Cláudia Rodrigues - Repórter da TV Brasil
Há mais de um mês o fogo consome parte da Floresta Amazônica na Terra Indígena Arariboia, no município de Amarante, cerca de 150 quilômetros de Imperatriz, no sudoeste do Maranhão. Apesar dos esforços de 200 brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), as chamas já devastaram cerca de 35% da área de 413 mil hectares, onde vivem 12 mil indígenas da etnia Guajajara e aproximadamente 80 awá-guajás, indios que evitam o contato com o homem branco e procuram viver isolados na mata.
Na Aldeia Guaruhu, uma das quatro bases de combate ao fogo montadas pelo Ibama ao sul da Terra Arariboia, a maior preocupação dos índios guajajaras é com a sobrevivência dos awá-guajás. Os brigadistas que atuam próximo à aldeia já encontraram vestígios como pegadas e utensílios domésticos dos awá-guajás.
Segundo o cacique Osmar Guajajara, a proximidade dos awá-guajás demonstra que estão assustados e fugindo do fogo. O cacique responsabiliza os madeireiros pelo incêndio. “Este fogo veio dos madeireiros que ficam atentando muita gente nesta mata, tocando fogo, matando caça, levando a madeira, e destruindo a terra, acabando com tudo”.
Segundo Bruno de Lima Silva, da Frente de Proteção Etno-Ambiental Awá-Guajás da Funai, o histórico de fuga do grupo de 80 awá-guajás é um reflexo da situação de descaso ambiental no estado do Maranhão. “Todas as comunidades isoladas estão ameaçadas e, aqui, o perigo é maior. A gente está dentro do Maranhão, em 2015, e ainda existem índios fugindo para dentro do que resta de mata, por causa de madeireiros”.
No local desde a última terça-feira (13), Gabriel Constantino Zacarias, coordenador nacional do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Ibama, defende as estratégias adotadas até o momento para controlar o incêndio: a abertura da vegetação para criação no solo de linha de defesa, de cerca de 3 metros, com o objetivo de cercar as chamas, e impedir que elas se propaguem mata adentro.
Na frente do combate, os brigadistas, que têm como instrumentos facões, foices e muita disposição, trabalham em média dez horas por dia sob uma temperatura acima dos 40 graus Celsius. Eles estão acampados em barracas na Aldeia Guaruhu. Muitos estão há mais de 20 dias combatendo o incêndio, entre eles índios que vieram de outros estados, como o xerente Pedro Paulo Santos, natural do Tocantins.
“A partir do meio-dia os focos de incêndio reaparecem porque a temperatura está muito alta e vegetação seca demais. O pior é o vento que muda de direção a todo momento, e carrega galhos ou folhas incandescentes que geram novos focos”, disse.
Os guajajaras também montaram a própria brigada: os Guardiões da Terra Indígena Arariboia, liderada por Olímpio Santos, que na sexta-feira retrasada, dia 9, esteve no Ministério do Meio Ambiente, em Brasília, para cobrar a compra de retardantes – produto químico que aumenta o poder de refrigeração da água – e o uso de aeronaves no combate ao incêndio.
“Hoje estamos com grande tristeza, com nossos irmãos Awá-Guajá em risco de morte por causa desse fogo que está arrodeando a rota onde vêm pegar água pra beber. Este incêndio é criminoso. Foi no dia 21 de setembro que o fogo começou, no dia da árvore”, disse chorando o líder indígena.
Na última quinta-feira (15), uma equipe da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), composta por um médico e duas enfermeiras chegou ao local. Devido à fumaça e às altas temperaturas, várias crianças e adultos indígenas apresentam tosse, rouquidão e outros problemas respiratórios. Existem ainda casos de diarreia devido ao consumo de água de fontes contaminadas. São constantes as quedas de energia elétrica na aldeia Guaruhu, o que impossibilita o uso de bombas de sucção de água de poços artesianos. Segundo os brigadistas, a falta de energia ocorre sempre que troncos queimados caem sobre a fiação elétrica.
Está prevista a chegada de mais 30 brigadistas dos estados do Rio de Janeiro e Tocantins. Pela primeira vez está programado lançamentos aéreos de 2 mil litros de água com retardante, por duas aeronaves cedidas pela Aeronáutica. Além dos brigadistas do Prevfogo, as operações na Terra Araribóia contam o apoio do Exército (50º Batalhão de Infantaria da Selva) e do Corpo de Bombeiros.
Na última semana, Márcio Yule, servidor público que há 16 anos comanda a superintendência do Prevfogo de Mato Grosso do Sul, assumiu a coordenação do combate ao fogo na área indígena. Ele está otimista com o resultado dos voos para lançamento de água. “A gente acredita que com o combate aéreo e a chegada de mais brigadistas teremos uma diminuição de pelo menos 60% das chamas”.
Edição: Aécio Amado
FONTE:AGÊNCIA BRASIL
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