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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

RIO 2016 ESTÁ LONGE DA PREPARAÇÃO DE LONDRES, MAS GANHA DE ATENAS.

Fernando Duarte

Prefeitura
Vista aérea do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca
Os comunicados do Comitê Olímpico Internacional (COI) já não mais sinalizam pânico. Mas a um ano da Cerimônia de Abertura, o Rio ainda tem um longo caminho a percorrer na realização dos Jogos Olímpicos de 2016.
O próprio presidente da Autoridade Pública Olímpica (APO, órgão que organiza as obras), Marcelo Pedroso, admitiu, há duas semanas, durante os Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, que apenas cerca de 55% das obras para o evento estão concluídas.
Mas apesar de o COI estar mais tranquilo, o nível de preparação carioca certamente causa mais preocupação aos dirigentes do que no último ciclo olímpico.
Em julho de 2011, a última sede dos Jogos de 2012, Londres, tinha concluído 88% das obras, recebendo elogios do então líder do movimento olímpico, o belga Jacques Rogge.

Rio x Atenas

A situação do Rio, no entanto, ainda parece também distante do caso oposto. Atenas, a sede olímpica de 2004, causou grande tensão para os dirigentes do COI. Os atrasos foram tão dramáticos que, a apenas um mês do início dos Jogos, o Estádio Olímpico ainda passava por obras. O projeto grego entrou para a história como o maior exemplo negativo de organização.
Mas no ano passado, o Rio ameaçava desbancar a capital grega, quando atrasos nas obras forçaram o COI a criar uma força-tarefa para acelerar os trabalhos e motivaram uma polêmica declaração de um dos vice-presidentes da entidade, o australiano John Coates.
"É a pior preparação que já presenciei em 40 anos de experiência no esporte. A situação é crítica. Mais grave do que em Atenas", disse Coates, em abril do ano de 2014.
AP
Um ano antes da abertura dos Jogos de 2012, Londres já tinha as principais arenas concluídas
Desde então, a cidade conseguiu fazer progressos suficientes para que o tom mudasse. Durante uma reunião do COI em Kuala Lumpur na semana passada, o presidente da entidade, Thomas Bach, disse que o Rio "está se preparando bem", mas também alertou contra mais atrasos.
"Não há um simples segundo a perder. É bastante possível que na cerimônia de abertura nós tenhamos a chance de apertar a mão dos últimos operários terminando as obras, mas acho que todos nós ficaremos encantados com a hospitalidade e o entusiasmo dos brasileiros. Estamos confiantes que o Comitê Organizador entende os desafios que restam e que precisa trabalhar diariamente (para superá-los)", completou Bach.
Getty
Atenas, em 2004, sofreu atrasos seríssimos envolvendo mesmo seu estádio olímpico
Para o presidente da Autoridade Pública Olímpica, Marcelo Pedroso, o cumprimento - mesmo que entredentes - do COI é um endosso de que o Rio vive um momento positivo.
"Os projetos olímpicos de Rio e Londres são diferentes e os desafios de cada cidades são diferentes. Nós certamente não chegaremos a uma situação parecida com a de Atenas em termos de atrasos. É natural que um projeto desse porte passe por problemas".

Rio x Londres

Uma análise do projeto carioca e londrino, porém mostra diferenças significativas na preparação de algumas das chamadas "joias da coroa". O Centro Olímpico de Esportes Aquáticos, na Barra da Tijuca, onde serão realizadas as competições de natação e polo aquático, tem conclusão prevista apenas para o primeiro trimestre do ano que vem.
A instalação em Londres já estava praticamente concluída um ano antes dos Jogos de 2012 - e, na cerimônia de celebração de um ano, a piscina foi até usada em atividades promocionais.
O Estádio Olímpico João Havelange, que sediará as competições de atletismo e futebol, só deverá ficar pronto no segundo trimestre do ano que vem: inaugurado em junho de 2007, a arena teve que passar por reformas emergenciais em 2013, por causa de problemas estruturais na cobertura.
O equivalente em Londres estava concluído em março de 2011, ainda que a pista de atletismo só tenha sido instalada em outubro.
O Parque Olímpico de Londres estava praticamente concluído um ano antes dos Jogos, restando apenas o plantio de jardins e o erguimento das arenas temporárias - também estavam erguidas as instalações de mídia, em especial o Centro de Transmissões Internacionais (IBC), em inglês.
O parque já estava aberto para visitação pública em abril de 2012, dois meses antes da Cerimônia de Abertura.
No Rio, o Parque Olímpico tem apenas uma única estrutura em estado avançado de conclusão - a Arena Olímpica -, e ainda assim porque a instalação foi construída para os Jogos Pan-Americanos de 2007 e passa por adaptações.
E uma das sedes de competição, o Campo Olímpico de Golfe, tem uma competição teste marcada para novembro deste ano mas é praticamente certo de que ainda estará em obras nessa época.

