Local recebe flores e orações. Parentes das vítimas do incêndio que matou 242 pessoas exigem providências para que tragédia não se repita.
Uma tragédia que abalou o país completa um ano na próxima segunda-feira (27): o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande Do Sul, que matou 242 pessoas.
Neste sábado (25), parentes e amigos se reuniram em Santa Maria em um congresso internacional para exigir a punição dos responsáveis e cobrar providências para que o desastre não se repita.
A Organização das Nações Unidas (ONU) enviou uma carta pedindo mais prevenção e consciência da sociedade. Das oito pessoas denunciadas pelo Ministério Público, sete respondem pela tragédia.
“Não existe superação, o que existe é a gente aprender a conviver com a falta física dos nossos filhos”, diz o pai de vítima João Cechin.
“A força está nisso, em memória do filho. Em memória das outras 241 vítimas e da possibilidade de que não ocorra com os nossos netos e com os filhos mais moços que nós temos”, acrescenta o pai de uma vítima Walter Cabistani.
Um ano depois da tragédia e Santa Maria ainda parece longe de entender o que aconteceu na pior noite da história da cidade. Na frente da boate, as fotos persistem. Os nomes e os sorrisos também. O local onde tantas vidas se perderam ainda chama a atenção.
“Sem explicação. A gente se arrepia só de passar perto”, diz o metalúrgico Marcelo Guterrez.
Até hoje, o interior do prédio continua em escombros. A Justiça já determinou que os proprietários façam uma limpeza. Mas, por enquanto, o local permanece como uma espécie de memorial, onde muita gente deixa flores e faz orações pela memória das 242 vítimas. Uma forma de lembrar que ainda há um longo caminho a ser percorrido.
“As vidas não voltam mais. O que deve ser feito é uma mobilização muito grande para que isso não ocorra mais, não só em Santa Maria como em qualquer lugar do mundo”, ressalta a professora Jane Bivotto.
O fogo na boate Kiss começou durante um show da banda Gurizada Fandangueira. As faíscas de um artefato pirotécnico usado pelo vocalista atingiram o teto, como mostra um vídeo gravado no celular de uma das vítimas e divulgado pela polícia.
Mas, para muitos, não houve tempo. Com apenas uma saída, obstruída por barras de ferro, os jovens que superlotavam a Kiss tiveram dificuldades para deixar o local. O veterinário Gustavo Cadore ficou dez dias em coma e teve os braços queimados, mas escapou.
“Eu cheguei em uma porta que estava fechada. Teve uma hora em que a esperança acabou. Mas me veio a imagem dos meus pais e aquilo me deu uma força. Eu consegui sair. Quando me recuperei, estava no estacionamento de um supermercado que tem em frente”, lembra.
Os investigadores descobriram que a espuma usada como revestimento acústico foi responsável pela maioria das mortes. Ao queimar, ela liberou cianeto. A fumaça tóxica asfixiou as vítimas.
A Polícia Civil responsabilizou 28 pessoas – 16 criminalmente –, inclusive bombeiros e funcionários da prefeitura. Mas o Ministério Público ofereceu denúncia apenas contra oito: dois bombeiros por fraude processual; um ex-sócio da boate e um contador por falso testemunho; e quatro por homicídio doloso – os donos da Kiss, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, e os integrantes da banda Marcelo dos Santos e Luciano Leão. Todos respondem em liberdade.