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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

BRASIL AFORA: SANTA CRUZ DO CEARÁ CONCORRE A 'PIOR TIM DO MUNDO'.


Equipe disputou o Estadual feminino e teve média de quase oito gols sofridos por partida. Único gol marcado foi da capitã, ex-esposa do técnico


Talvez esse seja o único time que entra em campo sem querer uma vitória. Com certeza, é o único que sai de campo sem se abater com uma derrota. A meta do Santa Cruz, equipe que disputa o Campeonato Cearense Feminino, é perder com a menor quantidade de gols sofridos.
As meninas perderam todos os oito jogos que disputaram e tomaram 62 gols. Uma média de 7,75 por partida. Para se ter uma ideia, o Íbis - dono da alcunha de 'pior time do mundo' - tinha média de 4,2 gols/jogo (231 gols em 55 jogos). Já a do Maga E.C., que seria o sucessor do Íbis, era de 4,7 gols/jogo (94 gols em 20 jogos).
Time é composto por 23 jogadoras. No dia da foto, apenas 13 puderam comparecer (Foto: Rafael Luis/Verminosos por futebol)Time é composto por 23 jogadoras. No dia da foto, apenas 13 puderam comparecer (Foto: Rafael Luis/Verminosos por futebol)
O presidente do Santa Cruz, Joaquim Martins, conhecido como Urol, não acha justo que seu clube seja o novo dono do título de 'pior do mundo', mas leva a candidatura na brincadeira.
- Acho errado, porque o time masculino já foi campeão cearense (juvenil, em 1996). Mas a brincadeira não dói em mim, só faço achar graça e 'mangar' de quem fala isso. Faço um negócio para ajudar a garotada e fico satisfeito. O divertimento delas é estudar e jogar - disse o presidente.
A equipe masculina joga apenas competições da base, com garotos de 13 a 20 anos, e, segundo Urol, já tem longa estrada. Desse jeito, ele diz que já colocou mais de 100 meninos para jogar bola profissionalmente, até mesmo fora do país.
Eu era muito danado e gastava dinheiro com cachaça demais. Agora prefiro gastar no futebol, que é muito melhor. E conviver com mulher é melhor ainda"
Urol, presidente do clube
- É uma mentira que virou verdade, porque (o time) foi criado em 1º de abril de 1978. Mas, na Federação (Cearense), nascemos em 1982.
O time feminino foi criado este ano e é composto por 23 meninas. Nunca, entretanto, mais de 15 foram aos jogos. Ninguém recebe salário, e o trabalho, aliado aos estudos, nem sempre permite a presença em campo. As que conseguem tempo para disputar os jogos ajudam o presidente nas despesas do time.
- Eu faço bingozinho e elas compram o cartão para me ajudar nas passagens delas - afirmou Urol.
- O carro já deu prego, o ônibus quebrou, não tinha jogadora. A gente sempre dá um jeito. Tinha jogo que iam só as 11, tinha dia que faltava uma, a gente arranja alguém, tudo na força de vontade mesmo - orgulhou-se a volante Graziela.
A Federação Cearense de Futebol (FCF) ajuda fornecendo material, e Urol se vira com os apoiadores para bancar transporte e alimentação para as jogadoras. Praticamente não existe lucro. Aposentado, aos 66 anos, o presidente tem o futebol como refúgio para evitar cair em outros vícios. Dependendo do local da partida, os gastos variam de R$ 150 a R$ 300.
- Eu era muito danado e gastava dinheiro com cachaça demais. Agora prefiro gastar no futebol, que é muito melhor. E conviver com mulher é melhor ainda. Eu não tenho prejuízo, e tanto faz perder como ganhar, sempre estou alegre. A única 'pisa' que não dói em ninguém é no futebol.
Volante Graziela conseguiu marcar o único gol do time (Foto: Rafael Luis/Verminosos por futebol)Volante Graziela conseguiu marcar o único gol do
time (Foto: Rafael Luis/Verminosos por futebol)
Artilheira solitária
Apesar dos 62 gols sofridos, o time se orgulha de ter marcado um gol no jogo contra a equipe de Paracuru. E Graziela Santos, de 19 anos, só conseguiu o feito após uma longa discussão com o técnico "Nego". Quase uma 'DR', para ser mais exato, já que ele também "acumulava" a função de marido da jogadora.
- Eu gosto de jogar na frente, mas ele (o técnico) sempre me colocava para jogar como volante, porque eu era forte e não sei o que mais. Quando foi nesse dia, disse que não queria jogar mais atrás. Se ele não me quisesse, que me tirasse, porque todo mundo jogava na posição que gostava, menos eu. Conversa vai, conversa vem, eu consegui ir para frente e marcar - disse Graziela.
A comemoração foi uma festa só, mas o desfecho da partida não seria diferente.
- Ficou todo mundo alegre, mas infelizmente a gente perdeu de 7 a 1. Fiquei como artilheira solitária - lembrou.
Nunca mais Graziela conseguiu jogar no ataque, coincidência ou não. E garante que não foi porque se separou do técnico, com quem inclusive teve uma filha, a pequena Ariane, de 2 anos.
Time avança ao ataque depois de seis jogos
Francisco Robério, o 'Nego', tem apenas 23 anos e se diz um técnico motivador. Não é para menos. Adepto ao esquema 4-4-2, diz que o forte da equipe - que veio toda do futsal - não é a habilidade com os pés, e sim outra coisa, talvez mais importante que isso.
- O melhor que elas têm é a vontade. Superaram todas as dificuldades para ir aos jogos com a vontade que têm para entrar em campo.
Equipe só conseguiu avançar ao ataque, nas últimas duas rodadas (Foto: Rafael Luis/Verminosos por futebol)Equipe só conseguiu avançar ao ataque nas
últimas duas rodadas do Campeonao Estadual
(Foto: Rafael Luis/Verminosos por futebol)
O gol de Graziela foi um achado. O time passou as seis partidas apenas se defendendo, sem sequer causar perigo ao adversário. De acordo com o treinador, a equipe só conseguiu avançar ao ataque nas últimas duas rodadas, e de forma tímida. Um alívio, em parte, para as goleiras Andréa e Pedrina. Uma é zagueira, e a outra, centroavante. Na falta de gente para vestir as luvas, elas revezam quebrando o galho.
Para 2013, todo mundo segue com a mesma animação, porém com outro objetivo. Perder de menos (4 a 0 e 5 a 0) nas últimas duas rodadas - no começo eram 11 x 0, 13 x 0 - foi um sinal. Um dia elas conseguem vencer. Um dia.
- Se Deus quiser! E eu vou jogar na frente - fez a ressalva Graziela.
- Para o ano, vai mudar. Pode não chegar na final, mas vai ganhar - prometeu o presidente.fonte:g1 ce/camocim belo mar blog

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