Ventos de até 96 km/h arrancaram 326 árvores em um violento temporal.
Especialistas explicam o que você precisa saber para se proteger de raios.
Baixada Santista, litoral sul de São Paulo. Sol de rachar e quase nenhum espaço na areia. Um dia normal de verão, com grandes chances de terminar com um temporal.
E os bombeiros precisaram ser rápidos: "Pessoal, vocês sabem que tem uma tempestade de raios e que é perigoso ficar aqui?”, orienta a tenente Karoline Burunsizian, Corpo de Bombeiros de Guarujá - SP.
“Estou saindo para evitar o pior”, diz um frequentador da praia.
“Eu acho que só por causa desses óbitos que deu esses dias que o pessoal saiu. Porque senão, eles não respeitariam. Eles ficaram com medo”, diz a tenente.
As mortes que assustaram os banhistas foram na última segunda-feira (29) em Praia Grande, a 50 quilômetros do Guarujá. Quatro pessoas da mesma família foram atingidas por um raio: Zenildo, coronel aposentado da Polícia Militar; a mulher dele, Andrea, a sobrinha do casal, Kátia, e o marido dela, Luciano.
Era um dia de sol e praia lotada. No meio da tarde, começou a ventar muito e o tempo mudou. As pessoas começaram a sair da praia, mas a família do coronel aposentado ainda estava na areia e tentou se abrigar debaixo do guarda-sol. Foi nesse momento que o raio caiu. As vítimas estavam a 100 metros dos prédios da orla, que tem para-raios.
O irmão de Zenildo também estava na praia: “Não escutei nada. Não vi clarão nenhum e os quatro caíram. Eu pensei que eles estavam brincando comigo”, lembra Zacarias Peixoto, irmão de Zenildo.
Outras pessoas correram para ajudar, até a chegada do resgate, mas não havia o que fazer.
“Isso que foi o mais assustador. Você está aqui para passar o Ano Novo, para se divertir e não sei o que, e você morre”, diz Ira Costa, testemunha.
A tragédia poderia ter sido ainda maior. “Nós estávamos separados por uns quatro, mais ou menos, dessa família”, conta a dona de casa Jovanete Souza.
Jovanete e a família estavam na praia desde cedo e não queriam ir embora. “Quando chovia a gente continuava na praia. Porque eu, pessoalmente, prefiro. É muito melhor na praia sem aquele calorão”, diz Milena Garrido Souza, de 14 anos.
Só que naquele dia tinha alguma coisa estranha: “O temporal que fechou foi muito diferente do que a gente já estava acostumado a ver”, lembra Jovanete.
Começou a chover dentro do guarda-sol e a família resolveu ir para casa. O pai ainda esperou a mãe e as meninas irem até o mar tirar a areia do corpo. “Foi nesse momento que o raio caiu, um barulho ensurdecedor, coisa absurda. E a sensação que eu tive é que desceu um risco de fogo neles”, conta o pai Lázaro Aparecido de Souza.
“Eu apaguei, eu não ouvi barulho, não ouvi clarão, não ouvi nada”, diz Jovanete.
A mãe e as duas meninas foram atingidas pelo raio. Escaparam por pouco. Só tiveram ferimentos no rosto ou maxilar. “2014 pra mim, vai ser um ano a ser celebrado eternamente. Enquanto vida eu tiver, vai ser um ano em que Deus me deu a condição de reviver”, destaca Jovanete.
Na madrugada daquela segunda-feira, um violento temporal já tinha causado destruição em São Paulo. Ventos de até 96 km/h arrancaram 326 árvores. Foram 359 raios e 3.913 relâmpagos riscando os céus, como mostram imagens inéditas do temporal que você vê no vídeo acima.
“São cerca de 50 milhões de raios por ano, o que coloca nosso país no primeiro lugar do mundo na quantidade de raios. Então, as pessoas têm que estar atentas, principalmente, no verão”, alerta Osmar Pinto Junior, coordenador ELAT - Grupo de Eletricidade Atmosférica/Inpe.
Na praia, a tenente do Corpo de Bombeiros diz o que fazer quando o tempo fecha: “Saia da praia, saia do mar. Não só da água, mas saia da praia também e procure um lugar seguro”, diz ela.
Nunca debaixo de um guarda-sol, como fez a família que morreu em Praia Grande.
“O guarda-sol é uma coisa pontiaguda e que tem uma estrutura metálica em geral. Então, o raio vinha caindo próximo ao local e desviou em relação ao guarda-sol. Outra coisa também importante nesse caso é: por que aconteceu uma tragédia? Porque as pessoas estavam agrupadas. Evite de ficar em grupos”, orienta Osmar.
Alexandre Piantini, professor da Universidade de São Paulo, explica por que os para-raios da orla não protegeram as famílias. “O objetivo dos para-raios é proteger as instalações onde eles estão instalados. Não é que o para-raios falhou, a função dele não é proteger o que está fora”, avalia o professor de Engenharia Elétrica - POLI/USP.
Mas então, qual é o jeito mais seguro de se proteger dos raios? “Buscar abrigo em um lugar seguro, um shopping center, um prédio grande, escola”, ele diz.
Ficar dentro do carro é seguro? “Sim, as pessoas devem ficar com os vidros fechados e sem tocar nas partes metálicas do carro”, ensina Piantini.
E calçado de borracha, protege mesmo? “Se a pessoa estiver de chinelo, ou sapato de borracha, a corrente que vai passar através do corpo, vai ser menor. Ou seja, vai diminuir o risco de um acidente mais grave”, explica o professor.
E dentro de casa? “Dentro de uma residência ainda existem riscos. Não fale ao telefone com fio, não fique conectado ou tocando nenhum objeto ligado à rede elétrica.”, explica Osmar Pinto Junior.
“Evitar ficar próximo a janelas, tomadas, lâmpadas, torneiras, não lavar prato quando está chovendo. São dicas para diminuir o número de acidentes”, orienta Piantini.
“O problema é que a gente escuta todo tipo de graça, inclusive: ‘se eu tiver que morrer vou morrer, e eu não vou sair daqui’", diz a tenente do Corpo de Bombeiros.
“Antes de começar a chover a gente não vai sair não”, avisou o jovem Bruno à tenente na praia.
“Antes de começar a chover a gente não vai sair não”, avisou o jovem Bruno à tenente na praia.
Era o que pensavam mãe e filhas atingidas pelo raio na segunda-feira.
“Isso mesmo que a gente pensa, fala: ‘um raio pode atingir qualquer lugar, imagina que vai cair em cima de mim?’ Então hoje a gente já pensa diferente: um raio pode cair em cima de mim, como pode cair em cima de qualquer uma pessoa”, diz Jovanete.
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