O comediante chegou a ter o
problema controlado, mas apresentou uma infecção pulmonar e retornou à
internação. Ele seguia em sessões de fisioterapia respiratória e motora
diariamente, somadas a antibióticos.
O
ator também já foi submetido a uma laparotomia exploradora,
procedimento cirúrgico que serve para revelar um diagnóstico. Essa
cirurgia fez com que Chico Anysio tivesse um segmento de seu intestino
delgado retirado.
No final de 2010, ele foi levado ao mesmo hospital com falta de ar.
Após uma obstrução da artéria coronariana ser encontrada, passou por uma
angioplastia, procedimento para desobstrução de artérias. Após 110
dias, teve alta em março do ano passado.
Com fortes dores nas costas, o humorista foi novamente internado em
novembro. Ficou no hospital durante cinco dias, para receber medicação
intravenosa devido a problema antigo nas vértebras que provocava dor. No
fim de novembro, teve febre e os médicos descobriram uma contaminação
por fungos, tratada com antibióticos. No começo de dezembro, retornou
ao hospital com infecção urinária e ficou internado por 22 dias. Um dia
depois, voltou ao Hospital Samaritano.
Nos momentos mais críticos, quando esteve no hospital entre dezembro de
2010 e março de 2011, Chico necessitou da ajuda de aparelhos para
respirar e se comunicava com médicos e familiares por meio de mímica.
Durante o período pós-operatório, houve o diagnóstico de um tamponamento
cardíaco, que acontece quando o sangue se acumula entre as membranas
que envolvem o coração (pericárdio).
Durante o período de internação, que alternou momentos no CTI e em
unidades intermediárias, Chico Anysio apresentou quadros de pneumonia e
passou por sucessivas broncoscopias. As infecções foram tratadas com
uso de antibióticos.
Rádio e TV
Foi no Rádio Guanabara, ainda nos anos 50, que os seus tipos cômicos
começaram a surgir. Até o “talento para imitar vozes”, como o proprio
Chico descreveria em seu site, evoluir para a televisão. A estreia
aconteceu em 1957, na extinta TV Rio, no programa “Aí vem dona Isaura”.
Foi lá que o Professor Raimundo teve sua primeira aparição no vídeo,
como o tio da protagonista que vinha do Nordeste — até então o programa
só havia sido veiculado pelo rádio.
“Até tinha uma coisa de sentar para criar, mas uns nasceram pela voz,
outros pelo tipo, pela personalidade, pela caracterização. Sempre fiz
questão de que eles fossem encontrados sem que eu estivesse presente.
Que alguém dissesse: "'Na minha terra, tem um Pantaleão. No Rio tem
muito Azambuja’”, explicou o humorista ao “Estado de S. Paulo”, em 2009.
Num tempo em que ainda não existiam contratos de exclusividade, Chico
pôde fazer participações especiais em programas de outras emissoras e em
chanchadas da Atlântida.
O “Chico Anysio Show”, seu primeiro programa de humor, foi lançado no
início da década de 60. Foi ao ar pela TV Rio, depois pela Excelsior e
em 1982 voltou a ser exibido pela Rede Globo — onde o humorista já
trabalhava desde 1969.
Mas foi na Globo que teve seus programas humorísticos de maior sucesso e
onde desenvolveu a maioria de seus personagens. Entre as atrações,
destaque para “Chico city” (1973-1980), “Chico total” (1981 e 1996) e
“Chico Anysio show” (1982-1990).
Alguns desses personagens quase que se misturam à história da televisão
brasileira, como o ator canastrão Alberto Roberto, o pão-duro Gastão
Franco, o coronel Pantaleão, o pai-de-santo Véio Zuza, o velhinho
ranzinza Popó, o alcoólatra Tavares e sua mulher Biscoito (Zezé Macedo) e
o revoltado Jovem.
Com o passar dos anos, novos tipos eram criados e incorporados ao
programa: o funcionário da TV Globo Bozó, que tentava impressionar as
mulheres por conta de sua condição; o mulherengo e bonachão Nazareno,
sempre de olho nas serviçais; o político corrupto Justo Veríssimo; e o
pai de santo baiano e preguiçoso Painho são alguns dos mais populares.
Apresentada como quadro em outros programas desde a década de 1980, a
“Escolinha do Professor Raimundo” tornou-se uma atração independente em
1990. No ar até 2002, o humorístico lançou toda uma geração de
comediantes. Entre os “alunos” revelados pelo “professor Chico” estão
Claudia Rodrigues, Tom Cavalcante e Claudia Gimenez.
Chico também atuou em novelas e especiais da Globo, como “Pé na jaca”
(2007), “Sinhá Moça” (2006), “Guerra e paz” (2008) e “A diarista”
(2004). Chico Anysio também teve um quadro fixo no Fantástico por 17
anos (de 1974 a 1991), e supervisionou a criação no programa “Os
Trapalhões” no início dos anos 90.
Cinema
A incursão mais recente de Chico Anysio no cinema foi como dublador. É
dele a voz do protagonista da animação “Up - Altas aventuras", animação
do estúdio Pixar. Antes disso, o humorista fez uma participação
especial no recordista de bilheteria “Se eu fosse você 2” (2008), de
Daniel Filho. “Nos créditos finais fiz questão de colocar ‘senhor
Francisco Anysio’. Ele é um astro, merece ser tratado com toda
reverência”, explicou o diretor em entrevista ao
G1 durante o lançamento do longa.