'Desperdício'

BBC
Uma das estruturas mais populares da Londres, o Centro Aquático
Mas a diferença crucial entre as duas cidades está nas chamadas obras de mobilidade. Londres, além de se beneficiar de uma melhor estrutura de transportes, transformou Stratford, a região que concentrou as principais atividades dos Jogos de 2012, numa das áreas mais conectadas do país em termos de transporte público - e durante os jogos contou até com um serviço expresso ligando o centro de Londres ao bairro no leste da cidade.
No Rio, um recente levantamento (abril) mostrou que 89% das obras de mobilidade seguem em andamento. A mais importante delas, a Linha 4 do metrô, ligando a Zona Sul do Rio à Barra da Tijuca, só será aberta ao público em junho de 2016.
Mas o prefeito do Rio, Eduardo Paes, diz não haver "justiça" numa comparação entre as preparações londrinas e cariocas.
"Ninguém aqui está dizendo que o Rio será um lugar perfeito, mas não dá para vir aqui e comparar (a cidade) com Londres. É preciso comparar o Rio com o Rio. A cidade que foi escolhida para sediar as Olimpíadas há sete anos e a cidade que estaremos apresentando no ano que vem. E ela a será uma cidade muito mais integrada", afirmou o prefeito à BBC.
Prefeitura do Rio
O Centro Olímpico de Esportes Aquáticos tem conclusão prevista para o primeiro trimestre de 2016
Paes argumenta que o ritmo das obras ajuda a evitar custos extras. "Eu tenho até tentado atrasar a entrega de algumas obras porque, quando você termina a construção, você precisar pagar a manutenção. Mas o COI está vendo que as coisas seguem no ritmo. Acho um desperdício de dinheiro entregar o estádio um ano antes do prazo".
O prefeito e outras autoridades brasileiras já chamaram também a atenção para a diferença de custos: os Jogos do Rio têm orçamento de R$ 38,2 bilhões, menos que os mais de R$ 50 bilhões gastos em Londres (considerada a atual cotação do real para a libra).
"Só o Estádio Olímpico de Londres custou mais que o Parque Olímpico inteiro do Rio", acrescenta Paes.
PA
Outra joia do Parque Olímpico de Londres, o Velódromo ficou pronto antes 15 meses antes dos Jogos
Atenas também gastou o que em números de hoje superaria a casa de R$ 50 bilhões.
O Rio também enfrenta atrasos na reforma do Aeroporto Internacional Tom Jobim; a concessionária que opera o aeroporto corre contra o tempo para cumprir o prazo de entregar um conjunto de melhorias até abril do ano que vem.
Mesmo a atrasada Atenas concluiu a tempo suas mais importantes obras de mobilidade urbana, como o novo aeroporto para a Atenas e um novo sistema de metrô, além de novas estradas e melhorias na infraestrutura de telecomunicações.

Água suja

A principal crítica enfrentada pelo Rio agora é pela falha em despoluir a Baía de Guanabara, palco das competições de vela, uma das grandes promessas da campanha para sediar os jogos.
AFP
Eco-barcos estão sendo usados na limpeza da Baía de Guanabara
A cidade prometeu um programa ambicioso de limpeza de 80% das águas, mas o governo do Estado já admitiu que a meta não será cumprida. A poluição também preocupa os atletas que terão de navegar nas águas da baía.
Medidas paliativas, como o uso de redes de proteção e barcos coletores, foram postas em prática, mas sua eficácia será testada pelo evento de vela preparatório entre 15 e 22 de agosto.
Na semana passada, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu nota pedindo ao COI que faça testes mais extensivos nas águas da baía como forma de analisar riscos de doenças para competidores.

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