APÓS 20 ANOS
FONTE:DN/CBM
A limpeza emergencial do Rio garantirá o retorno do fluxo de barcos entre a BR-116 e a Sabiaguaba
O percurso sobre as águas é tão tranquilo que reforça a característica do Cocó como "local de fuga" encravado na urbe. Um rio de 50 Km de extensão que corta Fortaleza, Maracanaú e Pacatuba e é símbolo contraditório da resistência da natureza e dos males da poluição. Há mais de duas décadas, o Cocó tem a navegação comprometida no trecho entre a BR-116 e a sua foz na Sabiaguaba. Mas, uma limpeza emergencial que está em curso, segundo a Secretaria de Meio Ambiente (Sema), fará o Cocó novamente navegável até o fim de maio.
"Há uma semana não era possível nem entrar com esse barco aqui como estamos fazendo agora", informa o articulador das Unidades de Conservação do Estado do Ceará da Sema, Leonardo Borralho. No passeio feito pela equipe do Diário do Nordeste, na última quinta-feira (23), em parte do trecho compreendido entre as avenidas Murilo Borges e Engenheiro Santana Júnior, o diagnóstico visual é definidor: o rio padece tomado por aguapés e mato. Plásticos e grandes troncos caídos também dividem as águas que, embora poluídas, não exalam odor.
"Com o alto índice de poluição decorrente do lançamento de efluentes da rede de esgoto, temos um excesso de nutrientes no rio, chamado eutrofização, que forma essa vegetação e ela se prolifera rapidamente ", explica Leonardo. De acordo com ele, a vegetação (aguapé) se expande e cobre parcialmente ou totalmente o espelho d'água, prejudica a entrada da luz no ambiente e de oxigênio dissolvido na água. O fato atrapalha a respiração dos peixes e pode causar inclusive morte destes animais.
Este processo repete-se há anos no Cocó e, conforme o representante da Sema, desde 1996, compromete, além da balneabilidade, a navegação. Com a retirada da vegetação e do lixo, que ocorreu em agosto e setembro de 2014 e voltou a ser realizada este mês, já foram coletadas 18 toneladas de resíduos.
O Rio Cocó é também intransitável devido ao processo de assoreamento que sofre, já que em seu curso galhos e troncos caem na água, diminuindo sua profundidade. "Essa vegetação se forma e ilhas vão se constituindo, o que no decorrer dos anos favoreceu a perca da navegabilidade", informa Leonardo.
A ação realizada por trabalhadores que chegam a ficar com 80% do corpo submersos nas águas do rio não é fácil. A vegetação superficial (aguapé) é retirada manualmente e com o auxílio de máquinas. Já a vegetação subsuperficial (mato), segundo Leonardo, "não tem como retirar puxando e é necessário cortar na raiz, mas a profundidade ultrapassa dois metros", explica.
Objetivo da navegação deve ser definido
Para o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), do Jeovah Meireles, a limpeza no rio para torná-lo navegável deve ser analisado com cuidado já que "a dragagem (retirada dos resíduos e de terra do rio) altera a dinâmica do fundo do ecossistema e isto pode afetar a biologia da água". De acordo com ele, há de se analisar a técnica, o método e a época em que o trabalho está sendo executado. Além disso, Jeovah aponta que é necessário definir um objetivo para esta navegabilidade. "É somente para lazer? Ou para controle de cheias e enchentes? Isto seria uma iniciativa boa", opina.
O articulador das Unidades de Conservação do Ceará da Sema, Leonardo Borralho, diz que os trabalhos devem prosseguir até o fim do próximo mês. Após isto, embora não haja plano definido quanto à determinação das atividades específicas de navegação, a ideia, segundo Leonardo, é de "pelo menos devolvê-lo à população" que definirá qual uso fará. Após a o retorno da navegabilidade, as vistorias para limpeza deverão ser feitas a cada sete dias pelos órgãos que fazem, hoje, a ação emergencial.
Divisão do Cocó
Extensão
Com 50 Km entre a nascente e a foz rio, o Rio corta Pacatuba, Maracanaú e Fortaleza
Trechos em Fortaleza
Área I - BR- 116 até a Avenida Murilo Borges (ponte);
Área II - Av. Murilo Borges (ponte) até a Avenida Engenheiro Santana Jr (ponte);
Área III - Av. Engenheiro Santana Jr até a Av. Sebastião de Abreu (ponte);
Área IV- Av. Sebastião de Abreu (ponte) até o fim das áreas salineiras desativadas;
Área V- Das áreas salineiras desativadas até a foz do rio na praia da Sabiaguaba.
Thatiany Nascimento
Repórter
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