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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

ENTRE A ARTE DE FAZER TUDO E O GLAMOUR DA CONTEMPORANEIDADE.



Como um maestro, autor conduz as entrevistas de 11 nomes que fazem parte da história da curadoria mundial

A curadoria e a arte contemporânea podem ser consideradas como irmãs siamesas. Ambas nascem no século XX, sendo a curadoria, pelo menos como se apresenta na contemporaneidade, o resultado de uma especialização do mercado de arte.

Ênfase na obra de Duchamp: o "pai dos ready made", odiava obras originais com preços competitivos, como ressalta o curador Hultén

Uma trajetória recente, porém, fascinante. É assim que a curadoria constrói sua história, conforme impressões de um dos mais festejados curadores, o suíço Hans Ulrich Obrist, no livro "Uma breve história da curadoria" (297 páginas, tradução de Ana Resende, Bei Comunicação).

Em texto claro, informativo, o autor demonstra sua admiração aos "mestres", como a alemã Anne d´Harnoncourt; o norte-americano Walter Hopps; o sueco Pontus Hultén; e o suíço Harald Szeemann, entre outros pioneiros da curadoria mundial. Assim, realiza um verdadeiro passeio pela história dessa atividade.

O papel do curador nem sempre foi bem definido. Segundo aqueles que deram os primeiros passos abrindo caminhos e veredas para sua concretização, a atividade exigia flexibilidade, como ressaltava o suíço Harald Szeemann (1933-2005), um dos primeiros a se autodenominar "organizador de exposições", como declarou no fim dos anos 1960.

Através das bem-traçadas linhas de Hans Obrist, o leitor percebe que a curadoria aparece no bojo de outras profissões relacionadas à arte: crítico de arte, negociante ou diretor de museu. É nesse contexto que o tema é analisado.

Hans Obrist passa em revista a curadoria, atividade que, até hoje, é pouco compreendida pela maior parte da população. Muitas vezes, as pessoas questionam sobre qual é realmente o papel do curador.

Muitos artistas viraram curadores e vice-versa. Porém, num ponto a atividade converge: a relação que os profissionais devem ter com a arte. Organizar ou fazer a curadoria de uma exposição é uma tarefa para poucos, uma vez que pede "olhar a arte e pensar sua relação com o mundo".

Não se trata apenas de dispor obras, mas passa pelo cuidado com a iluminação, envolvendo até a colocação do pregos nas paredes. Além da confecção de catálogos, montagem e, o que é mais importante, fazer com que as obras dialoguem com o público em museus, galerias e até ao ar livre.

Com desenvoltura, Hans Obrist constrói sua narrativa, a partir de 11 entrevistas, em estilo ping-pong realizadas pessoalmente ou por telefone, como a última, com a crítica de arte, teórica feminista e apaixonada por arte, a norte-americana, Lucy Lippard.

O Brasil foi também contemplado, com a entrevista de um dos ícones da curadoria do País, o historiador e crítico de arte, Walter Zanini, morto em janeiro desse ano, aos 87 anos, em São Paulo.

Memória

Mais do que falar sobre a história da curadoria, o autor, de maneira despretensiosa passa a fazê-la também, uma vez que seus registros extrapolam o objeto de estudo. Dessa maneira, acaba falando sobre a história da arte do período, em especial o das vanguardas artísticas, com ênfase na obra de Marchel Duchamp.

O "pai dos ready made", "odiava obras originais com preços competitivos", como ressalta o curador Hultén. Por motivos óbvios, Duchamp não agradava a muitos galeristas, que queriam que sua obra continuasse desconhecida.

A curadoria tem uma estreita relação com a arte contemporânea
Nessia Leonzini

Curadora e escritora

Quais as perspectivas da curadoria na atualidade?

O curador é, muitas vezes, a estrela da exposição, com um trabalho que vai bem além da curadoria. Ele levanta fundos para a exposição, tem uma vida social intensa, onde vai armando redes de conexões com colecionadores, diretores de museus, organiza a produção e desenha a mostra.

Como são as mostras , hoje?

As mostras internacionais ficaram enormes e creio que os curadores agora vão restringir o tamanho das exposições para uma escala menor, mais íntima, mais normal. Acabei de visitar a Carnegie International, a maior mostra internacional americana, em Pittbsurgh (no Carnegie Museum of Art). A exposição deixa bem claro que o seu foco está no prazer de desfrutar a arte, na reflexão que ela provoca, nas questões que ela levanta. E não no "show-off".

Qual o papel do curador? Por que preferem ser chamados de "organizadores"?

A palavra "curador" se tornou um pouco pedante. Quando me perguntam o que faço, digo "organizo exposições", ou, escrevo sobre arte. Hoje em dia, a palavra soa arrogante, não me pergunte o porquê. Mas é assim. Uma questão semântica também, mas vai além.

A paixão pela arte ainda continua sendo essencial à profissão?

Claro que continua! Muitos dos grandes curadores de hoje não têm formação acadêmica. Okwui Enwezor, o curador da Documenta 11, e, atualmente, da Haus der Kunst, em Munique, é um deles. Uns começaram como artistas, outros encontraram a profissão justamente pelo amor à arte. Um grande curador brasileiro Oswaldo Correia da Costa veio do colecionismo e da área financeira. Paulo Herkenhorff foi artista antes de se tornar curador.

Qual a relação da curadoria com a arte contemporânea?

É uma relação bem estreita. Muitas galerias comerciais chamam curadores para conceituar suas exposições. Na verdade, são os curadores que batem perna e descobrem artistas novos. Alguns galeristas claro, também, fazem isso, mas os galeristas sabem ouvir e estão sempre buscando novos caminhos e conversam com os curadores.

IRACEMA SALES
REPÓRTER
 

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