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sábado, 1 de agosto de 2015

DESEMPREGADO,MÚSICO DE ARAXÁ USA TALENTO E CRIA INSTRUMENTOS COM LIXO.


Botijão de gás e canos de PVC se transformam em percussão.
Instrumentos se transformaram em fonte de renda para músico.

Do G1 Triângulo Mineiro

A crise financeira não foi um obstáculo para o músico de Araxá, Vitor Fagundes, de 30 anos, que conseguiu transformar o problema em fonte de renda. Desempregado, ele aproveitou a sabedoria somada a objetos descartados nos lixos e começou a criar instrumentos.
O botijão de gás de geladeira e o cano de PVC se transformaram, através das mãos de Vítor, em percussão e passou ajudar financeiramente. Segundo ele, o primeiro instrumento que confeccionou foi o hangdrum e para encontrar o som que ele queria, foram dois meses trabalhando com os cortes em um botijão.
O primeiro hangdrum confeccionado por Vitor foi em julho de 2013 e segundo ele foram muitos botijões até chegar ao som que ele realmente queria. “A princípio eu fiz os cortes parecido com o instrumento original, mas não fiquei satisfeito e fui tentando em outros até chegar no que eu queria, que era um som que fosse compatível com os acordes e que eu pudesse tocar com outros instrumentos. Pra isso, eu usei a afinadora do violão. Para afinar, tem que ter paciência", comentou.

O músico não pensa em um som apenas para ele e conta que o objetivo é fazer a pessoas entenderem o que estão escutando, mesmo sendo um instrumento diferente.
“Ele tem um som aveludado e é suave. São notas distantes uma da outra, você consegue fazer com que as pessoas consigam entender o que estão escutando. Quando ele é tocado sozinho você consegue definir nota por nota e passar uma sensação pra pessoa que está ouvindo”, explicou.
Vítor explicou que o botijão é de gás de ar condicionado e de geladeira. Ele ressaltou que é possível fabricar os instrumentos apenas com estes botijões, já que aquele usado na cozinha pode causar acidentes graves. Segundo Vitor, ele busca os materiais em lixos do Distrito Industrial e oficinas de geladeira. Para ajudar na fabricação, o músico contou que aproveitou a habilidade que tem como mecânico. "Como já trabalhei em oficina, sei usar algumas ferramentas", finalizou.
A ‘escavação’ do som é um processo que demanda tempo e encontra-lo é quase conquistar um território. “Quando eu acho o som que estava objetivado, quando chego o som perfeito que eu queria, a satisfação é enorme. Daí sim é hora de divulgar, porque vejo que tenho o domínio de encontrar”, afirmou.
O outro instrumento é conhecido como pau-de-chuva, é indígena e feito de bambu, palha, conchas e sementes. Também usado como percussão, ele produz um som que lembra água. Mas como Vitor não tinha conchinhas no interior mineiro, adaptou e também conseguiu chegar ao tom que queria. “A gente não tem esse material disponível aqui e surgiu a ideia de fazer com PVC, pregos para servir como obstáculo para o material que fica lá dentro caindo e caco de vidro e cascalho, que passa pelos pregos fazendo esse som que bate e fica parecendo com água”, comentou.
Vitor confecciona os instrumentos por encomenda, mas é preciso explicar qual som o cliente quer. E segundo ele, em um botijão, é possível chegar em cinco notas diferentes.
“Virou uma fonte de renda. As confecções são feitas por encomenda e por nota. O máximo de notas que eu faço por botijão é cinco. É preciso dizer também se quer uma melodia triste, alegre ou melancólica que muitas vezes acaba que saindo mais bonita”, contou.
Autodidata e professor
Fagundes aprendeu a tocar violão com o pai e depois, sozinho, buscou a sanfona e o teclado. Também vocalista, o músico lembra que o pai só queria que ele saísse das ruas. “Eu tinha uns 13 para 14 anos e meu pai, para me tirar da molecada e bagunça, começou a me ensinar violão e fui aprendendo. Nunca fiz aulas, fui autodidata. Afinal, naquela época tinha pouca informação, não tinha tanto acesso como hoje e uma revistinha de violão valia ouro”, brincou.
Foi quando ele encontrou na música uma paixão e ainda quis passar o que aprendeu para crianças carentes. Com o mesmo objetivo do pai, Vitor dá aula em uma instituição da cidade para adolescentes de até 17 anos e decidiu levar os instrumentos feitos por ele para que os alunos conhecessem.
“Levo os instrumentos e quando eles tentam, a sensação que temos é que é possível desenvolver muita coisa através daquilo que muita gente não aproveita. Eles ficam assustados, porque é exótico e pouca já gente viu. Mas, querem entender e muitas vezes não conseguem tirar o som, porque é preciso ter uma técnica, mas todo mundo pode aprender”, contou.

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