ANIVERSÁRIO
Ferroviário chega aos 81 anos sonhando em recolocar a máquina nos trilhos, tal como estava nos tempos da Rffsa
Rebaixado pela primeira vez em sua existência para a Série B do Campeonato Cearense, o Ferroviário encontra basicamente em sua história os maiores motivos para comemorar os seus 81 anos de fundação, completados hoje.
O Tubarão iniciou até bem o ano, realizando a maior ação de marketing dos clubes locais, que foi a contratação do atacante Iarley, ídolo de várias torcidas e bicampeão mundial de clubes.
Estreou ainda com uma goleada de 7 a 2 no Crato e julgou-se que tudo iria dar certo. Entretanto, a sequência dos jogos, em forma de maratona, solapou os sonhos corais de chegarem ao título. Por fim, o time ficou em sétimo lugar, sendo rebaixado em campo. Agora, tenta na Justiça Desportiva, encontrar brechas em falhas de outros rivais para que possa voltar à Série A do Estadual em 2015.
Deserdado
Mesmo com 81 anos, o Ferroviário vive como que deserdado. Isso porque não existe mais o seu grande patrocinador, a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (Rffsa).
A Instituição era uma sociedade de economia mista, integrante da Administração indireta do Governo Federal, vinculada ao Ministério dos Transportes. Como o Ferrão se originou dos times dos funcionários da Estrada de Ferro, desde sua raiz a empresa fora o seu cordão umbilical. Seus presidentes normalmente eram engenheiros graduados da Rffsa, que já nutriam pelo clube um amor natural.
Mediante à conclusão de estudos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foram transferidos para o setor privado os serviços ferroviários de carga. Essa desestatização ocorreu no período de 1996/1998.
O Ferrão ainda foi bicampeão nos anos 1994 e 1995, nos estertores do patrocínio, que sumiria de vez no biênio seguinte.
"Eu diria que o Ferroviário perdeu pai e mãe quando ficou sem esse patrocínio da Estrada de Ferro", lembra o ex-presidente coral, Rui do Ceará, campeão cearense de 1968 e considerado um dos maiores presidentes que o clube já teve.
Rui lembra que o Ferrão foi o último campeão cearense invicto desde 1968. "Nós, engenheiros da época, notávamos que, nos anos em que o Ferroviário era campeão, o índice de produtividade do transporte de carga aumentava", completa Rui do Ceará, eternamente lembrado pela família coral, mais ou menos como Valdemar Caracas, fundador do clube, já falecido.
Livro revelador
O ex-presidente coral, Evandro Ferreira, lembra o livro "Quando o Futebol Andava de Trem", que cita que os clubes de origem ferroviária foram perdendo a força e até se acabando, quando a Rffsa foi diminuindo o patrocínio. Conforme o livro, existiam centenas de clubes de origem ferroviária, mas que foram se extinguindo. Equipes que até não têm o nome de Ferroviário, têm sua origem na rede ferroviária.
O Ituano, por exemplo, campeão paulista de 2014, tem origem na Estrada de Ferro, tal como Paraná Clube, América (SP) e Rio Grande e Bagé, ambos do Rio Grande do Sul.
Conselheiro questiona modalidade de gestão
O ex-presidente coral, Carlos Mesquita, questiona a modalidade de gestão do Ferroviário do ano de 2014, e diz que a diretoria atual precisa sair por completo, por conta de erros cometidos.
"Nós, conselheiros, questionamos na última assembleia o fato de a diretoria atual ter afastado os antigos cardeais do clube, além de ter criado uma empresa para gerir o Ferroviário, que acabou fracassada. Eles criaram uma empresa chamada "Prado", para gerenciar o clube. Os membros dessa Prado eram os próprios dirigentes e até um funcionário, o Armando Desessards. Para completar, quando vendiam um jogador, 30% eram para a empresa e 70% para o Ferroviário. Isso não podemos admitir", censurou Mesquita.
O presidente atual, Edmilson Júnior, confirmou a criação da tal empresa citada por Carlos Mesquita, mas diz que tudo já foi encaminhado junto ao Conselho Deliberativo para que o contrato seja desfeito.
Programação
Polêmicas à parte, o Ferroviário não ficará sem aniversário. Atualmente o clube está sendo dirigido por Jeff Silva, que assumiu a vice-presidência e montou uma programação de festas, mas apenas para o sábado.
Para o dia, estão previstos, a partir das 9h, uma missa na Barra do Ceará; Jogo festivo entre diretoria, Ex-atletas e Torcida e uma confraternização com pagode e feijoada liberada para a torcida. A diretoria adverte que só terá acesso ao local os torcedores que estejam usando camisas alusivas ao Ferroviário.
ENQUETE
O que fazer daqui em diante?
"Exigir a renúncia imediata de toda a diretoria atual, que fracassou no projeto de soerguer o Ferroviário. Além disso, o clube trazer de volta os conselheiros antigos, como Flávio Assunção e Francisco Neto, para salvar o time"
Carlos Mesquita
Ex-presidente do Ferroviário
Carlos Mesquita
Ex-presidente do Ferroviário
"Seria difícil dizer exatamente o que fazer porque o projeto que eu havia implantado não prestava para muitos conselheiros, mas acho que eles devem se reunir e repensar o clube, buscando investimentos"
Clóvis Dias
Ex-presidente, bicampeão cearense
Clóvis Dias
Ex-presidente, bicampeão cearense
Ivan Bezerra
Repórter
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