29/01/2012 20h53
- Atualizado em
29/01/2012 21h18
Eles frequentavam o curso de informática no sexto andar do prédio.
Três não trabalhavam no local, e uma delas é funcionária da TO Tecnologia.
Do G1, com informações do Fantástico
Quatro alunos do curso de informática, que era ministrado três vezes
por semana no sexto andar do Edifício Liberdade, não foram à aula na
quarta-feira (25) e conseguiram se escapar do
desabamento do prédio.
Marcel, Mario e Luiz não trabalhavam no prédio, mas frequentavam o
curso de informática, que começava às 18h30 e terminava às 21h. Uma
quarta pessoa, que também faltou à aula, é funcionária da empresa TO
Tecnologia, mas não quis gravar entrevista.
Era um curso avançado em tecnologia da informação. Quem dava as aulas
era Omar Mussi, especialista respeitado na área. Na primeira fila,
sentavam-se Marcelo Rebello e Yokania Bastone Mauro. Logo atrás
sentavam-se Sabrina Prado, Priscilla Montezano e Bruno Gitahy Charles.
Luis Leandro de Vasconcelos e Flávio Porrozzi completavam a turma
naquela quarta-feira (25). Nenhum deles escapou. O lugar de Luiz, na
primeira fileira, estava vazio. Assim como a última mesa, onde ficavam
Mário e Marcel.
O cansaço venceu Luiz de uma forma que não acontecia havia tempo. “Eu estava muito cansado. Por isso, não fui à aula”, contou.
Novo emprego e carona
Marcel foi chamado para uma reunião em uma universidade perto do
Edifício Liberdade. Ele foi acertar os últimos detalhes do novo emprego
como professor.
Da universidade, Marcel iria direto para o curso de informática. “Só
que a reunião atrasou. Ainda dava tempo de ir ao curso, saindo às 20h eu
conseguiria chegar. Era muito próximo, eu conseguiria chegar
tranquilamente”, disse.
Mas os planos mudaram quando o novo chefe pediu uma carona. “Ele
[Marcel] ficou até meio sem graça, porque eu vi que existia algum outro
compromisso que eu não sabia qual era. Eu perguntei: ‘Marcel, não vai
atrapalhar em nada a carona?’“, contou o chefe Sérgio.
“Eu falei: ‘Está bom, dou a carona. Vamos’. Ainda vou mais cedo para
casa ver se ainda dá tempo de pegar minha filha acordada”, acrescentou
Marcel.
Assim que Sérgio desceu do carro, Marcel ligou o rádio. “Foi quando eu
ouvi a primeira notícia sobre um desabamento no Centro da cidade. Falava
sobre o prédio anexo ao Teatro Municipal. Eu sabia que era a área do
prédio onde eu estaria, mas eu não pensei na coincidência de ser
exatamente o mesmo prédio”, lembra.
No caminho, Marcel resolveu checar os e-mails. Às 20h18, o professor
Omar escreveu: “Vocês hoje não vieram ao curso e fiquei preocupado”.
Isso foi 15 minutos antes de o prédio desabar. A mensagem foi enviada
pelo professor para Marcel e Mario.
Avó salva neto
Mario também faltou ao curso, mas tinha decidido isso mais cedo. “Por
volta de 16h20, minha mãe me ligou para falar da minha avó, que ela
estava meio febril e que seria bom a gente dar uma olhada, levar em
hospital e ver o que poderia ser. Como ela tem uma certa idade, a gente
não costuma muito postergar esse tipo de coisa”, contou.
Mario pegou um táxi e levou a avó ao hospital. Não era nada grave. Ela
foi liberada no dia seguinte. “Acho que minha avó me salvou também. Não
só ela, como a história que eu tenho com ela. Se não fosse pela
história, de repente eu não teria vindo. O cara lá de cima soprou no
ouvido da minha avó e falou: ‘Ó, arruma um negócio aí para puxar teu
neto para casa, porque não está na hora’”, se emociona Mario.
‘Vou ou não vou?’
Também não era a hora do Luiz. “Eu não estava lá, entendeu? Podia
estar. As coisas acontecem na vida da gente e não tem muita explicação”,
diz. Na quarta-feira (25), Luiz trabalhou o dia inteiro em casa.
“Eu lembro que por volta de 17h40, mais ou menos, foi a hora que eu
parei de trabalhar. Fui tomar banho e eu estava realmente muito cansado.
Eu estava na dúvida: ‘Vou ou não vou?’. Queria muito ir, não queria
perder a aula, porque o curso estava muito bom. Por outro lado, eu já
estava praticamente dormindo”, comentou.
O cansaço venceu. Luiz dormiu até meia-noite. Foi só aí que ele descobriu o que tinha acontecido.
Notícias
Marcel chegou em casa por volta das 21h. “Vim direto para a televisão
para ver o que estava acontecendo, para tentar identificar o prédio que
tinha caído”, disse. Era o prédio do curso que ele fazia. “A primeira
pessoa para quem eu liguei, quando soube do prédio, foi o Sérgio”,
afirma.
“Eu notei que ele estava com a voz bastante emotiva e chorando. Ele me
agradeceu: ‘Sérgio, obrigado’. Falei: ‘Marcel, não estou entendendo.
Obrigado por quê?’. E aí ele me contou: ‘O prédio que eu iria agora
acabou de cair e a sua carona salvou a minha vida’”, contou Sérgio.
“A gente vê tragédias, acha que consegue se colocar no lugar das
pessoas, mas nessa, como passou raspando, eu conseguia de uma forma mais
real me imaginar ali, olhando os escombros. O dia seguinte foi
terrível”, conta a mulher de Marcel, Flávia.
Não foi a primeira tragédia na família de Marcel. Há 45 anos, ele
perdeu três parentes em outro desabamento no Rio, por coincidência,
também foram três prédios que caíram.
“Isso foi em 1967. Foram meus avós e o meu tio por parte de pai. Eles
estavam nesse desabamento. É muita coincidência, muito acaso. Eu pelo
menos, penso que com certeza tem alguma coisa maior. A gente só tem a
agradecer por estar aqui, não deixar minha família sozinha e continuar
seguindo a vida”, diz.
Na semana passada, Marcel descobriu que o segundo filho está a caminho. Flávia está grávida de nove semanas.
Na tarde de sábado (28), Marcel, Mário e Luiz se encontraram pela
primeira vez depois do desastre. “Não sobrou nada”, constata Mário.
Também foi a primeira vez que eles voltaram ao local do desabamento. “Eu
me lembro de andar na calçada, entrar na portaria e pegar o elevador.
Então, é mais chocante assim”, diz Luiz. “Dá um susto maior ver o que
podia ter acontecido com a gente. Foi muita sorte a gente ter faltado
naquele dia”, comenta Marcel.
“Nós não ganhamos na Mega-Sena, mas na Mega-Sena da vida a gente ganhou”, afirma Mário.fonte G1,com informação do fantastico:postado por camocim belo mar blog