Além da extração do pó para a cera, a fibra retirada da folha serve para produzir tarrafas, chapéus e bolsas
Sobral Usada para substituir o comércio de algodão no final do século XIX, a cera da carnaúba permanece até hoje entre os produtos mais exportados do Ceará, segundo o historiador Osvaldo Aguiar. O início de seu apogeu foi na década de 1920, com a descoberta de outras utilidades para a cera, e seguiu até o começo da década de 1950. Conforme Osvaldo, a carnaubeira pode ser aproveitada integralmente, o que foi feito durante muitos anos. Ele aponta que, além da extração do pó para a cera, a fibra extraída da folha serve para produzir tarrafas, escovas, cordas, chapéus, bolsas, esteiras, dentre outros produtos.
A palha da carnaubeira é utilizada para a cobertura de casas e de solos agrícolas. No Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, a planta gera emprego e renda para os trabalhadores rurais de julho a dezembro
Já a casca serve como lenha; a palha é utilizada para a cobertura de casas e de solos agrícolas; os cachos dos frutos, colhidos maduros e submetidos à secagem, são usados para a extração de óleo comestível e para a alimentação do gado; e o tronco, com duração indefinida, serve para fazer ripas e caibros usados em construções.
Ele explica que, por ser uma planta nativa, a carnaúba não necessita de adubação, agrotóxicos, ou mecanização agrícola. "Ela é representativa para o Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. E gera emprego e renda para os trabalhadores rurais de julho a dezembro, justamente os meses sem atividade na agricultura familiar em toda a região", explica.
Apogeu
Durante seu apogeu, Osvaldo explica que a produção de pó e cera era visto como uma renda extra pelas famílias mais abastadas. "Fora a agricultura de subsistência, a produção de cera servia como uma poupança da família, uma renda segura. Como a produção de café era para pagar os estudos de um filho em Fortaleza, por exemplo, a produção da carnaúba também seria utilizada dessa forma", diz. Osvaldo atenta para a primeira grande utilização da carnaúba na indústria, que foi para a fabricação de velas. A prática durou quase todo o século XIX, beneficiando, principalmente, famílias da região do Baixo Jaguaribe no Estado do Ceará.
"A produção era, e ainda é, restrita ao Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, onde são plantas nativas. No Ceará, ela nasceu no Baixo Jaguaribe, se espalhando por outros Municípios, podendo ser destacada a região de todo o Vale do Acaraú e Coreaú".
Entretanto, foi apenas a partir de 1920 que a carnaúba começou a crescer dentro do cenário moderno, sendo utilizada no polimento de assoalhos, além de matéria-prima para fabricar papel-carbono, graxa para sapatos e discos de vinil.
O professor lembra que, após 1950, a oferta já não conseguia suprir o consumo, fazendo com que a cera fosse sendo substituída por derivados do petróleo, que eram também mais baratos. "Mesmo assim, ela nunca deixou de ser utilizada, sendo considerada um artigo de luxo, e com aplicações que não podem ser substituídas por produtos inflamáveis, como em microchips, onde atuam como isolantes térmicos. Hoje, a carnaúba é utilizada em mais de 60 produtos, desde eletrônicos a cosméticos.
Investimento
Osvaldo conta que, no ano de 1935, o empresário norte-americano Hebert Jonhson, por meio de um avião-anfíbio batizado de Spirit of Carnaúba da cidade americana de Racine, foi até Fortaleza, onde pousou à beira-mar, próximo à Barra do Ceará.
A empresa Jonhson de assoalhos já usava em pequena escala a cera na linha de produtos para polimento, e o proprietário decidiu visitar o País para conhecer profundamente o produto. Dois anos depois, foi inaugurada uma fábrica de processamento de carnaúba em Fortaleza.
No ano seguinte, a companhia começou uma plantação na região do Maracanaú, doada em 1998 pelo filho do empresário para a Universidade Federal do Ceará (UFC). A universidade, então, instalou um centro de estudos no local, que tem uma área de 4.750 hectares de caatinga. A organização não-governamental Associação Caatinga, entidade voltada à recuperação e conservação desse ecossistema, também realiza um trabalho de preservação no local.
A carnaúba é a única palmeira de sua tipologia nativa do Ceará. Diferentemente de um ipê roxo e um ipê amarelo, que sem a florada não poderá ser identificada, não existe uma planta semelhante a ela na flora nativa, de acordo com o biólogo Francisco Eli Araujo Briseno Vieira, do Instituto Carnaúba.
