, um morador entrou no ônibus em chamas e dirigiu até um terreno
baldio. Com este caso, aumentou para 12 os ataques de criminosos contra
bases da polícia, ônibus e outros alvos registrados pela Policia Militar
de Santa Catarina desde as 20h de quarta-feira (14).
O ataque desta manhã ocorreu no bairro Salseiro por volta das 9h30.
Armados, os criminosos obrigaram o motorista a parar, ordenaram o
desembarque dos quase 50 passageiros e incendiaram o veículo. Não houve
feridos.
As chamas altas ameçavam queimar casas. Foi quando o mecânico Marcelo
Leite, 29 anos, desafiou o fogo, entrou no ônibus e dirigiu até um
terreno baldio para evitar que a casa de sua mãe fosse atingida pelo
fogo.
Mais cedo, a PM informou a prisão em flagrante de cinco pessoas em dois
incidentes de ataques a ônibus. Dos presos, dois são menores e três
adultos. Agora já são 29 os suspeitos detidos por causa da onda de
violência.
Em um dos ataques, um ônibus foi incendiado na praia dos Ingleses, no
norte de Florianópolis, por volta das 20 horas. Dois menores mandaram os
passageiros descerem e jogaram garrafas pet com gasolina no veículo.
Eles fugiram de táxi e foram presos minutos depois pela PM. Foi o
terceiro veículo da mesma empresa (Transportes Canasvieiras) a ser
atacada desde segunda-feira.
Este ataque se deu na mesma área onde a violência começou, que teve o
policiamento reforçado desde o início da onda de violência.
O sistema de transporte coletivo da capital ficou prejudicado na manhã
deste feriado. O terminal central amanheceu lotado por passageiros
desorientados. Eles esperavam desde às 5h40, mas o primeiro ônibus
circulou só às 8h.
Muitos eram turistas que chegaram à capital catarinense pela rodoviária
nos ônibus noturnos e que não conseguiram prosseguir viagens para
outros destinos. A PM está escoltando apenas as linhas mais visadas da
zona norte. Motoristas das outras viações estão com medo de trafegar.
Repercussão internacional
Uma das maiores preocupações do governo catarinense era com a
repercussão negativa dos ataques no início da temporada turística. E
aconteceu. A imprensa argentina noticiou em manchete a insegurança em
Florianópolis - a praia dos Ingleses, epicentro dos ataques, recebe um
grande número de turistas argentinos no verão.
Segundo o delegado-geral da Polícia Civil, Aldo D'Ávila, alguns ataques
são comandados por facções criminosas dentro de presídios. Outros,
isolados, por obra de oportunistas e imitadores. Ele não soube precisar
quantos de cada. Nenhum mandante foi identificado até agora.
A PM também prendeu em flagrante três incendiários de ônibus, suspeitos
de pertencerem à facção criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense).
Eles foram identificados pelas vítimas de um ataque ocorrido às 23h40 em
Palhoça, na Grande Florianópolis. No incidente, o motorista sofreu
queimaduras leves porque teve dificuldades para livrar-se do cinto de
segurança. O passageiro sofreu uma torção do tornozelo na fuga do ônibus
incendiado.
Também por volta das 23h, outro ônibus foi incendiado em Gaspar, no
Vale do Itajaí. Segundo a PM, um grupo de quatro pessoas em duas motos
pediu parada ao motorista no ponto final do ônibus, na altura da rua
Ernesto Ceci. Armados, os criminosos obrigaram motorista, cobrador e
passageiros a descerem do veículo e atearam fogo. Ninguém foi preso.
Nos 11 ataques da noite, sete ônibus, dois carros e uma creche foram
incendiados, e uma base da Polícia Militar foi alvejada pelos
criminosos. Este tipo de violência urbana é inédito em Santa Catarina.
Uma força-tarefa policial está nas ruas tentando prevenir os ataques. A
polícia acredita que os mandantes da violência são bandidos presos na
penitenciária São Pedro de Alcântara que estão agindo em represália
pelas más condições carcerárias.
Na tarde desta quarta-feira (14), o governo do Estado anunciou a troca
de comando da cadeia, numa tentativa de inibir a violência. A saída do
diretor do presídio, Carlos Alves, foi um sinalização de trégua entre
governo com os lideres da facção criminosa PGC (Primeiro Grupo
Catarinense), que exigiam sua demissão.
Na Cachoeira do Bom Jesus, próximo à praia dos Ingleses, uma escola
abandonada foi incendiada por volta das 21h30. Em Tijucas, 40 km ao
norte de Florianópolis, dois ônibus foram atacados. Um deles era da
Secretaria de Educação de cidade de Porto Belo. O outro era de
transporte coletivo. Em São José, na Grande Florianópolis, dois homens
numa motocicleta atiraram na base da PM dentro do shopping Itaguaçu,
quebrando vidraças.
Mulher de diretor de presídio foi morta
Os atentados começaram em 26 de outubro, com o assassinato da mulher de
Carlos Alves, Deise. Ela foi morta quando chegava em casa com um tiro
pelas costas. Na ocasião, a versão oficial foi de incidente isolado.
Santa Catarina tem madrugada violenta
Por alguns dias, Alves ficou afastado, mas reassumiu o cargo no início do mês.
Valter Mendes, da Associação dos Advogados Criminalistas de SC,
criticou a recondução de Alves ao posto logo depois do assassinato da
mulher, quando tudo já indicava que existia o confronto dele com as
facções.
Desde então, Alves já enfrentou duas acusações de torturas e
maus-tratos, que supostamente seriam excessos cometidos na investigação
da morte de sua mulher.
O diretor do Deap (Departamento de Administração Prisional), Leandro
Lima, defendeu o subordinado Alves e negou que aconteçam torturas na
cadeia.
A cadeia tem 1.200 presos. O sistema prisional catarinense tem 17 mil condenados, mas capacidade para apenas 11 mil.
Para piorar, existem 10 mil mandados de prisão em aberto - muitos
deles, de criminosos que estão nas ruas e agem comandados por chefes
presos.fonte:uol florianóples/camocim belo mar blog