Saúde frágil provocada pela Esclerose Lateral Amiotrófica não deixaria Inês, internada há dois meses, sair do hospital para ver a filha caçula se casar.
Uma filha fez de tudo para ter a mãe por perto no dia mais importante na vida das duas. Quatro dias atrás, o casamento não iria acontecer. Não haveria bolo, nem doces, nem flores. Isso porque a convidada mais importante não poderia participar da cerimônia.
“A gente estava pensando em cancelar tudo. Eu estava meio sem saber o que fazer e ela começou a chorar. Chorou a manhã inteira. Que ela queria participar, mas não queria que a gente deixasse de fazer”, conta a noiva Camila Silva.
A Inês, mãe da noiva, está internada há quase dois meses. Ela tem Esclerose Lateral Amiotrófica, também chamada de ELA, uma doença sem cura que, aos poucos, vai atrofiando os músculos do corpo. A saúde frágil não a deixaria sair do hospital para ver a filha caçula se casar.
“É um exemplo que tenho. Eu vejo ela sempre sorrindo. Nunca vi ela reclamando em nenhum momento. É uma pessoa muito forte”, conta Camila.
Foi essa força da Inês que deu uma ideia aos médicos. O casamento tinha sim que acontecer, e seria realizado no próprio hospital. Mãe e filha, lado a lado, como deve ser.
Sábado, 8 de novembro. O dia, finalmente, chegou. “Parece que a gente está cercado de anjos”, diz Camila.
Depois de se arrumar, Camila vai até o quarto da mãe. Quando a voz falta, basta um abraço. A Camila ajuda a mãe a se aprontar. A Camila é escritora, tem 27 anos e deixou de trabalhar para cuidar da mãe.
“Não importa o lugar, sabe? O que importa é estar com a família, sabe? É muito importante para a gente”, conta a neta de Inês Mariana Linhares.
A família está pronta. O noivo, Leonardo, também. “Eu considero a Inês uma mãe. Então fazer sem ela presente seria faltar alguém. Acho que a bênção dos nossos pais conta muito no nosso casamento”, conta.
A cerimônia começa e Inês não tira os olhos da filha. Ela conseguiu. Apesar da doença, ela está presente em um dos dias mais importantes da vida de Camila.
A cerimônia teve que ser rápida: a mãe precisa voltar para o quarto. Mas, antes, um registro com a nova família, um de tantos que ficarão na memória da Inês.
“Todo esse processo de internação, cheguei muitas vezes a pensar que minha mãe não poderia estar aqui”, diz Camila.
“Nossos planos são planos de continuar cuidando dos nossos pais e nossa família que se inicia agora. Mais uma família dentro da continuação das nossas famílias”, afirma Leonardo.
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