Com as adaptações devido o clima, suas folhas são espinhentas e caule esbranquiçado. "A carnaúba nunca pode perder todas as suas folhas, pois morreria. Para poder ficar exposta ao sol, ela desenvolveu uma cera que impermeabiliza a folha, fazendo com que ela não perca liquido para o ambiente", explica Eli Araujo Vieira.
Matéria-prima usada para fabricar chapéus
Em Sobral, existem pelo menos três fábricas de chapéus feitos com a palha da carnaúba. Na atividade, os agricultores usam o acessório para se protegerem do sol forte. O extrator deve possuir habilidade e conhecimento para retirar a folhagem
Sendo encontrada, principalmente, no Distrito de Patriarca, a cultura da Carnaúba ainda é presente em diversos setores da sociedade local. De acordo com dados do Instituto Carnaúba, existem pelo menos três fábricas de chapéus feitos com a palha da carnaúba em Sobral, além de plantações à margem do Rio Acaraú.
Conforme um dos diretores do instituto, Expedito Torres, hoje há uma grande exploração da carnaúba para a extração de cera, sendo utilizada uma máquina que tritura a palha, transformando-a em adubo e dificultando o acesso por parte de alguns artesãos. "Como o olho, que é aquela folha verdinha que eles colhem, é mais lucrativo se não for moído. Às vezes, só resta ele para que os artesãos adquiram o que torna o produto mais caro".
Segundo o biólogo Francisco Eli Araújo Briseno Vieira, a extração dos "olhos", ou seja, a folha mais nova da carnaúba, nunca pode ser total. "Numa árvore que tem em média de seis a oito olhos, sempre devem ser deixados três ou quatro, para que, dessa forma, a árvore não morra", explica. É do olho que é retirado o pó branco, que faz a cera mais clara", afirma.
Além disso, ele chama a atenção dos profissionais que realizam o corte da palha. Para o biólogo, o extrator ou vareiro, como é mais chamado, deve possuir habilidade e conhecimento a fim de que não corte a gema apical da planta, causando também a sua morte.
Ele fala também que, durante as ultimas décadas, o cultivo de carnaúba foi deixado de lado pelas famílias tradicionais, sendo que os carnaubais ainda presentes na região Norte do Estado hoje são explorados por rendeiros, que arrendam a terra para extrair a folha de carnaúba.
Referência
O historiador Osvaldo Aguiar diz que uma das famílias que se destacou com a produção de cera de carnaúba na região foi a Menezes, que possui uma fábrica. Até hoje, explica, o Distrito de Patriarca pode ser apontado como referência na produção de carnaúba, da cera e de artesanato baseado na palha. "Há uma comunidade que sobrevive principalmente da carnaubeira, fazendo bolsas, chapéus ou trabalhando na extração", fala.
Outro problema observado pelo historiador que contribui para a decadência do ciclo da carnaúba foi a chegada da planta ornamental nativa de Madagascar, conhecida como Boca de Leão, uma trepadeira que vem criando sérios prejuízos ao desenvolvimento da carnaúba e produção de cera. "Como hoje os carnaubais acabam indo para os rendeiros, alguns não possuem o cuidado de extrair essa trepadeira, que pode levar a carnaúba à morte. Os donos dos carnaubais, em que grande parte perdeu a tradição, não conhecem os perigos e prejuízos que essa planta causa", alerta.
Manuseio
"Os que retiram sua sobrevivência da carnaúba devem estar atentos as formas de manuseio corretas, já que como arvore nativa da região não há conflito dela com outras plantas ou mesmo animais", finaliza.
Para mudar esse quadro, o Instituto da Carnaúba realiza um trabalho de conscientização junto aos produtores e extratores, mostrando a eles as vantagens do manuseio correto da carnaubeira. Eles informam que o plantio é simples e pode ser feito em comunhão com outras plantas, como feijão e mandioca.
Segundo a diretoria do Instituto, há hoje uma linha de credito para os produtores, além de estarem previstos periódicos sobre a fauna e flora local, não apenas da carnaúba, com o objetivo de informar a comunidade acadêmica e também incentivar a prática na região.
Mais informações
Instituto Carnaúba
Rua Dr. João do Monte, 917
Centro - Sobral
CEP: 62.010-220
Fone/Fax: (88) 3611.8124
JÉSSYCA RODRIGUESCOLABORADORA .
fonte:DN Oline/camocim belo mar blog
Nenhum comentário:
Postar um comentário