Pesquisadores foram morar em Cananéia para estudar o boto-cinza.
Argentinos sairam do país para preservar o ecossistema brasileiro.
Grupo de pesquisadores desenvolvem diversas atividades em Cananéia, SP (Foto: Mariane Rossi/G1)
Movidos a paixão pelo ambiente marinho e pelo boto cinza, 17
pesquisadores deixaram suas famílias em outro estado ou país e foram
para Cananéia, no litoral sul de São Paulo, se dedicar ao estudo e a
preservação do Lagamar, um dos estuários mais produtivos e menos
degradados do mundo.Daiana Proença Bezerra, de 26 anos, saiu de Itapetininga aos 18. Desde então, não voltou mais a morar na sua cidade natal. Hoje, Daiana é bióloga e coordenadora de educação ambiental do Projeto Boto Cinza. Ela chegou em Cananéia ainda como universitária em busca de outro animal marinho. “Eu queria trabalhar com as tartarugas e, aqui na região, tem a passagem das cinco espécies”, conta ela. Há 4 anos Daiana trabalha no Instituto de Pesquisas de Cananéia. Ela finalizou seu estudo sobre as tartarugas e também está fazendo Mestrado em Ecologia e Conservação, em Curitiba. “Só a graduação é muito pouco. Temos que buscar outras coisas para acrescentar na nossa vida acadêmica”, disse ela, que tenta, pelo menos uma vez por mês, visitar os pais na cidade o interior de São Paulo.
Daiana saiu de Itapetininga, SP, para participar do
projeto em Cananeia (Foto: Mariane Rossi/G1)
Assim como Daiana, muitos integrantes do projeto moram juntos como uma
forma de superar as dificuldades e economizar dinheiro. Esse é o caso da
recifense Rebeca Pires Wanderley, de 27 anos, que mora com mais dois
biólogos. Rebeca garante que está acostumada com mudanças em sua vida.
Aos 6 anos de idade ela saiu da capital de Pernambuco por conta do
trabalho do pai, indo morar em Manaus. Aos 15, foi parar em Curitiba.
Alguns anos depois, porém, em uma universidade do Paraná, começou a
realizar seu desejo de trabalhar com os animais. Pouco tempo depois,
conheceu Cananéia. “Eu já queria trabalhar com os golfinhos desde o
começo da faculdade. Vim em 2005 para fazer um estágio. Fiquei um mês.
Acabei vindo sempre, participando de cursos e fiz meu TCC aqui”, conta
ela, que fez um estudo sobre a bioacústica do boto-cinza e agora faz
mestrado no Paraná.projeto em Cananeia (Foto: Mariane Rossi/G1)
Os pais de Rebeca retornaram para Recife assim que a jovem mudou-se para Cananéia. Ela diz que ficar longe da família é bem difícil e que tem que viver com a saudade, já que consegue visitá-los apenas uma ou duas vezes por ano. “Eles foram se acostumando com o estágio. Não foi fácil, mas eles entenderam que essa é a minha profissão”, diz. Ela está há um ano e meio no litoral sul do Estado de São Paulo e diz que como já morou em diversas regiões do país, aprendeu a se adaptar a particularidades regionais que existem no Brasil. “É muito diferente em cada lugar que eu fui. Não existe o certo ou o errado. Você tem que abrir a sua mente”, fala.
Estrangeiros
Entre os pesquisadores também há estrangeiros que se encantaram pelo universo marinho presente na região de Cananéia. Daniel Esteban Gómez e Julieta Sánchez Desvaux, ambos da Argentina, moram há quase três anos na cidade litorânea. Já as portuguesas Sara Joana Pereira Pedro e Inês Ferreira Guedes estão há 8 meses no Brasil.
O casal Julieta e Daniel se conheceu no curso de Ciências Biológicas da Universidad Nacional del Nordeste, na Província de Corrientes, na Argentina. A vontade de Julieta de conhecer melhor os golfinhos trouxe os dois para Cananéia, há quase três anos. “Desde que estava cursando o ensino médio, eu gostava dos cetáceos (golfinhos e baleias). Tinha decidido estudar esses animais. Comecei a procurar um instituto onde sejam realizados estudos sobre cetáceos e foi assim que contatei a Dra. Gislaine Filla, que me encaminhou ao Projeto Resgate do Instituto de Pesquisas Cananéia para fazer inicialmente um estágio, por um período de dois meses”, conta. Segundo ela, a experiência foi maravilhosa e, por isso, decidiu voltar para a cidade e fazer parte da equipe de pesquisadores do instituto.
Pesquisadora desenvolve atividade de educação
ambiental com crianças (Foto: Mariane Rossi/G1)
Já para Daniel, a oportunidade foi irrecusável. “Para os biólogos, o
Brasil é a maior expressão de biodiversidade. Fiquei muito interessado
em incrementar meus conhecimentos sobre os animais estuarinos e
marinhos, que a gente só conhecia na teoria, por meio dos livros na
faculdade”, conta ele.ambiental com crianças (Foto: Mariane Rossi/G1)
Julieta faz pesquisas sobre a mortalidade do boto cinza relacionada com as atividades pesqueiras na região, e desenvolve estudos de mortalidade em outra espécie de golfinho, a toninha. Já Daniel estuda a dieta do boto-cinza e das aves marinhas, registrando a ocorrência de animais marinhos encalhados.
Longe do país de origem e de toda a cultura, eles procuram driblar a saudade da família e da terra. Para isso, o casal mantêm contato com os familiares pela internet e pelo telefone. “A minha família está feliz de me ver realizando os meus sonhos profissionais e pessoais”, diz Julieta. Daniel também fala que a distância atrapalha, mas o casal encontrou uma nova forma de conviver com essa carência familiar. “A chegada da minha primeira filha, Valentina, mudou minha vida e trouxe para nós uma felicidade enorme que encurtou essa distância”, afirma.
Julieta fala que o projeto é feito com pessoas dispostas e dedicadas a pesquisar, aprender e transmitir os conhecimentos gerados no dia a dia sobre o boto-cinza. Para Daniel, todo o trabalho de pesquisa e conscientização irá refletir no futuro da filha. "Lutamos por uma causa comum, que é a conservação do Boto-cinza e, assim, procuraramos que as gerações futuras possam conhecê-lo ao vivo, e não por imagens do passado”, diz ele.fonte:G1 SP/camocim belo mar blog
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