A ocorrência que terminou em tiroteio entre policiais federais e militares elucidou a cobrança de suborno
A Polícia Federal (PF) concluiu que integrantes da quadrilha de tráfico internacional de drogas desarticulada pela 'Operação Cardume', na última terça-feira, pagaram propina a quatro policias militares, para a liberação de um traficante, no bairro Jóquei Clube, no último dia 13 de maio. Conforme as apurações, o detento de um presídio cearense teria autorizado a liberação do dinheiro para o suborno. A ocorrência terminou em tiroteio entre policiais federais e militares.
De acordo com o titular da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Decor), Janderlyer de Lima, os suspeitos de tráfico que os policiais teriam tentado extorquir eram integrantes de uma organização criminosa, comandada por dois empresários, que importa drogas da Bolívia e do Paraguaia e movimentava cerca de R$ 6 milhões por mês. "As investigações deixam muito claro que os policiais estavam lá para receber propina. Foram indiciados pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e corrupção ativa. As complicações deles são muitas".
Os PMs indiciados são de uma composição da Força Tática de Apoio (FTA). O inquérito produzido pela PF diz que Elano Jamidean Morais de Oliveira, Sérgio Felipe Mesquita de Sousa, Gabriel Lucindo de Andrade e Sebastião Bosco de Freitas Júnior teriam avistado Teógenes de Sousa Calou tentando vender um quilo de cocaína a Rodrigo Oliveira Lima, em uma praça. A patrulha da PM teria feito a abordagem e exigido R$ 10 mil de cada um dos suspeitos para que fossem liberados. A ocorrência se deu por volta das 14 horas. O primeiro a pagar a propina e ser liberado foi Teógenes Calou, que seria um traficante conhecido da Capital, principalmente no bairro Parangaba.
Ele acabou preso novamente no dia 9 de junho de 2015, no Porto das Dunas, município de Aquiraz, com mais de 60Kg de droga importada da Bolívia.
O segundo suspeito não conseguiu de pronto a quantia exigida e a negociação com os policiais se estendeu. Por volta das 17 horas, três dos quatro militares foram ao quartel devolver viatura, porque o turno havia findado. O outro policial, identificado como Elano Oliveira embarcou no carro de Rodrigo Lima para esperar o dinheiro.
Segundo o inquérito policial, o Corsa Classic, de cor verde, placas NUP -7808, deu voltas suspeitas na região, até quando parou em um posto de gasolina e Lima desceu do automóvel para encontrar Roberto Fernandes da Silva, que o esperava na loja de conveniência para entregar uma quantia em dinheiro.
Conforme os autos, para levantar todo o dinheiro Rodrigo Lima teria telefonado para um investigado da 'Operação Cardume', que estava sendo custodiado em um presídio cearense. Francisco Eudes Martins da Costa teria atendido a ligação, que estava sendo interceptada pela PF com autorização da Justiça, e liberado o pagamento da propina. As interceptações permitiram que os agentes federais chegassem a tempo de realizar o flagrante. Segundo o delegado que presidiu o inquérito, a versão dos militares sobre os fatos não condizem com o que as provas colhidas apontam.
"O que os PMs diziam é que estavam fazendo a segurança do Rodrigo, que iria vender um carro e precisava de escolta para levar o dinheiro para casa. Mas a verdade é Rodrigo estava em um carro alugado, não era dele. O próprio aparelho de GPS da viatura foi analisado e mostra que eles não estavam fazendo escolta, estavam dando voltas por lugares ermos, inclusive", afirmou Janderlyer Lima.
'Kalleb não é bandido'
Durante a abordagem dos policiais federais ao PM que receberia a propina, o também militar Higor Kalleb Scarcella Pereira, que estava indo trabalhar no 5ºBPM (Centro), interveio e efetuou disparos acreditando que o companheiro de farda estava sendo assaltado.
O militar disse que viu o colega rendido por homens descaracterizados e tentou defendê-lo, por isto disparou. Os policiais federais revidaram e feriram o PM duas vezes no braço. O soldado se refugiou em uma faculdade particular nas proximidades e foi socorrido. Ele recebeu voz de prisão e, assim como os outros quatro PMs, foi autuado por tráfico. Sobre ele pesou ainda a responsabilidade pelo crime de tentativa de homicídio.
O fato motivou uma campanha de policiais militares e familiares de Kalleb. A hastag #kallebnãoébandido foi largamente disseminada nas redes sociais. Com o tempo, as investigações mostram que realmente Kalleb Pereira não tinha envolvimento com o tráfico de drogas, nem com a corrupção.
"Caíram as autuações por tráfico, associação para o tráfico e corrupção ativa. Ele estava passando por lá coincidentemente. Não sabia o que os outros colegas haviam feito. No entanto, atirou pelas costas dos policiais federais e entendemos que disparou para matar. Para nós, o que aconteceu foi uma tentativa de homicídio. O caso está sob análise do Ministério Público Federal", afirmou Janderlyer Lima.
O relações públicas da PM, tenente-coronel Jesus Andrade, disse que o Comando da Corporação ainda não recebeu nenhum comunicado sobre conclusões deste caso, neste caso os PMs investigados continuam em suas funções ostensivas. "Nosso interesse é que os bons policias sejam reconhecidos e os que agem de forma negativa punidos. Se eles cometeram um crime serão investigados e punidos sim".
Com informações do Diário do Nordeste
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