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sábado, 1 de agosto de 2015

PERDAS EM FEIRAS CHEGAM A 20%: SACOS DE LEGUMES,VERDURAS E FRUTAS NO LIXO NO RIO DE JANEIRO.

Maioria das frutas descartadas sofreu danos durante o transporte ou na forma como foi acondicionada nos caixotes

HILKA TELLES
Rio - O desperdício de alimentos também faz parte da rotina das feiras livres. Frutas e verduras, principalmente, compõem a maior parte do que vira lixo. “Jogo fora em torno de 20% do que compro, todos os dias. Uns 10% que não consigo vender eu dou para a moça que faz meu transporte. Ela leva para doar numa escola em Gardênia Azul”, diz um vendedor de laranjas e tangerinas que se identificou apenas como Cláudio, de 68 anos. Ele trabalha na feira da Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema.
Ao lado da barraca de Cláudio, havia um saco de lixo de 100 litros repleto de tangerinas. A maioria das frutas sofreu danos durante o transporte ou na forma como foi acondicionada nos caixotes, fazendo a casca se romper.
Na feira da Rua Alzira Brandão, na Tijuca, João Deodato prefere selecionar frutas e legumes consideradas ‘feios’ pelos consumidores para não ter que jogar fora alimentos
Foto:  João Laet / Agência O Dia
“Parte da mercadoria já chega com amassado. No decorrer do dia, os clientes vão apertando as mangas e depois os próximos não querem aquela, com marca de dedo”, explica Carlos Augusto Teixeira Ramos, de 52 anos, outro
Antônio Diraldo, de 25 anos, é paraguaio e chegou ao Brasil há dois meses. Há 15 dias veio para o Rio e está alojado no Vidigal. Por volta das 14h, ele percorria a feira em busca de frutas que seriam jogadas fora. Em poucos minutos ele encheu a caixa de papelão que carregava: eram mamões cortados (para enfeitar a barraca), bananas soltas do cacho e já com pintas pretas na casca, tangerinas,

"Sou vegetariano. Onde moro não tenho como cozinhar. Se não, levaria legumes também", afirmou paraguaio.
Em Ipanema, muitas pessoas chegam na hora da xepa para aproveitar alimentos que sobram
Foto:  João Laet / Agência O Dia
Na barraca do vendedor de laranjas e tangerinas Marcos Tostes, de 35 anos, montada na feira da Rua Alzira Brandão, na Tijuca, o motorista João Deodato Pereira Filho, de 68 anos, era uma exceção: foi enchendo o saco com laranjas, sem desprezar as que estavam com marcas na casca. E nem por isso pagou mais barato.
"É só uma pinta na casca. Quando você descasca, a laranja está perfeita por dentro. Isso é falta de conhecimento, de esclarecimento. Já vi gente estragando o tomate, de tanto apertar para ver se estava bom", criticou.
Enquanto João Deodato falava, bem ao lado estava a dona de casa Raquel Maria Gama, de 56 anos. A mulher pegou uma tangerina, viu que estava com uma pinta e depositou no lugar, escolhendo outra. Ela girava a tangerina para verificar se a casca estava toda por igual, sem qualquer mancha.
"Acho que essa marquinha pode fazer a tangerina estragar mais rapidamente", tentou argumentar.
Lições para evitar perda de alimentos
Referência em abastecimento na cidade desde a década de 60, o Cadeg, antigo Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara, é também exemplo quando se trata de evitar o desperdício de alimentos e reaproveitamento de
O DIA passou duas madrugadas no local, rebatizado como Mercado Municipal do Rio de Janeiro, mas para sempre Cadeg na memória afetiva da cidade. E constatou o oposto do que se passa no Ceasa. Organização, limpeza e pouco descarte. Uma prova disso é que não há xepa, por absoluta falta do que catar. Pelos corredores, é raro ver uma simples laranja no chão. O que é descartado está, na maioria das vezes, imprópria para o consumo.
“Há desperdício, mas muito pouco. A gente faz uma campanha de conscientização, não apenas em relação ao desperdício, como também limpeza. Há multa para quem larga alimento no chão, por exemplo”, explicou o diretor social André
Muitas frutas e legumes, mesmo ainda próprias para o consumo, são descartadas por feirantes
Foto:  João Laet / Agência O Dia
A administração do Cadeg ainda estuda a criação de um banco de alimentos, para doar parte do que é comercializado a comunidades carentes. O empecilho, segundo André Lobo, é a
“Se perguntar a qualquer comerciante aqui se ele topa doar alguma coisa, ninguém se opõe”, disse Lobo.
A preocupação no Cadeg vai além do não desperdício de alimentos. No início de junho, uma empresa de coleta e gerenciamento de resíduos iniciou os trabalhos nos fundos do mercado. Restos de frutas, verduras e legumes são transformados num composto orgânico, que é utilizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente em projetos de reflorestamento. O centro também faz reciclagem de papelão e separação de vidro, que vão para reciclagem.
Já o Sesc (Serviço Social do Comércio) mantém há 15 anos o programa Mesa Brasil, distribuindo alimentos a instituições de atendimento social, como creches, asilos, e orfanatos. Em 2014, apenas o Sesc-Rio doou mais de 1,5 milhão de toneladas de alimentos para 315 instituições cadastradas no programa. No ano passado, 71.854 pessoas foram beneficiadas pelo Mesa Brasil.
“Doamos para entidades que lidam com o chamado prato na mesa. Ou seja: oferecem refeições diárias. Nossa captação é feita diretamente junto aos produtores e empresas”, contou Cláudia Roseno, gerente do Mesa Brasil no Rio de Janeiro.

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