MÚSICA
F.dn
Fausto Nilo celebra seus 70 anos de vida, com lançamento do primeiro álbum de inéditas e show no Dragão do Mar nesta sexta (12)
No início da década de 1970, um grupo de jovens artistas frequentava as rodas de violões, realizadas no Diretório Acadêmico do curso de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC) e no Bar do Anísio, ambos localizados no bairro Benfica, em Fortaleza. Faziam parte da turma músicos como Raimundo Fagner, Belchior, Rodger Rogério, Augusto Pontes, Téti, Amelinha, Ricardo Bezerra e Petrúcio Maia. Anos mais tarde, eles gravariam seus nomes de vez na história da música brasileira, como a geração que ficou conhecida como "Pessoal do Ceará". Entre os talentos desta cena, também estava o jovem Fausto Nilo, que apesar de demonstrar grande entusiasmo ao cantar nos encontros informais e ser uma espécie de líder (ou um irmão mais velho) nos encontros, não possuía grandes ambições de uma carreira musical.
"Desde cedo, ficou muito claro quem eram os cantores naquele grupo. Eu gostava, e gosto, muito de cantar, mas não me via como um grande talento nesta área", conta Fausto Nilo, em tom modesto. Os fãs discordam, claro. Sua voz de "taboca rachada" (como ele próprio define), o levou para o lado da composição. É celebrando os seus 70 anos (completados em abril), 42 deles dedicados à música, que o cearense lança o seu mais novo disco - e o primeiro de inéditas -, "Palavras abandonadas", hoje, no Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, espaço que ele leva a sua assinatura como arquiteto.
Os ingressos para o show de lançamento serão distribuídos gratuitamente. Os lugares estão sujeitos à lotação do espaço. Hoje, a partir das 14 horas, os interessados poderão fazer a retirada de até dois ingressos por pessoa, na bilheteria do teatro do centro cultural.
Considerando-se um rapsodo, um declamador de poesias, Fausto Nilo afirma que sua veia de compositor é influenciada por sua forma de trabalhar, já que precisa sempre antes escutar uma melodia. "Um parceiro geralmente me manda uma melodia que tem gravada e eu faço com que ela fale", explica o compositor, que já botou muita melodia alheia nas paradas.
É fazendo cantar o som dos outros que o seu novo disco traz nomes ilustres. Estão presentes nele Moraes Moreira, Dominguinhos, Fagner, Geraldo Azevedo, Cristiano Pinho, Ritchie, Dustan Gallas (Cidadão Instigado) e Zeca Baleiro.
Protagonismo
Ao contrário dos discos anteriores, em que Fausto Nilo regrava suas canções que já haviam sido registradas por outros artistas, "Palavras Abandonadas" é o primeiro álbum em que ele grava uma coleção de músicas antes do que qualquer intérprete. "Os meus trabalhos anteriores eram mais um registro da versão do autor do que algo para competir com as gravações dos meus intérpretes. O trabalho deles é de uma qualidade sempre superior. Nesse sentido, eu sou o eterno parceiro", argumenta.
O título do disco faz alusão à composição homônima assinada por Fausto Nilo e Dominguinhos, falecido em julho de 2013. O músico-arquiteto afirma que as quatro composições feitas com o sanfoneiro, que integram o seu novo disco, fazem parte de um conjunto bem maior. "São cerca de 20 músicas que eu e ele compomos para lançar em um projeto especial. Vou guardar esse material para uma ocasião futura", diz.
Início
Acompanhando, incentivando e aconselhando os amigos, o então estudante de Arquitetura passou a ser procurado pelos artistas sempre que precisavam de uma análise de seus trabalhos. O cantor Fagner assume que Fausto Nilo foi uma das figuras essenciais para sua formação como músico. "O Fausto é o meu parceiro mais frequente e um grande amigo. A turma se reunia sempre para escutar música e o Fausto era meio que um líder nisso", revela o cantor.
Visitando frequentemente o apartamento do amigo cantor, que já tinha feito uma temporada de sucesso no Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro, o arquiteto foi convidado, durante uma conversa em Copacabana, a escrever a letra de uma música. Eis que nasce, em 1975, "Fim do Mundo", do disco "Cavalo Ferro", de Fagner, e o Fausto compositor.
"Foi um momento inesquecível: quando eu peguei o compacto pela primeira vez e vi meu nome nele", descreve Fausto. O convite de Fagner serviu como catalisador para o potencial musical do amigo, que também foi apresentado pelo cantor a nomes como Geraldo Azevedo, Moraes Moreira e João Donato. Após esse início de carreira meio acidental, o já arquiteto entrou em um processo ininterrupto até os dias de hoje. "Não teve um ano em que deixei de gravar ou ser gravado por algum artista", contabiliza com orgulho.
Parceria
Mesmo colecionando parcerias com nomes ilustres e talentos em ebulição, algumas interpretações de suas músicas causam ao compositor particular orgulho. Ele elege como principal a "Depois da Derradeira", música escrita em parceria com Dominguinhos e gravada na voz de Luiz Gonzaga, último registro de estúdio feito pelo rei do baião antes de morrer. "Quando ouvi a voz daquele homem, que eu passei a minha infância em Quixeramobim admirando, cantando a minha música, foi de lascar", define, em bom "cearês".
Outra parceira que ele fala satisfação é da música escrita com Chico Buarque, baseada em uma melodia de Fagner. "Imagina, você está em um domingo tomando cerveja depois do futebol com o Chico e ele de repente te convida para escrever uma letra", relembra.
Entre outras parcerias ilustres, Fausto Nilo elenca nomes como Ney Matogrosso, Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Simone, Moraes Moreira, Pepeu Gomes e Baby Consuelo. "Me sinto muito completo nisso (em parcerias), gravei com muitos artistas que admirava. Isso é muito mais do que eu esperava quando iniciei na carreira de compositor", avalia.
Ainda que os convites de amigos tenham sempre sido aceitos por Fausto, um ele recusou por ser "demais" para ele. O cearense produziu o disco "Romance Popular" de Nara Leão, que propôs que todas as músicas fossem de autoria do compositor. "Eu tive o juízo perfeito na hora para entender que aquilo era muito para aquele momento. Como éramos grandes amigos, recusei e apresentei outros parceiros que poderiam participar do álbum, como Robertinho de Recife e Geraldo Azevedo", rememora o setentão.
Disco
Palavras Abandonadas
Fausto Nilo
Pão e poesia
2014, 11 faixas
R$ 25
Pão e poesia
2014, 11 faixas
R$ 25
Mais informações:
Lançamento do disco "Palavras abandonadas", de Fausto Nilo, nesta sexta (12), no Teatro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema). Grátis. Contato: (85) 3488.8600
Leonardo Bezerra
Repórter
Repórter
https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2556864432713944326#editor/src=header
Nenhum comentário:
Postar um comentário