Em 1996, o humorista interpretou o personagem Zé Esteves, pai da
personagem-título, em “Tieta”, de Cacá Diegues. O trabalho coincidiu com
o aniversário de 25 anos da estréia de Chicono cinema, na
pornochanchada "O doce esporte do sexo". Antes havia participado de
comédias como "Mulheres à vista" e "Cacareco vem aí".
Em 2011, em sua última aparição pública, recebeu o prêmio especial do
Júri do Festival do Rio pelo seu desempenho no longa “A hora e a vez de
Augusto Matraga”, do diretor Vinícius Coimbra.
"O filme é importantíssimo, a obra é linda. Vinícius realizou algo
quase inacreditável. É um filme que, tenho certeza, Sergio Leone
assinaria com alegria", destacou o bem humorado Chico, que fez questão
de receber o Troféu Redentor pessoalmente, mesmo de cadeira de rodas.
Literatura e artes plásticas
Além de se dedicar ao humor, Chico também foi artista plástico.
Apaixonado pela pintura, retratou paisagens ao redor do mundo a partir
de fotografias que tirava dos países que visitava. Realizou exposições
de seus quadros em diversas galerias do Brasil e chegou a afirmar que
gostaria de ter dedicado mais tempo à atividade.
“Porque teria tido mais tempo para aprender, para melhorar. Teria mais
tempo para me tornar conhecido e aceito, para vender meus quadros por um
preço melhor. Cheguei a admitir que a pintura seria meu emprego da
velhice, mas não vai ser, porque ninguém está comprando nada de obra de
arte, e pintar para guardar é terrível”, disse em entrevista à “Folha
de S. Paulo”, em 2007. Foi autor de 21 livros, tendo publicado vários
best-sellers na década de 70, como "O Batizado da vaca", "O telefone
amarelo" e "O enterro do anão". Sua última publicação foi “O canalha”,
lançada em 2000.
“É a história do cara que participou de todos os governos, desde Eurico
Gaspar Dutra até o primeiro mandato de Fernando Henrique. Foi ele o
responsável por todas as canalhices que ocorreram de lá para cá, como
dar um revólver de presente a Getúlio Vargas”, explicaria o escritor
Chico Anysio em entrevista à revista “Época”, no mesmo ano.
Outra de suas obras de destaque na literatura é o bem humorado manual
“Como segurar seu casamento”, também de 2000. Na época, advertiu os
leitores: “Não dou conselhos, transmito os erros que cometi e foram
cometidos em cinco casamentos. Conviver é a arte de conceder. Essa troca
de concessões gera a convivência harmônica”, comentou.
Carreira esportiva
Caçula de oito irmãos, Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho nasceu
no dia 12 de abril de 1931, no município de Maranguape, no Ceará. A
cidade constantemente era citada de forma saudosa pelo humorista – seu
personagem mais popular, o Professor Raymundo, era de lá.
“Maranguape, cidade de que tanto falo, representa uma grande saudade.
Foi um pequeno paraíso, o Éden da minha infância durante gloriosos anos.
Foi lá que aprendi a ler sozinho”, escreveu o humorista em seu site
oficial.
Aos 7 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, após a falência da empresa
de ônibus da família. Morador do Catete, contrariou a vontade do pai e
do irmão mais velho — botafoguenses convictos — e se tornou vascaíno.
Sonhava em ser jogador de futebol.
Mas a carreira esportiva logo foi esquecida, quando Chico passou em
testes para ser locutor e ator da Rádio Guanabara. Ele ficou em segundo
lugar, perdendo apenas para Silvio Santos.
Nos anos 50, também trabalhou nas rádios Mayrink Veiga, Clube de
Pernambuco e Clube do Brasil. Foi na primeira que criou o programa que
se tornaria um de seus maiores sucessos, "Escolinha do Professor
Raymundo", inicialmente composta por três alunos: Afrânio Rodrigues (o
que sabia tudo), João Fernandes (o que não sabia nada) e Zé Trindade (o
que embromava o professor).
Apesar da tentativa de se tornar um galã de radionovelas, sua veia
humorística se destacava desde o início. “A rádio Guanabara descobriu
meu jeito para imitar vozes. Neste dia perdi minha chance de ser um
Tarcísio Meira”, contou o comediante em seu site. Foi assim que começou a
compor os mais de 70 tipos cômicos que marcariam sua carreira.
Casamentos e filhos
O primeiro de seus casamentos foi aos 22 anos, com a atriz Nancy
Wanderley. Depois foi a vez de Rose Rondelli. Sobre a união com a
cantora e ex-frenética Regina Chaves, dizia mal se lembrar. Já com
Alcione Mazzeo, rompeu a relação por conta de um ensaio nu. Mas foi seu
matrimônio com a ex-ministra da Economia do governo Collor, Zélia
Cardoso de Mello — com quem teve dois filhos — que provocou mais
polêmica. "Passou a ser uma pessoa de meu desagrado total. Fui um biombo
para ela”, disse Chico à revista “Isto É”, em outubro de 2000.
Antes, porém, teve seis filhos, entre eles os atores Lug de Paula
(famoso por interpretar o Seu Boneco, da “Escolinha do Professor
Raimundo”), Nizo Neto (o Seu Ptolomeu, do mesmo programa, também
dublador) Bruno Mazzeo (ator e roteirista). Chico também era tio do ator
Marcos Palmeira, filho do cineasta Zelito Vianna, irmão do humorista; e
da atriz Maria Maya, filha de Cininha de Paula, sobrinha do humorista.
Em novembro de 2009 foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, a
mais alta comenda do governo brasileiro na área. Da vida, dizia levar
apenas um arrependimento: “Me arrependo enormemente de ter fumado
durante 40 anos.”