Série que estreia na quinta, no Viva, "Grandes atores" é uma homenagem que contempla artistas brasileiros de várias gerações da TV
Ney Latorraca lamenta em tom bem-humorado ao comentar a importância do "Grandes atores": "Os brasileiros sabem tudo sobre a vida do Brad Pitt e quase nada da nossa". O programa estreia no Viva na quinta-feira, às 23h30. E Ney é um dos 26 homens que participam do especial de 26 episódios idealizado por Hermes Frederico, nome também por trás do "Damas da TV", exibido em 2013 no mesmo canal.
E, segundo ele, o programa atual segue o mesmo objetivo: fazer um registro do que há de mais precioso na nossa teledramaturgia. "Nem só do pão vive o homem. Estes nossos grandes atores nutriram o povo com arte e talento. Nestes 65 anos de TV, vimos o quanto nossa teledramaturgia avançou. E todos eles contribuíram de forma fundamental para isso", diz Hermes.
Para Fernando Schiavo, o gerente de marketing do Viva, o programa é uma ótima pedida para a comemoração dos cinco anos do canal, e os 50 da Globo. "Decidimos registrar histórias, memórias de gerações, e falar com quem estava disponível. O José Wilker e o Paulo Goulart estavam na lista, mas infelizmente, não gravaram com a gente", afirma Schiavo, referindo-se aos atores mortos no ano passado.
Homenageados
Quem abre os trabalhos é Tony Ramos. Famoso por papéis em novelas como "O astro" (1977), "Rainha da sucata" (1990) e, mais recentemente "O rebu", no ano passado, o ator de 66 anos acumula 50 anos e meio de carreira nas costas. Em seu depoimento, frisa que a profissão exige força de vontade. "As pessoas pensam que as coisas caem do céu, né? Tem muito jovem que fala: como faço para entrar na Globo? Eu falo: Pela porta. Sempre, sempre. Se tentar pela parede bate com a cabeça", brinca e ensina.
Na mesma linha de Tony, gente como Tarcísio Meira, Juca de Oliveira, Mauro Mendonça, Edson Celulari e Ary Fontoura, Mateus Solano, Thiago Lacerda, Cassio Gabus Mendes, Reginaldo Faria, Reynaldo Gianecchini, Miguel Falabella e Marco Nanini também entra naquele túnel do tempo para comentar passagens importantes de suas carreiras, além de traçar paralelos entre vida ficcional e vida real.
Abrir o coração é permitido, por que não? Murilo Benício, por exemplo, relembra a perda dos pais em seu episódio. "Perdi meu pai e minha mãe no espaço de seis meses. A vida ganha outra cor. Fica mais preto e branco. A perda dos pais é uma outra estrada", compara o ator, cujo último papel na TV foi o Jonas Marra, de "Geração Brasil".
Aos 67 anos, Osmar Prado conta que, ao perguntar para a mãe, ainda criança, o que era necessário para ser artista, ouviu uma resposta talvez desanimadora. "Ela me matou no nascedouro, dizendo que pra ser artista tinha que ser bonito, alto. O parâmetro dela era o Rodolfo Valentino", diz ele, citando o ator italiano radicado nos Estados Unidos e morto em 1926.
Diante das câmeras, Lázaro Ramos conta que talvez tenha começado a fazer teatro como alternativa para abrandar a timidez. "Pra mim era muito mais fácil fazer um poema, um versinho e falar numa festa do dia das mães, do que chegar em casa e dizer que amava a minha mãe".
Marcelo Serrado afirma que investiu nas aulas de teatro pelo mesmo motivo. Mas ele é franco ao revelar que sua meta era outra. "Fui um cara extrovertido na infância e na adolescência fiquei mais tímido. Aí fui fazer teatro no colégio pra soltar um pouco essa timidez... E também ficar perto das gatinhas", entrega ele, que em breve estreia um quadro do "Video show" e estará, no segundo semestre, em "Favela chique", de João Emanuel Carneiro.
Prestes a voltar à televisão em março como um vilão em "Babilônia", a sucessora de "Império" Herson Capri recorda-se que largou a faculdade de economia e um "bom salário" para investir em testes para papéis na teledramaturgia. Já Francisco Cuoco, no ar em "Boogie Oogie", revela que a vontade de atuar veio por acaso: ele passeava pela rua quando viu um anúncio para um exame na escola de artes dramáticas.
Relevância na TV
Se hoje Antonio Fagundes é um ator consagrado, ele observa que demorou dez anos para conseguir um papel relevante em novelas. Marcos Palmeira, por sua vez, garante que a insistência foi algo determinante em sua trajetória. "Fui pedir ao Jayme Monjardim para fazer "Pantanal". Ele disse: você não vê esse seu sotaque carioca? Não dá. Insisti e ganhei o papel. A primeira crítica que saiu da novela perguntava como tinham conseguido um pantaneiro que fosse ator", orgulha-se.
Para José Mayer, o Claudio Bolgari de "Império", mais do que conseguir um emprego, a ambição é essencial para quem deseja proliferar na profissão. "É preciso ter ambição no melhor sentido da palavra. Ambicionar, desejar, querer. Essas carreiras longamente plantadas têm um mérito especial", analisa.
Que o diga Luis Gustavo. O ator de 80 anos enche a boca para dizer que tem exatos 65 anos de carreira. Sim, ele estava lá desde que a TV surgiu no Brasil. "É verdade. Estou na TV desde que acenderam a primeira lâmpada", brinca ele, orgulhoso por ter um rol de personagens tão conhecidos do público, como o papel-título de Beto Rockfeller (1978), e o detetive Mário Fofoca em "Elas por elas" (1982).
"Eles não são somente lança-perfume. São mais famosos do que eu. Vão ficar para a história. O pior período da minha vida foi quando Beto Rockfeller terminou. Ninguém queria trabalhar comigo. O Beto era muito forte e marcante".
O sueco Tatá - como Luiz Gustavo é conhecido no meio artístico - divide o lugar nos móveis e utensílios da TV com o mineiro Lima Duarte, outro que deixou seu registro para as câmeras. Lima fala sobre sua formação. "Na elite dos atores brasileiros, se me permite a imodéstia, eu sou o único de formação rural. Eu sou o único caboclo que virou ator", afirma.
Milton Gonçalves, contratado da Globo em 1965, antes da inauguração, lembra até hoje do primeiro salário. "Para mim era dinheiro à beça. A namorada quis logo casar".
Natalia castro
Agência o globo
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