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sábado, 21 de junho de 2014

O CÉU E O INFERNO DOS GOLEIROS.

DIÁRIO DA COPA
Ao contrário dos verdadeiros torcedores, que cultuam a figura dos atacantes, eu tenho especial simpatia pelos goleiros. Já citei aqui o livro do Peter Handke, O medo do goleiro diante do pênalti, que me foi indicado há mais de 20 anos por um craque da literatura, o escritor Luiz Antônio Assis Brasil, que em matéria de futebol perde de goleada para a mulher, a também escritora Valesca de Assis Brasil. Foi a partir de Peter Handke que comecei a prestar atenção nos goleiros. Salve, Julio Cesar, nosso imperador simpático, que só tomou um gol até agora, aquele incrível gol contra de Marcelo, na estreia contra a Croácia.
Nesta Copa de tantos gols, tenho pensado como nunca no céu e no inferno dos goleiros, mesmo não tendo memorizado o nome de nenhum dos estrangeiros, exceto de Ochoa, aquela muralha mexicana que reduziu nossa autoestima a tal ponto que quando o jogo terminou eu estava tão aliviada que comemorei o empate como uma classificação.

Ochoa conheceu o céu dos goleiros. Salvou o México quando os companheiros da defesa falharam. Foi aplaudido pela torcida mexicana porque pegou bolas que pareciam fadadas a estufar a rede. Foi a estrela daquela partida e chamou a atenção para a figura do goleiro que, em geral, só é destacada pelos comentaristas quando erra.
Quem vai ao estádio ou assiste a um jogo pela TV quer gols. Jogo bom é como o da Holanda com a Austrália, o único que eu assisti no campo, com muitos gols dos dois lados (goleada só tem graça para o torcedor de um lado). Logo, é preciso que o goleiro erre para o jogo ser bom.
Acho mais comovente um goleiro fazer defesas como a que fez Ochoa do que pegar um pênalti. Porque no pênalti o goleiro pode dar sorte de saltar, na intuição, para o lado que o batedor chuta. Numa jogada de ataque, não. Ali é atenção, capacidade de antecipar movimentos, destreza, firmeza e sangue frio. Ou estou errada e essa percepção é coisa de torcedora bissexta, que viu mais jogos nesta Copa do que em qualquer outra?
Se Ochoa conheceu o céu dos goleiros, o inferno, do meu ponto de vista, é o frango que fez o russo Igor Akinfeev chorar. Um russo de músculo e osso chorando me parece uma contradição. Ou um personagem de Tolstoi. Os outros jogadores russos, com aquele olhar frio de Vladimir Putin, não deram a mínima para o goleiro que chorava porque a bola lhe escapou das mãos como se estivesse ensaboada. E é por compaixão ao russo sensível (e por Tostoi e Dostoievski) que amanhã, contra a Bélgica, eu vou torcer pela Rússia.
fonte:Rosane_oliveira/CBM.
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