RECRUTAS RELATARAM ABUSOS APÓS MORTES
Terceiro/Divulgação |
---|
Aluna saiu da fila para ir ao banheiro e oficial puniu turma |
O recruta da Polícia Militar (PM) Paulo Aparecido Santos de Lima, morreu na última sexta-feira (22), dez dias após passar mal durante um treino na semana de adaptação do curso do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap). Alunos da 5ª Companhia Alfa denunciaram que um capitão e três tenentes obrigaram a turma a sentar no asfalto quente e jogaram água gelada e areia em alguns alunos.
Os relatos envolvendo excessos de oficiais, entretanto, não são novidade no Cfap: dois meses antes do treino que terminou com a morte do recruta, outro aluno denunciou, em documento arquivado na 3ª Companhia, a ordem de um oficial para que a turma ficasse sentada no asfalto quente como punição.
O relato faz parte de um documento de razões de defesa (DRD) produzido no dia 11 de setembro pelo recruta para justificar o fato de ter saído do treinamento para ir ao banheiro sem autorização. O aluno afirma que, após uma hora e meia de treinamento para a formatura do curso — que aconteceria na mesma semana — pediu para ir ao banheiro.
O oficial negou o pedido. Minutos depois, recruta saiu “desesperado” de forma. Quando voltou do banheiro, a turma recebeu, “como forma de punição, a determinação do oficial para se sentar no chão quente”. Ao todo, o pelotão de cem concludentes do curso ficou dez minutos sentado no pátio, “sob o intenso calor do sol da tarde”.
O aluno não relata se algum recruta precisou de atendimento médico. Já no dia 12 de novembro, 33 alunos foram atendidos, sendo que 18 tiveram queimaduras nas nádegas ou nas mãos. No fim do relato, o aluno protesta contra a prática: “Não faz parte do treinamento para a formatura de PMs, tampouco integra o rol das sanções previstas no Regimento a exigência de ‘sentar no chão quente’ ou ‘sentar no chão sob forte calor do sol’”.
Procurada, a PM não se posicionou sobre o caso nem informou se o treinamento será investigado. Em entrevista no dia 18 de novembro, quando foi diagnosticada a morte cerebral do recruta, o comandante do Cfap, coronel Nélio Monteiro, afirmou que não tinha conhecimentos de outros casos de excessos.
"Já formei mais de sete mil alunos do Cfap. Até hoje, nunca houve relatos de excessos. O dia 12 foi atípico", revelou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário