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sábado, 4 de julho de 2015

"O BOCA- DE- BAGRE, LARGO DAS CACUNDAS E SUMIDO DOS QUARTOS, ERA NAMORADOR ".


Por Raimundo Bento Sotero (foto), Poeta e escritor camocinense.

O José Antônio, mais conhecido por Boca-de-Bagre, isto por que a boca dele, sendo apenas um risco retilíneo, mais parecia à boca do peixe; daí a alcunha. O bicho, como já se pode ver pelo apelido, era despossuído de beleza, tendo as pernas ligeiramente arqueadas; sendo um tanto saliente de abdômen, largo das cacundas e sumido dos quartos; ah, vale aqui salientar que ele tinha também um ligeiro estrabismo; mas, a despeito disto, parece que tinha azougue para as ditas de vida fácil (pois sim!), tendo uma espingarda em cada lugar; do saco à Madeira-Cortada, sem falar das quengas do Buriti, da Lagoa-das-Pedras, do Tremedal e do Tapuiú... era, assim, mais mulherengo do que aqueles de fama, tais como o Chico da Zefa, o Policarpo, o Antônio Pereira e o Chico Sabino. Mas deixemos de falar de coisas estas e aquelas e vamos direto ao assunto que interessa: Ora, o José Antônio, mesmo antes de ser o Boca-de-Bagre, já era raparigueiro, sendo que meteu cornos na mulher bem antes do aniversário de mês do casamento, pois apareceu pelo lugar uma bichinha metida a sirigaita, vinda da Barra dos Remédios, a qual deu de arrastar a asa para ele, passando em frente de sua casa não sei quantas vezes por dia, sob o pretexto disto e daquilo e quando ele aparecia pelo alpendre a dita cuja só faltava se desmantelar no releixo, parecendo que era de mola e a qualquer momento iria se desconjuntar, o que ensejava algum comentário jocoso deste ou daquele: “Rebola não; dá pra mim!”; isto sem embargo daquele olhar comprido, oblíquo, pidão e, como se isto já não fosse o bastante, ainda vinha com um generoso decote, mostrando até as raízes dos seios, estes que, intumescidos, se mostravam rebeldes, querendo pular fora do corpete, parecendo mesmo desafiar a lei da grávida... Tem lá quem resistisse a tanta tentação? Tentar evitar bem que tentou; assim, quando ela passava, ele desviava os olhos do fogo dos olhos dela, fazia complicadas contas de cabeça, pensava nos ensinamentos do catecismo do tempo de crianças; nos dez mandamentos; mas não havia jeito, pois a um descuido já estava de novo de olho durinho no fornida das coxas dela, no redondo das ancas, no cavado do baixo-ventre, no volume dos seios... Arre, quem haveria de resistir? Só se fosse um santo; mas como não era, abriu dos peitos, deu com os burros n’água, afundando-se de vez, caindo a todo pano naquele mar de lama do pecado; mas tão bonzinho, de tal modo que passou mais de ano naquele licute de não ter fim, resultando disto que quase se separa da mulher, esta que suportou poucas e boa; mas se manteve firme. Certo que uma vez arrumou o matulão, pôs às cacundas e arriou na casa da mãe; mas esta foi logo dizendo: “Volte por cima das mesmas pisadas! Não foi você quem quis? Eu não lhe aconselhei, dizendo que ele não prestava? Pois aguente!”. Ela meteu o rabo entre as pernas, voltou e nunca mais foi embora, suportando a partir daí todo tipo de traquinagem dele, com volta, como dizem nossos pescadores!

Meus amigos, pelo exposto, não condeno o Boca-de-Bagre por esta primeira derrapada, pois com aquela sujeita da Barra dos Remédios quem não cairia? Nem eu, que já nasci fiel por natureza (risos)!

Pois bem, depois desta primeira infidelidade, vendo que a mulher caíra dos quartos, ele danou-se numa depravação dos diabos, arranjando de uma só vez mais de dez cotrovias, deste modo não sabendo quando anoitecia nem com qual iria ter conjunção carnal, saindo com a que encontrasse por acaso e naquelas horas acabava trocando de nome, chamando esta daquela, o que rendia uma mágoa para não ter fim e quase sempre acabava em tabefes, pois a quenga desfeiteada pela troca do nome ia procurar a outra para tomar satisfação, o que acabava em pancadaria, olhos roxos, cabelos arrancados e beiços partidos. Só depois de muito tempo, quando a idade começou a cobrar seu preço, o Boca-de-Bagre foi se desfazendo do seu harém; mas nunca deixando de lado a sem-vergonhice de vez, tendo sempre algum contrabando. Por outro lado, a mulher, embora aceitando quase tudo dele, vez por outra tinha lá suas pontas de ciúmes, principalmente quando ele arranjava raparigas vindas de Parnaíba, pois, dizem , aquelas tinham lá um qualquer que seja que apaixonava mais do que as outras, sendo difícil largar o licute arranjado com uma delas. Pois bem, de certa feita, desconfiada de que o marido estivesse com uma sirigaita lá das bandas do Piauí, a mulher botou um pano na boca e telefonou para o namorador, com insinuações amorosas, fingindo ser a quenga, ao que ele, reconhecendo-lhe a voz, retrucou cheio de moral: “Minha senhora, não me telefone mais, que agora sou um novo homem e apaixonado por minha mulher e não quero mais saber de outra que não seja ela. Faça-me o favor de não me ligar mais!”

Ora isto rendeu mais de um ano de felicidade conjugal, pois a mulher, iludida, julgou que aquilo fosse verdade, isto até descobrir que tudo não passara de engodo! Ah Boca-de-Bagre mais cotrovieiro do cão!
Fonte:RC/CBM

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