Fonte:DN
Muito além dos gastos públicos, os impactos do cancelamento do projeto ainda são difíceis de mensurar
Ter de morar em outro estado, longe da família, não impediu o montador de andaimes Gemilson de Sousa de participar da construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A vaga era promissora e os ganhos compensavam os sacrifícios. Natural do Maranhão, Sousa passou dois anos trabalhando para uma empresa que prestava serviço à Petrobras, entre 2010 e 2012, até mudar-se novamente.
O novo destino foi o Rio de Janeiro, onde passou a atuar na construção de outro empreendimento da estatal, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Nesse meio tempo, acompanhou as notícias relacionadas aos projetos das refinarias Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará. À época, as duas usinas aguardavam o início das obras, esbarrando em uma série de entraves que postergavam os planos daqueles que confiavam nas promessas de desenvolvimento e oportunidades.
Sonho mais distante
Apesar da perspectiva de voltar para o estado natal, trabalhando em uma das principais obras previstas para o Nordeste, os sucessivos atrasos para o início da construção da Premium I tornavam cada vez menor a esperança de atuar na usina. A aspiração tornou-se ainda mais distante, no ano passado, após o surgimento dos escândalos ligados à operação Lava Jato, da Polícia Federal, a qual revelou um esquema de lavagem e desvio de dinheiro a partir de contratos firmados com a companhia.
Há cerca de cinco meses, Sousa e outros colegas deixaram de receber salário. Percebendo que não adiantava continuar no Rio de Janeiro, voltou para o Nordeste, onde hoje divide um apartamento na comunidade de Bolso, na zona rural do distrito de Pecém, em São Gonçalo do Amarante.
"Ainda bem que eu vim. Tem gente lá (no Rio) que ainda tá acreditando que vai receber. A situação é complicada. Se você quiser colocar a empresa na Justiça, por exemplo, tem que estar lá no estado. Quer dizer, tudo é um custo", lamenta. Semanas após a chegada de Sousa no Ceará, a Petrobras anunciou, em meio aos escândalos recentes, o cancelamento do projeto das refinarias Premium, reduzindo a expectativa de encontrar uma vaga a curto prazo.
Rotina de esperas
Nos últimos dois meses, parte da rotina do montador de andaime tem se resumido a ir cedo da manhã à unidade do Sine no Pecém, receber uma senha e aguardar até o início da tarde para ser atendido. Nesse intervalo, divide a sala de espera com os mais de 200 trabalhadores que vão à unidade diariamente - alguns dos quais não conseguem uma senha, devido à demanda elevada.
Investimentos
Os impactos do cancelamento, entretanto, vão bem além do prédio sempre cheio do Sine. No centro do distrito, comerciantes lamentam investimentos feitos à espera das obras da refinaria, enquanto investidores contabilizam prejuízos com a desvalorização brusca de terrenos próximos à área - ainda hoje interditada - prevista para a usina. Mesmo aqueles que não chegaram a investir na região foram afetados pela interdição e consequente interrupção do transporte público.
Se a refinaria Premium II foi, durante décadas, "um sonho do povo cearense" - como o próprio Governo do Estado já se referiu ao empreendimento, em nota oficial -, o cancelamento do projeto traz a trabalhadores, comerciantes e investidores do Estado um questionamento cuja resposta não está inteiramente clara: Qual o custo do despertar?
João Moura
Repórter
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