Claudia Jardim
Em meio à disputa entre opositores radicais e moderados na Venezuela, o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, um dos líderes da oposição no país, busca convencer o Brasil de que ele é a alternativa à polarização que mantém o país vizinho em permanente estado de alerta.
Capriles aproveitou a visita de uma comissão de senadores brasileiros a Caracas, na quinta-feira, para apresentar-se à base aliada da presidente Dilma Rousseff como alternativa de estabilidade à Venezuela.
De acordo com os senadores, Capriles pediu ajuda para organizar um encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que Capriles não tem "ilusão" de conquistar o apoio de Lula ou de Dilma. Seu objetivo, no entanto, ainda segundo os senadores, seria convencê-los de que ele seria capaz de dirigir o país de maneira pacífica - em uma eventual transição no poder.
"Esse aceno é para conquistar um espaço que ele não tem", disse o senador Roberto Requião (PMDB-PR), também integrante da comissão.
Capriles foi convidado pelo senador tucano Aécio Neves para ir a Brasília, mas a visita não foi confirmada pela assessoria do governador.
Na reunião com os senadores, Capriles reconheceu o impacto das políticas sociais do presidente Hugo Chávez na redução da pobreza e sua responsabilidade na inclusão dos pobres como atores na vida política.
Capriles repetiu aos senadores discurso que tem construído de olho em angariar a base insatisfeita do chavismo.
"Chávez colocou os pobres à frente e eu vou continuar fazendo isso", disse Capriles aos senadores Lindbergh Farias, Roberto Requião (PMDB-PR) e Vanessa Grazziotin (PcdoB-AM) durante visita dos parlamentares a Caracas na quinta-feira.
"Capriles agora tem um discurso chavista, disse que os pobres têm nome e cara graças ao Chávez", disse Grazziotin à BBC Brasil.
Expoente do grupo moderado da oposição na Venezuela, o governador vem perdendo popularidade entre os opositores que apostam nas posições defendidas por Leopoldo López, dirigente oposicionista que está preso, acusado de incitação à violência durante manifestações antigoverno que terminaram em 43 mortes.
Pacto
O ex-candidato à Presidência pediu apoio do governo brasileiro para convencer o presidente Nicolás Maduro a pactuar uma transição na Assembleia Nacional, controlada hoje pela maioria chavista, caso a oposição vença o pleito de 6 de dezembro.
A preocupação do governador, de acordo com os senadores, é que sem prévio acordo de reconhecimento dos resultados eleitorais haverá uma nova crise política que poderia derivar em "guerra civil".
"É impossível imaginar que sem composição política haverá paz", teria dito Capriles aos senadores.
Os senadores levaram o recado ao número dois do chavismo, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, com quem se reuniram a portas fechadas na tarde da quinta-feira.
De acordo com os parlamentares, Cabello disse que o governo está disposto a reconhecer os resultado e teria alegado que são os adversários que não cumprem os acordos pré-estabelecidos. "O governo não acredita nesse diálogo. Não há confiança entre eles", afirmou Requião à BBC Brasil.
Logo após o encontro com os senadores, Cabello reforçou a desconfiança. "Em 6 de dezembro (data do pleito) sairão os que sempre saem a dizer que, se eles ganham, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) é bom, se eles perdem, o CNE é mau", disse Cabello.
Eleições parlamentares
Para as eleições parlamentares de dezembro, uma das mais difíceis e delicadas já enfrentadas pelo governo bolivariano, tanto governo como oposição afirmam ter certeza de que sairão vitoriosos.
As pesquisas favorecem a oposição. Se confirmada a tendência, a disputa pode abrir caminho à convocação de um referendo revogatório contra o mandato de Maduro.
A comissão de senadores acordou o envio de uma delegação de observadores, composta por parlamentares aliados e oposicionistas, para acompanhar as eleições parlamentares de 6 de dezembro.
Para o analista político Javier Biardeau, professor da Universidade Central da Venezuela, Capriles está "montando o trem da transição" com os vizinhos, utilizando os mesmos mecanismos que ele vem aplicando internamente: defesa de programas sociais e a tentativa de uma construção de um caminho de centro.
"A polarização favorece o governo e Leopoldo López. Capriles, por necessidade, constrói um caminho ao meio, ou desaparecerá", afirmou Biardeau.
O analista afirma que a oposição venezuelana, incluindo os radicais, sabem que precisam do apoio do Brasil. Um exemplo teria sido a recepção amistosa aos senadores da base aliada de Dilma.
No encontro com brasileiros, Capriles reforçou seu distanciamento com a ala radical - López e a deputada cassada Maria Corina Machado. Ele teria insistido: "Já não sou aquele".
Capriles participou ativamente das manifestações que derivaram no golpe de Estado contra Hugo Chávez, em 2002. Ele chegou a invadir a embaixada de Cuba, saltando o muro da sede diplomática, em busca do então vice-presidente Diosdado Cabello.
Na ocasião, manifestantes anti-chavistas mantiveram um cerco à embaixada, cortaram fornecimento de água e luz para obrigar a saída do embaixador e do corpo diplomático. Capriles ficou preso durante alguns meses e depois foi anistiado por um decreto firmado por Chávez.
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