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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

IMAGEM DE SÃO FRANCISCO ARRASTA MULTIDÃO EM CANINDÉ-CE E CODÓ-MA.

Fiéis e organizadores do evento consideram a caminhada do último sábado a maior procissão católica do MA

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Os fiéis disputaram para ficar ao lado da imagem do Santo que foi a Codó
FOTO: ANTONIO CARLOS ALVES
Canindé (CE) / Codó (MA) Choro, fé, aclamação e devoção foram os sentimentos que moveram mais de 30 mil peregrinos vindos dos mais diversos pontos de cidades dos Estados do Maranhão, Piauí, Pará e Ceará na procissão da imagem peregrina de São Francisco das Chagas de Canindé pelas ruas de Codó, no Maranhão, no último sábado. A imagem saiu, pela primeira vez na sua história, para outro centro de peregrinação, desde sua chegada a Canindé em 1775.
A berlinda chegou ao Aeroporto Magalhães de Almeida, em Codó, às 18 horas, após 13 horas de viagem por terra, e foi recepcionada por autoridades religiosas e políticas de quatro Estados, depois de participar de uma carreata de 17 quilômetros, da entrada do município maranhense até o local da celebração da missa presidida pelo pároco e reitor do Santuário de Canindé. O ato religioso contou com a presença de mais seis padres e o guardião do Convento de Santo Antônio do Brasil, em Canindé, frei Jean de Sousa.
Durante o trajeto de 5,6 quilômetros percorridos a pé pelos devotos, a imagem peregrina de São Francisco das Chagas, que depois de 256 anos deixou Canindé para uma visita religiosa, recebeu homenagens de católicos que transformaram as ruas de Codó em um verdadeiro mar de gente, com fiéis rezando e cantando, com velas acesas dentro de pratos, em folhas de papelão ou na própria mão.

A concorrência foi grande. Muitos se apertavam e procuravam sempre um jeitinho de chegar perto do santo, de tocar ou levar ao menos por alguns instantes o andor de São Francisco, que estava protegido por um vidro transparente. Foi assim que, durante todo trajeto, os romeiros iniciaram o ritual de levar a imagem ao local onde foi venerada e festejada. Os que não se arriscaram a enfrentar a multidão que se comprimia em volta do defensor dos pobres, dos animais e da natureza, percorreu com fé a caminhada, acompanhando, contritos e piedosos, a procissão. Não faltaram cantos, louvores e orações que animaram e manifestaram a confiança e esperança no santo.
Os romeiros agradeceram às graças alcançadas e pediram a intercessão ao santo em causas consideradas impossíveis. Quem tocou na imagem não se conteve. Foi as lágrimas.
Promessa
A devota Benedita Alves dos Santos, de 90 anos, nascida em Codó, era uma das romeiras que estavam numa das 14 carretas barradas na Ponta Nova, no bairro do Dirceu, zona Sudeste de Teresina, que liga o município de Timon, no Maranhão, ao Piauí. Ela participou da caminhada vestida de marrom, imitando São Francisco, pagando uma promessa de seu neto que enfrentou sérios problemas de saúde.
"Meu neto tem 10 anos. Aos quatro, teve como diagnóstico sopro cardíaco. O médico disse que ele precisava fazer uma cirurgia para colocar uma prótese, pois a válvula dele era deformada. Quando saí do hospital, fiz um pedido a São Francisco de Canindé, uma promessa para que ele intercedesse. Pedi para que tudo fosse bem ou até mesmo, pela minha fé, para que ele ficasse curado e não fosse preciso fazer a cirurgia. 'Hoje, ele completou seis anos e está curado. Não veio para essa festa porque se encontra com a mãe na cidade de Sousa, na Paraíba", contou emocionada e os olhos cheios de lágrimas, a idosa que ainda trabalha na roça na produção de mandioca.
Há 17 anos, o pedreiro João Marques de Oliveira, de 56 anos, ia a Canindé. Neste ano, ficou pelo caminho por conta da volta das carretas para Codó. O que seria um sacrifício, é considerado uma honra para João. "Por causa de uma graça alcançada, que eu não posso contar, quero acompanhar São Francisco o resto da minha vida. Essa é uma maneira de estar perto dele, e hoje, estou emocionado, porque ele veio me visitar", afirma.
Maior
Quem veio de outros Estados ficou impressionado com a grandiosidade da festa religiosa, declarada histórica para o povo nordestino e considerada a maior procissão católica da história do Maranhão.
A médica Solange Souto, 45 anos, mora em São Paulo, mas é maranhense. Ela acompanhou a procissão com pés descalços, agradecendo a São Francisco de Canindé por ter encontrado emprego na capital paulistana. "Moro há muito tempo fora. Fiz questão de vir para a festa, porque só ouvia falar pela imprensa. Agora, enquanto vida tiver, vou ao Ceará, a Canindé reverenciar esse santinho pequeno no seu tamanho, mas grande nos seus milagres", disse com o semblante cansado. A imagem mede 62 centímetros e mais oito de pedestal.
A primeira procissão de São Francisco fora de solo canindeense vai ficar marcada na mente de quem participou do ato. "Isso é um presente divino. Poder estar aqui de coração aberto ao lado dos maranhenses e ver de perto a força que tem São Francisco para o mundo", comentou, indo às lágrimas o prefeito de Codó. Zito Rolim, que levou o andor ao lado do prefeito de Canindé, Celso Crisóstomo, pelas avenidas Santos Dumont, Augusto Teixeira, 1º de Maio e Rua Pernambuco até o local da missa campal.
Frei João Amilton disse que a decisão de levar São Francisco para o Maranhão partiu da sensibilidade dos franciscanos, pois a decisão de não deixar os romeiros chegar até Canindé para ver São Francisco deixou a Província Franciscana de Santo Antonio do Brasil triste. "Fizemos a nossa parte e o povo jamais irá esquecer essa decisão. Se os romeiros não puderam visitar São Francisco, São Francisco, foi visitar os romeiros".
Renovação
Padre Francineulton dos Santos, da paróquia de São Francisco em Codó, disse ser "algo ímpar, o encontro de Francisco com os fiéis. É a renovação da fé dos romeiros na sua própria terra natal". Para o prefeito de Canindé, Celso Crisóstomo, foi um dia histórico, emocionante. "Canindé foi às origens das romarias no Nordeste". No encerramento, frei Amilton dos Santos lembrou que o Maranhão é o Estado brasileiro que mais manda romeiro para Canindé. Depois vem o Piauí, seguido do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Sergipe e a Paraíba.
Antonio Carlos Alves
Colaborador
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